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China envia oito barcos ao sul do Índico para a busca do avião desaparecido

Austrália encerra o quarto dia de busca sem achar destroços do voo MH370 O rastreamento da área é feito visualmente pelo ar durante apenas duas horas por dia

Busca do avião desaparecido no Índico sulFoto: reuters_live

A frota internacional de aeronaves e barcos que procura o avião da Malaysia Airlines desaparecido há 14 dias com 227 passageiros e 12 tripulantes a bordo concentrou decisivamente seus esforços em direção ao sul do oceano Índico, depois que o primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, anunciou na quinta-feira que foram detectados dois objetos flutuando no mar que provavelmente pertenceriam ao avião. A Austrália começou a rastrear a área (a mais de 2.000 quilômetros de Perth, a costa mais próxima) na terça-feira. Nesta sexta-feira, o quarto dia de buscas, os agentes observaram (literalmente, já que dispensaram o uso de radar convencional por falta de resultados) uma região de 23.000 quilômetros quadrados, equivalente à área da Comunidade Valenciana, na Espanha.

Cinco aeronaves decolaram da Austrália nesta sexta-feira para o rastreamento: três P-3 Orion, uma P-8 Poseidon das forças navais dos Estados Unidos e um reator Bombardier Global Express. Um navio mercante já está na área e outro deve chegar à noite, e um navio da Marinha australiana – o HMAS Success, que é capaz de recuperar qualquer tipo de destroço – também está a caminho e vai chegar sábado, de acordo com informações da Autoridade de Segurança Marítima da Austrália (AMSA, por sua sigla em Inglês) em comunicado. As condições climáticas estiveram muito melhores no quarto dia de buscas.

A China deu ordens para que oito barcos se juntassem à missão no sul do Índico. Três deles já partiram, embora não esteja claro quando chegarão ao destino. São os navios de guerra Kunlunshan, Haikou e Qiandaohu que colaboravam nos trabalhos de rastreamento perto da ilha indonésia de Sumatra. Outros quatro navios de resgate vão zarpar e um quebra-gelos chinês que está em Perth, regressando de uma viagem à Antártida, está se preparando para partir “o mais rápido possível”, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. Dos 227 passageiros do voo MH370, 153 são cidadãos chineses.

Os trabalhos de localização dos dois possíveis destroços do avião no Índico são complicados pela distância da área em que foram detectados por satélites, longe das rotas normais de navegação marítima, 2.500 quilômetros da costa oeste da Austrália. Os aviões têm um tempo efetivo de busca de apenas duas horas antes de terem de voltar a Perth, já que os voos de ida e de volta levam cerca de quatro horas cada um.

Além disso, os objetos procurados poderiam ter afundado e estar no fundo do mar, disse o primeiro-ministro em exercício da Austrália, Warren Truss. Sem mencionar os ventos, ondas e correntes, que podem levá-los a dezenas de quilômetros a cada dia. “É uma das áreas mais inacessíveis da Terra, mas se houver algo embaixo, nós vamos encontrar”, disse à Reuters o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, em Papua Nova Guiné, onde faz uma visita oficial. “Devemos isso às famílias das pessoas (no avião), não podemos fazer menos”. Abbott falou na quinta-feira com o presidente chinês, a quem o premiê australiano descreveu como “acabado”.

Uma delegação da Malásia se reuniu em Pequim pela primeira vez com as famílias de alguns dos 153 cidadãos chineses a bordo da aeronave. Nesta reunião, em um hotel na capital chinesa, o comandante de operações aéreas da Força Aérea Real malaia, Ackbal bin Haji Abdul Samad, disse que é “improvável” que o avião da Malaysian Airlines desaparecido tenha sido abatido por caças militares, já que, apesar de ter tido sua presença captada por radares militares, não foi tomada nenhuma medida por ter sido considerado “amigo”.

Uma delegação da Malásia chegou a Pequim na quinta-feira à tarde para se reunir com as autoridades chinesas e os parentes dos passageiros chineses (que eram maioria no avião, 153), encontro que ocorreu nesta sexta-feira e somente pôde ser acompanhado pela agência de notícias oficial Xinhua, que publica as declarações.

Abbott insistiu que no momento não há confirmação de que os resíduos fotografados correspondam ao Boeing 777 desaparecido. “Neste momento, poderia ser contêineres que caíram de um barco, nós não sabemos”, disse Abbott. Mas não parece ser o caso, pois um dos objetos fotografados tem 24 metros e os maiores contêineres utilizados na indústria marítima têm 12,19 metros. O outro mede cerca de cinco metros.

O cargueiro norueguês St. Petersburg, da companhia naval Höegh Autoliners, está desde quinta-feira na área, mas até agora não encontrou nenhum destroço. As autoridades australianas solicitaram a sua ajuda, e o navio, que se dirigia de Madagascar para Melbourne (Austrália), foi desviado para ajudar na localização dos dois objetos.

A AMSA afirmou nesta sexta-feira em comunicado que a análise das imagens da Organização de Inteligência Geospacial da Austrália (AGO, na sigla em inglês) identificou dois objetos “credíveis”, mas advertiu que poderiam não estar relacionados com o voo MH370. “Objetos de um tamanho razoável e provavelmente cheios de água que se movem para cima e para baixo sobre a superfície”, explicou John Young na quinta-feira, chefe da unidade de resposta de emergência da agência marítima. Os dois possíveis objetos foram fotografados no último domingo, por isso há dias podem estar sendo arrastados por fortes correntes, caso continuem flutuando, para uma distância grande de onde foram identificados. Young também explicou que como os radares não encontraram nada, a AMSA “optou por uma busca visual”.

O governo australiano garantiu que o período de quatro dias desde a data das imagens captadas até o anúncio da descoberta foi devido à análise necessária da grande quantidade de informações de organismos diferentes. As fotografias foram fornecidas pela empresa norte-americana DigitalGlobe. A AMSA indicou que foram entregues pela Organização de Inteligência Geoespacial da Austrália na quinta-feira de manhã.

Warren Truss, que é vice-primeiro-ministro da Austrália, disse nesta sexta-feira que o país tentará conseguir mais imagens de satélite com uma resolução maior para descobrir onde os destroços podem estar agora. A partir daí, faltará localizar as caixas-pretas do avião, uma tarefa complexa em um oceano frequentemente atingido por tempestades e com uma profundidade de 3.900 metros. As caixas-pretas têm bateria para emitir sinais de localização por mais 16 dias.

As circunstâncias nas quais o voo MH370 da Malaysia Airlines desapareceu na madrugada de 8 de março, menos de uma hora depois de decolar de Kuala Lumpur com destino a Pequim, permanecem um mistério. Os pesquisadores tomam como certo que alguém com conhecimento avançado, tanto do avião Boeing 777-200ER, como de aviação comercial, desconectou os sistemas de comunicação do aparelho e o desviou para milhares de quilômetros de sua rota original.

Suspeita-se que alguém sabotou e sequestrou o avião. O foco está no piloto, Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos, e no copiloto, Fariq Abdul Hamid, de 27 anos. Também estão sob investigação o resto da tripulação e os passageiros. A ausência de reivindicações terroristas sugere que o caso seja uma tentativa de suicídio. Outra teoria é que tenha ocorrido algum evento extraordinário durante o voo que incapacitou a tripulação de comandar o avião, que estaria no piloto automático durante várias horas até acabar o combustível e cair.

Se os objetos que flutuam no sul do Índico pertencerem ao avião, a pista do sequestro terrorista perderia peso, diante da pergunta de que por que alguém iria querer tomar um avião e levá-lo em direção ao sul até ficar sem combustível.

Até agora, pouco se sabe sobre o que aconteceu com o MH370 desde que sumiu dos radares. A Malásia pediu à polícia federal dos Estados Unidos que ajude a recuperar os dados que foram apagados do simulador de voo que Zaharie tem em sua casa em Kuala Lumpur.

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