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Canadá, EUA e Brasil, entre os países da América onde a temperatura mais sobe com a mudança climática

América do Norte e a costa do Atlântico estão na primeira linha dos efeitos do aquecimento global sobre as temperaturas no continente mais desigual do mundo

Um homem com uma mangueira tenta hidratar o campo, em uma fazenda da Califórnia (Estados Unidos).
Um homem com uma mangueira tenta hidratar o campo, em uma fazenda da Califórnia (Estados Unidos).Luis Sinco (Los Angeles Times via Getty Imag)
Jorge Galindo

Que o mundo está se aquecendo é uma realidade já comprovada pela ciência do clima. A aceleração desse processo nas últimas quatro décadas também é comum. Mas nem todo o globo está vendo suas temperaturas subirem na mesma proporção: no continente americano, o norte viu um aumento maior do que o sul; países ricos, mais do que de renda média; e as costas, em particular o Atlântico, mais do que o interior. Mas algumas dessas tendências ainda podem mudar.

Em comparação com a média de 1950 a 1980, as temperaturas na América do Norte, América Central e Caribe aumentaram quase 1,2 grau Celsius. Cerca de quatro quintos do aumento ocorreram em apenas uma década, a de 1990. Foi esse o período da conscientização definitiva sobre o aquecimento global, com o buraco na camada de ozônio (hoje em declínio) e o ‘efeito estufa’ como protagonistas. Mas uma mudança gradual nos padrões de consumo, especialmente de energia, facilitada pelo acesso a melhores tecnologias e pela presença de novos mecanismos reguladores, bem como de tratados e protocolos internacionais, desacelerou (embora sem reverter) a ascensão no século XXI, quando a América do Sul assumiu a ponta: de 2003 a 2015, o aumento foi tão grande quanto nos 25 anos anteriores. A velocidade do aumento da temperatura dobrou.

Mesmo assim, a América do Norte (os Estados Unidos e principalmente o Canadá) acumulam os maiores aumentos de temperatura média desde a década de 1960, a uma distância considerável dos demais países. Não é por acaso que são as duas nações com maior desenvolvimento econômico do continente: os combustíveis fósseis têm sido essenciais para consolidar o crescimento e o bem-estar, e esse é o resultado.

Da mesma forma, continuam a sê-lo até hoje, especialmente para os países que aspiram a ingressar no clube de maior renda. Essas nações tendem a ver como uma espécie de desequilíbrio redistributivo o fato de que justamente agora haja uma busca por implementar limites transnacionais de emissões: quando eles não são mais tão necessários para aqueles que se basearam no carbono para atingir suas metas de crescimento. Apesar de o Acordo de Paris já incorporar mecanismos de compensação para reequilibrar as oportunidades, a especificação de sua implementação durante a cúpula do clima em Glasgow mantém a conversa aberta sobre o peso que cada país deve assumir para deter o aquecimento. No continente americano, os derivados políticos dessa lacuna se expressam com particular clareza no caso de grandes países que, como México ou Brasil, requerem mais financiamento com abordagem transacional.

Mas a maior divisão que se vê ainda é geográfica: os países andinos, independentemente do seu nível de renda, são os que sofreram os aumentos mais modestos. La Paz (Bolívia), a sede de Governo mais alta do continente, sobe 0,64 grau Celsius. Em níveis semelhantes estão Puno e Cusco, no montanhoso Peru. Mas basta viajar um pouco ao norte, até se aproximar de um ambiente mais caloroso, para que os números se multipliquem por dois: é o caso de cidades como Medellín (Colômbia), Guayaquil (Equador) e praticamente todas as capitais da América Central.

Os cientistas observaram que a exposição ao mar, especialmente nas faixas temperadas, e mais fortemente na sua vertente oriental (a costa atlântica), determina aumentos mais fortes de temperatura. Assim, toda a orla urbanizada da Nova Inglaterra, de Edison a Boston, teve aumentos de 2,8 graus nos últimos sessenta anos. Acima disso ficam a canadense Halifax, um pouco mais ao norte (3,08 graus), Anchorage (capital do Alasca, 3,05 graus) e Winnipeg, na província canadense de Manitoba, que é a cidade de todo o continente sofreu o maior aumento (+3,41 graus).

O mesmo ocorre com localidades de clima mais árido ou completamente deserto. A fronteira mexicano-americana (Phoenix, Arizona: 2,5 graus Celsius de aumento; Reynosa, Tamaulipas, México, 2,35 graus) é um bom exemplo. Também se nota isso no Nordeste do Brasil, onde o semiárido e o cerrado apresentam os impactos mais notáveis: as cidades de Juazeiro (BA) e Timon (MA) registraram aumentos superiores a 30% aos observados no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O zoom no Brasil, descendo ao nível de estações meteorológicas específicas, traça o padrão geral com mais clareza, mas também aparecem mais ou menos pontos discrepantes do esperado em certas áreas, destacando uma variabilidade inata.

Inevitavelmente, quanto mais nos concentramos em um local específico, maior a probabilidade de encontrarmos dados que não parecem ser consistentes com a tendência de aquecimento. Mas esses desvios específicos não invalidam a tendência global, que se reflete nas médias estatísticas. Eles apenas expressam as peculiaridades inevitáveis de um fenômeno global.

Metodologia e fontes: Todos os dados vêm do projeto Berkeley Earth, que compila sistematicamente com controles de qualidade internos os relatórios de temperatura de estações meteorológicas de todo o mundo.

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