Protesto contra indulto a separatistas catalães exige a renúncia de Sánchez na Espanha
Manifestação reuniu 25.000 pessoas em Madri e teve o apoio de partidos de direita. Líderes do movimento de independência estão presos há três anos e meio
A convocação feita pela plataforma União 78 para um protesto contra os possíveis indultos aos dirigentes do procés, o movimento em prol do separatismo na Catalunha, reuniu cerca de 25.000 pessoas em Madri neste domingo, segundo a Delegação do Governo. Mas os gritos, mais do que os indultos para os condenados em si, se concentraram em exigir a renúncia do presidente do Governo do país (primeiro-ministro), Pedro Sánchez, também alvo de ataques e insultos em vários cartazes. A possibilidade de o Executivo nacional conceder o perdão aos líderes catalães, que estão detidos há três anos e meio e foram condenados a penas de 9 a 13 anos de reclusão pelos crimes de sedição e peculato, ganhou força em maio.
Em 2019, outro protesto que repudiou as negociações do Executivo com os independentistas catalães reuniu quase o dobro de pessoas —45.000, segundo a mesma autoridade. A polícia municipal apresentou outra estimativa, muito distante: 126.000 pessoas. Em 2019, os organizadores estimaram 200.000. Os líderes dos três partidos que apoiaram a concentração, PP, Vox e Cidadãos, os partidos de direita, evitaram se encontrar. Além disso, o líder do PP (Partido Popular, conservador e de oposição ao socialista PSOE, de Sánchez), Pablo Casado, ficou na entrada da praça, sem se embrenhar totalmente na multidão.
Casado, acompanhado da presidenta da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, e do prefeito da capital, José Luis Martínez Almeida, percorreu a pé os poucos metros que separam a sede de seu partido, na rua Genova, da Praça de Colón, e ali ficou na entrada, longe da parte central da concentração. Enquanto isso, na primeira fila, os seguidores do ultradireitista Vox assumiam as posições mais visíveis, com bandeiras, estandartes e um adesivo que se repetia no peito de muitos dos participantes: “Pare a invasão. Defenda a Espanha!”. Ali também desfilaram os principais líderes do Vox, muito aclamados pelo público, até se retirarem para um local mais discreto. Entre alguns dos presentes houve gritos esporádicos contra o líder do PP: “Casado, onde está o chefe?”, “Casado, safado, apoie a moção [de censura apresentada por Santiago Abascal em outubro]”. O único líder de destaque do PP que se viu nas proximidades do palco foi a ex-porta-voz parlamentar Cayetana Álvarez de Toledo, integrante da plataforma que fez a convocação da manifestação. Inés Arrimadas, líder dos Cidadãos, também se colocou em um lugar menos visível.
A tribuna e os discursos foram tomados pelos representantes da União 78, a começar pelo escritor Andrés Trapiello e terminando pela porta-voz da plataforma, Rosa Díez. Trapiello apresentou a manifestação como um “ato moral e político” para reunir, disse ele, pessoas de todas as ideologias que querem apenas defender a “ordem constitucional da Espanha”. O escritor criticou Sánchez por mudar de opinião sobre os indultos e argumentou que os motivos do protesto não dizem respeito apenas à direita: “Ninguém é facha [facista] por dizer o mesmo que o presidente dizia há alguns meses”. “Aqui há gente da direita, mas também do centro e da esquerda”, acrescentou.
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Clique aquiRosa Díez começou em um tom mais de comício: “Espanhóis, todos, obrigada por estarem juntos! Espanhóis do bem, obrigada, somos a maioria!”. Díez anunciou que manifestações como aquela se repetirão nas próximas semanas em toda a Espanha. “Não vamos permitir que nossa nação seja entregue como pagamento aos grandes criminosos para que Sánchez possa dormir mais dois anos em La Moncloa [sede do Governo nacional]”, disse ela.
Os três partidos de direita voltaram à Praça Colón mais de dois anos depois que, em 10 de fevereiro de 2019, PP e Cidadãos se manifestaram e se fotografaram ao lado do Vox, então ainda uma força extraparlamentar. Desde aquele dia, os discursos de esquerda não pararam de propagar a imagem do “trio da Colón” para acusar seus rivais de terem se deixado levar pela estratégia da extrema direita. Desta vez, a convocação para a manifestação foi muito diferente. Não partiu do PP e do Cidadãos, como então, mas de uma plataforma cívica, a União 78, promovida pela ex-socialista Díez, com intelectuais de grande peso no combate aos nacionalismos periféricos. O Vox aderiu de imediato e depois, com alguma relutância, o Partido Popular e o Cidadãos. A posição do PP tem sido marcada pela hesitação: não mobilizou seus militantes de fora de Madri nem fez chamados públicas para o comparecimento ao protesto. Só os membros do PP madrilenhos aderiram sem fissuras, enquanto os demais barões territoriais situados em cargos mais moderados —os presidentes de Governo da Galícia, da Andaluzia e de Castela e Leão— justificaram as suas ausências.
A manifestação de 2019 na praça Colón foi convocada depois do anúncio de que o Governo aceitava a presença de um relator externo na mesa de diálogo com a Generalitat (Governo Catalão), medida que causou polvorosa e que o Executivo retirou poucos dias depois. No manifesto lido naquele dia 10 de fevereiro já se denunciava que Sánchez havia “cedido à chantagem” dos independentistas e que negociava seu apoio à aprovação dos Orçamentos do Estado “em troca da soberania nacional”. Nada parecido com isso ocorreu, mas acusações semelhantes foram ouvidas novamente neste domingo, agora a respeito da reconhecida intenção do Governo de perdoar os condenados pelo processo independentista catalão.
A declaração de 2019 terminou fazendo um chamado à “convocação imediata de eleições gerais”. Não demorou muito para que esses desejos fossem atendidos. Os espanhóis foram chamados às urnas no dia 28 de abril, Sánchez saiu vencedor e o PP teve o pior resultado de sua história. Já o Cidadãos deu um salto e ficou com quase a mesma representação do PP, enquanto o Vox irrompeu com mais de 10% dos votos. As eleições se repetiram em novembro e o grande resultado do Cidadãos de repente evaporou, até acabar com a carreira de seu líder, Albert Rivera. O PP se recuperou às suas custas e o Vox fez outro avanço importante, ultrapassando os 15%.
As sequelas daquele episódio condicionaram as estratégias dos partidos antes da convocação da manifestação deste domingo. PP e Cidadãos não quiseram ficar de fora do protesto contra uma medida que, segundo pesquisas, a maioria dos espanhóis rejeita. Mas, ao mesmo tempo, ambos têm feito todo o possível para evitar uma nova foto com o Vox, com medo de que o partido de Abascal capitalize o descontentamento entre os setores da direita.
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