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Líderes dos protestos na Colômbia anunciam suspensão temporária das mobilizações

Representantes das centrais sindicais dizem que tomaram a decisão para evitar a morte de mais jovens por policiais e o agravamento da pandemia por causa das aglomerações

Catalina Oquendo
Manifestantes contra el Gobierno de Iván Duque
Uma manifestação contra o Governo colombiano em Cali, em 13 de junho.LUIS ROBAYO (AFP)

Após 49 dias de mobilizações na Colômbia, o comitê da paralisação nacional, que reúne as principais centrais sindicais, anunciou uma mudança de estratégia nos protestos contra o Governo de Iván Duque. Os dirigentes decidiram suspender temporariamente as passeatas que vinham sendo convocadas nacionalmente a cada quarta-feira desde 28 de abril. “Isso não significa que a mobilização social pare na Colômbia, ela vai continuar porque as causas que a geraram se mantêm vigentes”, disse Francisco Maltés, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) em uma aguardada entrevista coletiva após vários dias de deliberações.

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Andrés Sánchez, 28 años. Marcha y trabaja. Camina y rebusca. Protesta mientras recoge latas, cartones que lleva en un costal. En uno de esos cartones pintó su razón para manifestar: “Por un país más igualitario” escribió con marcador en un pedazo que recogió en la mañana. “Estoy acá para apoyar al pueblo y aprovecho la marcha para rebuscar”, dice mientras camina por la avenida séptima de Bogotá. Sánchez terminó el bachillerato y estudiaba instalación de redes en el Sena, un instituto técnico estatal, pero se “desordenó”, confiesa. Ahora recoge material reciclable que vende por 3.000 pesos el kilo (menos de un dólar) con lo que ayuda en su casa, a su mamá. “Algún día quiero estudiar zoología. Lo mío son los animales”, dice el joven que vive en Las Cruces, un barrio pobre del centro de Bogotá, donde desde hace un mes termina su marcha y su jornada de trabajo.
Os rostos da explosão social na Colômbia

A crítica crescente aos bloqueios que impactam a economia do país, as aglomerações no pico mais agressivo da pandemia e a falta de consensos com o Governo conduziram a esta interrupção das mobilizações, que já vinham perdendo fôlego. “Trata-se de salvar vidas em duas direções”, afirmou Percy Oyola, presidente da Confederação Geral do Trabalho. De um lado, disse, não há garantias para o exercício do protesto, como se viu na morte de vários jovens nas mãos das forças de segurança; de outro, esperam que a interrupção das manifestações evite a propagação da pandemia, que está alcançando o recorde de mortes na Colômbia nas últimas semanas.

A morte de jovens e a violência policial estão no centro da explosão social. “Não queremos que continuem matando jovens nos protestos”, acrescentou Oyola, recordando o homicídio de Júnior Jein, um reconhecido músico e líder social assassinado por civis armados em Cali, no fim de semana. De acordo com a ONG Human Rights Watch, foram documentadas 34 mortes no contexto das manifestações, sendo pelo menos 20 provocadas por policiais. Uma cifra semelhante admite a chanceler Marta Lucía Ramírez, que mencionou 21 investigações por homicídios de manifestantes durante sua viagem a Genebra (Suíça) para encontrar a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachellet. Ao todo, há 170 investigações disciplinares contra agentes por abuso policial.

A decisão do comitê acaba com a paralisação, ao menos formalmente, mas não necessariamente com os protestos locais que ganharam corpo em cidades como Cali, Medellín e Bogotá. Em vários pontos atualmente chamados de resistência, milhares de jovens que não se sentem representados pelos líderes sindicais continuam se manifestando contra o governo e se organizaram em assembleias populares, mas em alguns casos desmontaram as barricadas e bloqueios que obstruíam a passagem dos moradores.

Os bloqueios de vias eram justamente as medidas mais criticadas no país. A morte de dois bebês em ambulâncias que ficaram retidas nas manifestações e os prejuízos gerais causados pelos protestos, estimados pelo Executivo em 3,3 bilhões de dólares (16,7 bilhões de reais), já vinham debilitando o apoio ao movimento. O Ministério de Defesa diz que 1.119 vias foram desbloqueadas, mas que ainda restam 15 piquetes em Valle del Cauca, Norte de Santander e algumas zonas de Bogotá.

O comitê da paralisação manteve reuniões com representantes do Governo para discutir uma folha de solicitações de seis pontos, entre eles uma renda básica de um salário mínimo durante sete meses para seis milhões de pessoas e matrícula gratuita para os estudantes universitários durante cinco anos. Entretanto, o Governo exigia a suspensão dos bloqueios como pré-condição, enquanto os representantes sindicais cobravam garantias para a liberdade de protesto e uma condenação da violência policial por parte do Executivo. “A resposta ao dossiê de emergência foram a repressão e brutalidade policial que levaram muitíssimos países do mundo a condenarem o excesso da força pública contra os manifestantes”, afirmou Maltés, apontando como uma vitória a retirada da reforma tributária e a demissão dos ministros da Fazenda e Relações Exteriores.

Depois de frustradas conversações, o comitê da paralisação anuncia agora que apresentará suas solicitações através de projetos de lei no Congresso. Os líderes do movimento manterão um diálogo com diversos setores e terão ajuda de acadêmicos para preparar os textos legislativos e farão uma mobilização especial para apresentá-los em 20 de julho, quando começa a nova legislatura. “Aspiramos a que os congressistas não frustrem os colombianos da mesma forma como o presidente Duque os frustrou”, acrescentou o líder da Central Unitária de Trabalhadores.

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