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Morre Frederik de Klerk, presidente que ajudou a desmantelar o ‘apartheid’ na África do Sul

Dirigente libertou Nelson Mandela e compartilhou com ele o Nobel da Paz de 1993 pela reconciliação do país. Tinha 85 anos e sofria de câncer

O líder do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, cumprimenta o presidente da África do Sul, Frederik W. de Klerk, em maio de 1992.
O líder do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, cumprimenta o presidente da África do Sul, Frederik W. de Klerk, em maio de 1992.TREVOR SAMSON (AFP)

Frederik Willem de Klerk (Johannesburgo, 1936), presidente da África do Sul entre 1989 e 1994, morreu nesta quinta-feira aos 85 anos em sua casa, na Cidade do Cabo, informou a fundação que leva seu nome. Na qualidade de último dirigente branco do país, ele desmantelou o regime do apartheid, libertou Nelson Mandela após mais de 27 anos de prisão e pilotou a transição pacífica para uma democracia sem segregação formal de raças. “Com a maior tristeza a Fundação F.W. de Klerk anuncia o falecimento do ex-presidente F.W. de Klerk, de forma pacífica, no seu domicílio de Fresnaye, nesta manhã, após ter lutado contra um câncer”, declara o comunicado.

Em 1993, Mandela e De Klerk obtiveram o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho em favor da reconciliação na África do Sul. Na cerimônia de entrega do prêmio em Oslo, De Klerk, então ainda presidente do seu país, afirmou satisfeito: “Há cinco anos, as pessoas teriam posto em dúvida a saúde mental de qualquer um que previsse que o senhor Mandela e eu receberíamos conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz”. Com um sorriso cúmplice para Mandela, De Klerk acrescentou: “Aqui estamos. Somos oponentes políticos, temos fortes desacordos em muitas questões-chaves, e mais tarde travaremos uma dura campanha eleitoral. Mas o faremos, acredito, no marco de paz que já foi estabelecido”.

Mandela, por sua vez, referiu-se a De Klerk como a pessoa que “teve a coragem de admitir o terrível erro” cometido na África do Sul. E, nas palavras de Mandela, foi o homem que teve perspectiva suficiente para entender e aceitar que todos os cidadãos do país devem “determinar o que querem fazer com seu futuro”.

Pouco depois, em 1994, Mandela e De Klerk se enfrentaram nas eleições, vencidas pelo primeiro, o que deu lugar a uma mudança política radical no país. Mandela foi o primeiro mandatário negro da África do Sul, fazendo de De Klerk o último presidente branco até hoje. A vitória de Mandela, que morreu em 2013, pôs fim a 342 anos de domínio branco e a 46 do regime de discriminação racial conhecido como apartheid. “Nunca, nunca e nunca mais esta bela terra será cenário da opressão dos uns sobre os outros e da vergonha de ser a ovelha negra do mundo”, disse Mandela após sua posse. Em 1997, De Klerk se retirou da política e deixou o cargo de líder do Partido Nacional (PN).

O pai de De Klerk, o senador Jan de Klerk, foi ministro em vários Governos racistas presididos por Hendrik Werwoerd, arquiteto do regime do apartheid, e por seu sucessor, John Vorster, entre 1954 e 1969. Formado em Direito na ultraconservadora província do Transvaal, Frederik De Klerk deixou aos 36 anos uma promissora carreira de advogado para ocupar um assento na bancada parlamentar do Partido Nacional. Foi ministro de Correios e Telecomunicações, Interior, Assuntos Sociais, Esportes, Energia e Educação. Em 1989, quando tinha 53 anos, tornou-se presidente. Menos de um ano depois, em 2 de fevereiro de 1990, proclamou no Parlamento que condenava o apartheid e anunciou que o Congresso Nacional Africano, o partido de Mandela, sairia da clandestinidade. Mandela foi libertado poucos dias depois.

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