Além de base menor, Dilma deverá enfrentar Congresso rebelde
Apoio no Legislativo já foi menor do que nos anos Collor ou na crise do mensalão de Lula
Uma base nem tão aliada com um PMDB rebelde é o que espera a presidenta Dilma Rousseff pelos próximos quatro anos no Congresso Nacional. Numericamente, o governo petista ainda tem a maioria, mas bem menos do que tinha no início do primeiro mandato de Dilma. Quando assumiu seu primeiro mandato, em 2011, Dilma tinha o apoio de 372 dos 513 deputados federais e de 60 dos 81 senadores. Agora seus coligados conseguiram 336 cadeiras na Câmara e 51 no Senado.
Se já não bastasse a redução da quantidade de cadeiras, o PT agora deverá enfrentar uma oposição e uma situação mais combativa. Um estudo feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento mostra que o último ano do Governo de Dilma no Congresso foi o menos produtivo, em comparação com os demais presidentes desde a redemocratização no país. Até Fernando Collor de Mello, o presidente que foi tirado do poder pelo impeachment, e Luiz Inácio Lula da Silva, no meio da crise do mensalão, tiveram apoios mais amplos. No longínquo ano de 1991, quando Collor se deparou com uma crise que iniciou o processo de sua deposição, seus aliados apoiaram 58% de suas proposições. No caso de Lula, em 2006, o apoio foi de 61% das propostas. Dilma, em seus seis primeiros meses de 2014, emplacou 54,5% de seus projetos de lei.
Dilma, em seus seis primeiros meses de 2014, emplacou 54,5% de seus projetos de lei
O apoio à petista caiu ano a ano. Sua bancada aliada se reduziu, e o apoio que era representado pela aprovação de 75,4% dos projetos governistas em 2011, recuou para 64% nos dois anos seguintes. A falta de habilidade política, a ausência de diálogos com a sociedade civil e até mesmo com seus aliados, segundo analistas, influenciaram diretamente na redução gradual do suporte à presidenta. Sentindo essa perda da sustentação e temendo enfrentar mais dificuldades nos próximos quatro anos, em seu primeiro pronunciamento após ser reeleita, a presidenta disse que seu compromisso era com o diálogo. Prometeu que ouviria desde os movimentos sociais até os empresários e o mercado financeiro. A bolsa de valores não entendeu o recado e, na segunda-feira, despencou. Nesta terça, operava modestamente com alta de 2%.
As brigas entre Dilma e a oposição, que deverá ser liderada pelo PSDB do derrotado Aécio Neves, serão muito claras. Os tucanos e seus aliados tentarão fazer com que o Governo se enfraqueça reforçando as denúncias de corrupção, principalmente da Petrobras, e sugerindo propostas legislativas que são incômodas ao Planalto, como a redução da maioridade penal. Para isso, é necessário ter o aval de 3/5 dos votos na Câmara e no Senado. Isso quer dizer, o apoio de 307 deputados e 48 senadores. Teoricamente, os opositores não têm esse contingente (eles são 177 deputados e 29 senadores), no entanto, grande parte dos congressistas eleitos defende essa mudança legal. Sem contar que a própria base governista é bastante heterogênea. “O problema da Dilma é que ela foi candidata apoiada por dez partidos e por grupos sociais que iam desde a direita à esquerda, gerando uma luta política dentro da base dela”, afirmou ao site Congresso em Foco o professor Joviniano Neto, da Universidade Federal da Bahia.
Essa amplitude de sua base e a revolta do PMDB já começam a ficar claras. Aliado de primeira hora de Dilma, o presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros, já deixou claro como agirá com relação à reforma política, uma das promessas de campanha da petista. O Governo quer que seja feito um plebiscito, Calheiros defende um referendo. Na prática, os dois instrumentos são uma forma de consulta popular. A diferença entre eles é que o plebiscito pergunta quais as mudanças a sociedade quer antes da confecção de uma lei, enquanto no referendo o projeto de lei é apresentado e só cabe à população dizer sim ou não para ele.
A falta de habilidade política, a ausência de diálogos com a sociedade civil e até mesmo com seus aliados influenciaram na redução gradual do suporte à presidenta
“A polarização eleitoral é uma coisa. A vida cotidiana, outra. O dia a dia do Congresso e uma vitória apertada no segundo turno mostram que já está passando da hora do Governo ouvir mais as pessoas. Não só a oposição, mas também seus aliados. Se ela [Dilma] repetir seus atos, como no primeiro mandato, os resultados para o país serão muito ruins”, analisou o cientista político Carlos Ranulfo, da Universidade Federal de Minas Gerais.
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