Reino Unido encomendou milhares de testes para coronavírus que não funcionaram
Infectado pelo coronavírus, premiê britânico precisou ser transferido para UTI após piora em seu quadro de saúde
O Governo de Boris Johnson colocou nas mãos de John Newton, um cientista de prestígio que está à frente do Serviço Nacional de Saúde (NHS), a estratégia de realizar testes em massa na população que permitam ao Reino Unido abandonar gradualmente o confinamento domiciliar. A primeira tarefa do professor foi jogar um jarro de água fria nas expectativas criadas: os quase 3,5 milhões de kits adquiridos pelo Executivo mostraram não ser suficientemente confiáveis.
“Os testes desenvolvidos na China foram validados com pacientes que sofreram sintomas graves do coronavírus e que tinham sido infectados com uma carga viral alta, por isso geraram muitos anticorpos (...) Nós precisamos realizar esses testes em uma população muito grande, que inclua pessoas com sintomas leves. Para isso, necessitamos de testes que funcionem melhor do que os adquiridos”, disse Newton ao jornal The Times.
A revelação desse fracasso ocorre em um momento de agravamento do quadro de saúde do premiê Boris Johnson, infectado pelo coronavírus desde março. Ele havia sido internado no domingo no hospital St. Thomas, em Londres, e precisou ser transferido para a ala de tratamento intensivo nesta segunda-feira após ter dificuldade para respirar. Seu Governo enfrenta críticas cada vez mais duras por sua falta de planejamento e pela lentidão com que está realizando testes entre os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente. O ministro da Saúde, Matt Hancock, prometeu realizar 100.000 testes diários a partir do final de abril, depois que o próprio Johnson se comprometeu a alcançar a cifra de 250.000.
Newton assumiu a liderança de um enorme esforço nacional para poder realizar o teste preciso de anticorpos e anunciou a criação de três megalaboratórios que se concentrarão nesse esforço, além da cooperação do Governo com nove grandes laboratórios, mas já alertou que o resultado desejado pode demorar “meses” para chegar.
O Governo britânico anunciou há apenas duas semanas que em breve estaria pronto para enviar milhões de kits para as casas do Reino Unido ou colocá-los à disposição dos cidadãos nas farmácias. “Essa ideia se baseou no pressuposto de que poderíamos simplesmente comprar os testes já existentes, mas neste momento avaliamos que não seria a coisa certa a fazer”, reconheceu Newton. “Faz muito mais sentido continuar fazendo ensaios até que possamos melhorar os testes.” Agora as autoridades acreditam que poderão cancelar muitos dos pedidos de compra já emitidos e, “na medida do possível, recuperar os valores”. E afirmam que outros países já tiveram que devolver testes que haviam falhado. “A Espanha se viu obrigada a devolver kits que não funcionaram. E a Alemanha, que está desenvolvendo seus próprios testes, acredita que levará pelo menos mais três meses para serem validados e estarem ao alcance de toda a população", disse o professor John Bell, imunologista da Universidade Oxford, no comando de uma das equipes que estão colaborando com o Governo Johnson.
Alguns dos kits testados mostraram falsos positivos por terem sido realizados em pessoas que haviam sido infectadas previamente por outro tipo de vírus que gera a criação de anticorpos semelhantes aos que o organismo produz em resposta à Covid-19.
Pelo menos 8% dos profissionais de saúde do NHS permanecem em isolamento domiciliar, sem saber se foram ou não infectados pelo vírus. O Governo deu instruções para que se submetam a isolamento todos os cidadãos que compartilham residência com algum infectado pela doença. A prioridade de Downing Street nas últimas horas é acelerar os testes das pessoas que atualmente são necessárias nas linhas de frente da batalha para combater o Covid-19.
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