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Nerola, a cidade italiana transformada em laboratório humano contra o coronavírus

Um hospital de Roma experimenta um sistema combinado de testes com os cidadãos isolados de Nerola

Daniel Verdú
O município de Nerola, a poucos quilômetros de Roma, foi transformado em laboratório contra o coronavírus, onde estão sendo aplicados os três testes disponíveis a seus quase 2.000 habitantes.
O município de Nerola, a poucos quilômetros de Roma, foi transformado em laboratório contra o coronavírus, onde estão sendo aplicados os três testes disponíveis a seus quase 2.000 habitantes.MASSIMO PERCOSSI (EFE)

Em 26 de março, uma pequena cidade ao norte de Roma, empoleirada no topo de uma colina, disparou todos os alarmes em plena crise do coronavírus. Nerola, a 53 quilômetros da capital e com uma população de 1.950 habitantes, alertou para um foco de contágio em uma região relativamente controlada como o Lácio. Cerca de 80 pessoas, entre trabalhadores e residentes, deram positivo em um lar de idosos. Fora, eles já haviam transmitido a doença para ao menos seis outras pessoas. O Governo, alarmado, decidiu fechar a cidade. Os alimentos deveriam ir diretamente para as casas e os comerciantes receberiam abastecimento de fora uma vez por semana. Uma situação excepcional em plena crise na qual o Hospital Spallanzani, de Roma, viu a oportunidade para iniciar uma experiência ambiciosa e transformar a cidade no tubo de ensaio da Itália.

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A Prefeitura fechou a casa de repouso e enviou todos os pacientes para fora do município, lacrando-a com três controles nas entradas e saídas. Mas o foco poderia ter se estendido ainda mais. Como em outros lugares da Itália, as pessoas com sintomas foram submetidas a testes, mas estes não permitiam uma análise da situação suficientemente precisa: os assintomáticos eram o verdadeiro problema. Assim, o Spallanzani, em uma pesquisa liderada por seu diretor, o doutor Francesco Vaia, enviou uma equipe de médicos para lançar a experiência. Seriam realizados os três tipos de testes atualmente disponíveis em toda a população: o de faringe/nasal, o sorológico normal para detectar se a pessoa desenvolveu os anticorpos mediante coleta de sangue e o rápido, que deveria permitir um resultado semelhante em poucos minutos com uma leve espetada no dedo. “Tudo isso começou há uma semana. Nós concordamos desde o início. A população está mais tranquila assim, aceitamos com muito prazer”, afirma a vice-prefeita de Nerola, Elena Trecciola.

Os cidadãos ficaram confinados em suas casas e uma equipe de médicos foi realizar os exames. “Imediatamente foram feitos testes em todos os parentes e vizinhos dos trabalhadores. Mas logo se estenderam a todos. Nerola se tornou um laboratório. Já fizemos cerca de 700 testes e pouco a pouco completaremos praticamente todo o arco populacional. Dessa forma, também poderemos detectar quem tem os anticorpos e superou a doença”, aponta Trecciola. Uma iniciativa que já foi realizada com sucesso em Vo’ Euganeo, uma das primeiras cidadezinhas confinadas na região do Vêneto, a nordeste.

O Hospital Spallanzani tornou-se referência na pesquisa sobre a Covid-19 desde que, no final de janeiro, dois pacientes chineses foram internados em sua unidade de terapia intensiva com a doença, contraída em seu país de origem. O centro de saúde romano conseguiu curá-los depois de algumas semanas e redimensionou suas atividades de pesquisa e de saúde voltando-as para esse tipo de coronavírus. O doutor Vaia entendeu rapidamente que Nerola poderia ser uma oportunidade. “Vimos que esse vírus não havia se espalhado de forma homogênea na região metropolitana de Roma. Havia relativamente poucos contágios. Isso nos dizia que tínhamos de ir aonde estavam os focos para derrotá-lo. Nerola é emblemática para este projeto. Lá foi gerado um foco muito importante que nos permitia investigar os falsos negativos, que podem contagiar um grande contingente populacional”, aponta ao telefone.

Os cidadãos de Nerola receberam inicialmente a equipe de médicos que se deslocou até lá com certa ansiedade, lembra o doutor Pierluigi Bartoletti, um dos encarregados do trabalho de campo. “Pouco a pouco foi sendo criado um bom relacionamento e pôde ser feito de forma natural. Montamos uma barraca ao ar livre e realizamos os três testes no mesmo dia em cada cidadão para verificar se os reagentes eram confiáveis”, ressalta. A experiência, conclui Vaia, será útil em nível estatal quando estiver concluída. “Ao juntar os três testes, sabemos se a pessoa é positiva há muito tempo, se está entrando ou saindo da doença. O mais importante é que nos indica os negativos que têm anticorpos elevados e estiveram em contato com o vírus. É fundamental para conhecer a população que passou pelo vírus”, afirma. E esses, diz o Governo italiano, serão a vanguarda da reabertura.

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