Tribunal eleitoral do Peru proclama Pedro Castillo presidente, e Keiko Fujimori aceita resultado

Justiça indefere recursos da candidata conservadora e concede ao líder de esquerda a vitória por uma diferença de cerca de 44.000 votos, cinco semanas após o término da votação

Pedro Castillo cumprimenta seus apoiadores de uma sacada após ser proclamado presidente eleito do país, em Lima, nesta segunda-feira.
Pedro Castillo cumprimenta seus apoiadores de uma sacada após ser proclamado presidente eleito do país, em Lima, nesta segunda-feira.Paolo Aguilar (EFE)
Mais informações
Pedro Castillo
Pedro Castillo, o professor rural que quer levar a esquerda de volta ao poder no Peru
Keiko Sofía Fujimori, en el salón de su apartamento en Lima. Al frente, un retrato de toda su familia, en el que aparece su padre, Alberto Fujimori, el último autocrata del país, este viernes.
Keiko Fujimori: “Vou aceitar o resultado do tribunal eleitoral”
Ned Price, portavoz del Departamento de Estado de Estados Unidos
EUA dão as costas a Keiko Fujimori e qualificam as eleições do Peru como “justas” e “exemplares”

O Peru finalmente tem um presidente eleito. O Júri Nacional de Eleições (JNE) proclamou nesta segunda-feira o professor rural e dirigente sindical de esquerda Pedro Castillo como vencedor do segundo turno, em cerimônia feita por videoconferência cinco semanas após o término da votação oficial. Nesse período, o tribunal analisou e finalmente rejeitou mais de 270 pedidos apresentados pela candidata conservadora Keiko Fujimori para anular os votos de seu oponente. De acordo com os resultados oficiais, o candidato do Perú Libre obteve 50,12% dos votos em 6 de junho, ante 49,87% de Fujimori, o que representa uma diferença de pouco mais de 44.000 votos.

Horas antes da proclamação de Castillo, Fujimori anunciou que reconhecia os resultados “porque é o que a lei e a Constituição determinam”. Fujimori, que agora deve ir a julgamento por suposta lavagem de dinheiro no caso Odebrecht, apresentou inúmeras contestações de votos e recursos para adiar a proclamação do resultado, enquanto seus apoiadores exigiam nas ruas a anulação do voto e a convocação de novas eleições. No entanto, em seu comunicado, Fujimori disse que para se defender “do comunismo” seus seguidores não deveriam cair “em nenhum tipo de violência”. “Agora temos que enfrentar juntos uma nova etapa muito difícil porque o comunismo não chega ao poder para libertá-lo, por isso querem nos impor uma nova Constituição agora. Tenho absoluta certeza de que os peruanos não permitirão que Pedro Castillo transforme o Peru em Cuba ou na Venezuela “, disse Fujimori.

“Assim como jurei aceitar os resultados eleitorais porque é isso que a Constituição determina, hoje juro a vocês que não vou desistir e os convido a lançar uma verdadeira defesa democrática. O Peru precisa de todas as forças sociais e políticas unidas na grande tarefa de parar o comunismo. Nossa defesa está apenas começando”, acrescentou.

Desde o dia 7 de junho, dezenas de milhares de peruanos de jurisdições rurais e comunidades indígenas que votaram em Castillo chegaram a Lima para monitorar a votação e realizaram dezenas de marchas pelo centro da capital, enquanto advogados de Fujimori alegavam fraude nas localidades onde o candidato de esquerda ganhou em massa. Na última terça-feira, o plenário do Júri Eleitoral Nacional encerrou a resolução dos pedidos de apelação de Fujimori e negou todos, pois não encontraram indícios de falsificação de identidade ou falsificação de assinaturas de membros das assembleias de voto, como alegado pela candidata.

Nas seis semanas desde a votação, os aliados e seguidores de Fujimori fizeram protestos fora das casas dos magistrados do tribunal eleitoral e do Escritório Nacional de Processos Eleitorais para insistir em sua versão da fraude. Nesse período de espera pela proclamação oficial, os ex-candidatos à presidência Julio Guzmán, George Forsyth, Ciro Gálvez e Daniel Salaverry se reuniram com o professor rural em sinal de reconhecimento de sua vitória, após o escrutínio oficial. Sua aliada no segundo turno, a ex-candidata à presidência Verónika Mendoza, do esquerdista Nuevo Perú, é outra das personalidades que estiveram regularmente com Castillo durante as semanas de incerteza.

O economista Pedro Francke, da equipe do Nuevo Perú, parece ser o possível ministro da Economia do novo Governo, enquanto o médico Hernando Cevallos, ex-deputado da esquerda Frente Amplio, poderia ser nomeado ministro da Saúde. No entanto, nesta segunda-feira, Castillo tuitou que ainda daria detalhes sobre seu gabinete após a proclamação como presidente eleito.

Desde junho, seguidores de Fujimori e um grupo de choque da Fuerza Popular praticam atos de vandalismo no centro de Lima, chegando à tentativa de tomar o Palácio do Governo na última quinta-feira e atacar os seguidores de Castillo que estão acampados em frente à Justiça Eleitoral. O grupo denominado La Resistencia, que desde 2018 realiza escrachos contra jornalistas e magistrados que investigam o Fuerza Popular, participou na primeira fila das manifestações de Keiko Fujimori que insistiam na versão de “fraude”. Castillo tomará posse em 28 de julho, dia em que expira o mandato do presidente interino Francisco Sagasti e no qual o Peru comemora o bicentenário de sua independência. É a primeira vez em décadas que a proclamação ocorre poucos dias antes da mudança de comando. Normalmente, o nome do novo presidente seria anunciado pelo JNE cerca de quatro semanas antes.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS