8 fotosPROTESTOS NA COLÔMBIAOs rostos da explosão social na ColômbiaMilhares de colombianos completam um mês de manifestações em um dos mais longos protestos da história recente do país. Estes são alguns dos protagonistas e as razões do seu descontentamento com o Governo de Iván DuqueIván ValenciaCatalina Oquendo Bogotá - 28 mai. 2021 - 09:13BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaAndrés Sánchez, de 28 anos. Marcha e trabalha. Caminha e vasculha. Protesta enquanto recolhe latas e papelão que carrega em um saco. Em um desses papelões, pintou o motivo que o levou a participar das manifestações: “por um país mais equitativo, sem discriminação”, escreveu com marcador em um pedaço que recolheu pela manhã. “Estou aqui para apoiar o povo e aproveito a marcha para vasculhar”, diz enquanto caminha pela sétima avenida de Bogotá. Sánchez concluiu o ensino médio e estudava instalação de redes no Sena, um instituto técnico estatal, mas “se desorganizou”, confessa. Agora recolhe material reciclável que vende por 3.000 pesos o quilo (cerca de 4,20 reais) e assim ajuda a mãe em casa. “Algum dia eu quero estudar zoologia. Meu negócio são os animais”, diz o jovem que mora em Las Cruces, um bairro pobre do centro de Bogotá, onde há um mês termina sua marcha de protesto e sua jornada de trabalho.IVÁN VALENCIA“Marcho para acompanhar os estudantes, por um futuro com melhor saúde e educação para os meus filhos”, diz Jessica Preciado, de 27 anos, faxineira de um colégio. Carrega nos braços Samuel, de oito meses, e coloca um lenço no rosto de Nicolás, seu filho de nove anos. Ao seu lado, a mãe, Ana Preciado, e no carrinho de bebê uma dúzia de ovos que acabam de lhes dar. Em alguns pontos das passeatas dão comida aos manifestantes. É a primeira vez que ela marcha em um mês de manifestações, mas diz que queria ter feito isso antes. “Marcho também por melhores oportunidades para mim”. É difícil: “Não dão trabalho porque você não tem estudos, porque não tem experiência ou porque é muito jovem. Então, o que se deve fazer? Sair na rua para vender ou fazer o que for”. Medo da violência nas manifestações? “Não. As redes sociais são muito censuradas, as notícias não contam as coisas como são”, diz Preciado.IVÁN VALENCIA“Dizem que estas marchas são dos jovens, mas também são nossas, dos cuchos (velhos), são de todos”, diz Yolanda Rico, professora de biologia de uma escola pública. Coberta com uma bandeira da Colômbia, chapéu colorido e máscara, esta mulher de 52 anos protesta há um mês. Começou em 28 de abril e diz que não parou. “Os jovens estão sendo massacrados, estão desaparecendo. É por isso que estou aqui”, afirma e enumera os motivos que escreveu em uma caixa de leite, como se fosse a lição em uma lousa de sala de aula. “Não pedimos assistencialismo nem esmola, não se trata de dar 160.000 pesos às pessoas (cerca de 223,77 reais, que o Governo de Iván Duque dá aos mais pobres), mas de resgatar o trabalho digno e que tenhamos novamente prestações sociais decentes, que os jovens não terminem os estudos e fiquem no ar, sem opções”.IVÁN VALENCIA“Marchamos porque buscamos a igualdade de direitos para todos. Chegamos a um ponto de não retorno, estamos convencidos de que podemos mudar o país”. Quem fala é Ginis, uma marionete que se tornou comum nas marchas na Colômbia desde 2019. Sua voz é emprestada por Gina León, artista e fotógrafa que saiu para marchar representando o coletivo AGarrapata. Ela o faz ao lado de Richard Caro, marionetista e voz de Don Alirio, um camponês de Boyacá que protesta por quem não pode sair ou não pode parar de trabalhar. “A partir da arte queremos comunicar o desgosto das pessoas com todas as políticas públicas e a má gestão deste Governo”, diz o ator que marcha, como muitos na Colômbia, de bicicleta.IVÁN VALENCIAPara Omar Rodríguez, de 30 anos, a greve nacional representa um paradoxo: ela lhe dá trabalho. O emprego que não conseguiu como ator de teatro durante a pandemia de coronavírus apareceu agora nas marchas. Ele representa um trabalhador em uma trupe da Central Unitária de Trabalhadores. “Interpreto um trabalhador municipal e através dele denuncio que os trabalhadores têm horários muito rígidos e salários ruins; mas ao mesmo tempo, como ator, denuncio que os artistas não tiveram apoio do Governo”, diz. Rodríguez passou meia vida no mundo da dança e das artes cênicas de rua. “Muitos grupos locais de dança ou teatro decaíram ou fracassaram por falta de gestão das entidades culturais. Estamos aqui para reivindicar um trabalho digno”, afirma.IVÁN VALENCIA“Acreditamos que a saúde não é um negócio”, diz com firmeza Marleny Muñoz, enfermeira de um hospital no noroeste de Bogotá, enquanto marcha com o sindicato de trabalhadores de saúde ao qual pertence. Essa é sua principal motivação para sair às ruas em plena terceira onda da pandemia na Colômbia, um país que teve mais de 400 mortes diárias por covid-19 nas últimas semanas. O momento nunca será ideal para se manifestar, raciocina Marleny, mas “se todos nós não colocarmos um grão de areia não estamos entendendo nada”. Tem 40 anos, duas filhas e já é avó, pois a mais velha, uma universitária de 21 anos, também é mãe. “É um bom exemplo para elas, a mais velha não pôde vir, pois estuda e trabalha, mas eu a represento”, diz. Muñoz tem estado frequentemente nas ruas este mês porque não confia no Governo nem acredita que tenha realmente desistido das reformas tributária e da saúde, que os protestos o levaram a retirar. Ela só marcha durante o dia e com as organizações sociais, explica. Censura os episódios de vandalismo que costumam ocorrer à noite, embora os atribua à agressividade das forças de segurança. “Se o Esmad ou a polícia não atacam, os jovens funcionam bem”, afirma.IVÁN VALENCIA“Estou nesta manifestação porque tenho vontade, gosto, sou feliz. E também para que os jovens tenham um futuro melhor”, proclama Luz Nelly Vargas junto à Plaza de Bolívar, o coração de Bogotá. Aos 75 anos, pula e canta a plenos pulmões o popular “vamos parar para avançar”, o canto que sai dos alto-falantes dos grupos organizados pelas centrais operárias. Usa máscara. Ainda não foi vacinada, mas não tem medo do contágio: “Faz um mês que estou marchando, não me dá preguiça e, graças a Deus, nada”. Trabalhou muitos anos em uma fábrica de bebidas, mas agora se dedica às tarefas domésticas. Marcha quase diariamente com o filho René, de 52 anos, “incentivando os jovens”. Eles vêm de Soacha, município próximo à capital que foi palco de protestos, tumultos e da queima de um ônibus articulado esta semana. “Gostem eles ou não, a greve não vai parar”, diz.IVÁN VALENCIAPor trás de uma máscara vermelha de luta livre mexicana, Juan Manuel Cristancho, um professor de teatro de 41 anos, explica com eloquência que a usa como forma de construir um símbolo. “Significa a luta. A educação é uma luta contra os diferentes tipos de pobreza: espiritual, econômica, social. Sou filho da Educação, não da herança, e isso me permitiu viajar para diferentes partes do mundo, acredito que ter acesso a ela é um direito fundamental”. Trabalha em um colégio no sul de Bogotá, mas não pertence aos sindicatos de professores. “Não marcho apenas por uma causa, estou vinculado às múltiplas causas que estão se tornando visíveis neste momento”, aponta. “Não é uma luta só dos operários. É uma luta de comunidades LGBT, camponesas, dos caminhoneiros, de jovens, de feministas. Como não é uma marcha de uma única associação de classe, isto precisa de uma Torre de Babel, na qual se escutem todas as línguas que estão sendo faladas. A solução é escutar-se”.IVÁN VALENCIA