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Bernie Sanders vence na segunda rodada das primárias de democratas nos EUA

Com 85% dos votos apurados em New Hampshire, Pete Buttigieg mantém o ímpeto com uma segunda colocação, enquanto pesos-pesados como Warren e Biden ficam em quarto e quinto lugares

Simpatizantes de Bernie Sanders acompanham a apuração das primárias em Manchester, New Hampshire.
Simpatizantes de Bernie Sanders acompanham a apuração das primárias em Manchester, New Hampshire.JOE RAEDLE (AFP)
Amanda Mars

O senador esquerdista Bernie Sanders venceu nesta terça-feira a eleição primária do Partido Democrata em New Hampshire e se consolidou como favorito nas pesquisas de âmbito nacional, posto que até esta semana cabia a Joe Biden, que foi vice-presidente no mandato de Barack Obama e promete recuperar a Washington daquela época, após quatro anos da tempestade Trump. Pete Buttigieg, que surpreendeu ao sair como vencedor em Iowa, aos 38 anos de idade e uma experiência que se limita a governar uma cidade de 100.000 habitantes, emplacou a segunda posição, não muito distante do líder Sanders. Se fosse para escolher apenas uma das mensagens desta noite, seria a de que recuperar o passado não é algo que desperte muitas paixões para os norte-americanos.

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E isso em um contexto que, para Sanders, tudo soa como uma segunda chance, um reencontro com a história. Em 2016, ele venceu a primária democrata de New Hampshire contra Hillary Clinton. Quatro anos depois, aos 78, e poucos meses depois de sofrer um ataque cardíaco, o veterano político de Vermont não só resiste como também ganhou solidez. Agora não terá que enfrentar mais adiante uma figura única e muito forte como era Clinton, e sim com outros oito aspirantes que fragmentam o voto. Com 85% das cédulas apuradas, Sanders tinha 26% dos votos, contra 24,4% de Buttigieg. Trata-se de uma fotografia muito semelhante à dos caucus (assembleias eleitorais) da semana passada em Iowa: o mais velho da disputa e o mais jovem, separados por quatro décadas, colocam-se à frente.

New Hampshire também deu um empurrão a Amy Klobuchar, a primeira mulher senadora por Minnesota, que ficou em terceiro lugar (19,8% dos votos) depois de alguns dias de lua-de-mel com a mídia, impulsionada pelo bom debate da sexta-feira e o apoio do conselho editorial do The New York Times, que a colocou no mapa quando nem sequer aparecia entre os favoritos nas pesquisas. Na noite desta terça, apresentou-se à imprensa como se fosse a vencedora. “Oi, América, sou Amy Klobuchar e vou derrotar Donald Trump”, disparou assim que se pôs diante do microfone. Por outro lado, o resultado abalou Joe Biden, quinto colocado (8,4%), e a senadora Elizabeth Warren, quarta (8,4%), dois pesos-pesados do partido que saem deste segundo round da disputa sem nenhum delegado no bolso.

Assim funciona New Hampshire, um Estado de 1,3 milhão de habitantes, que envia apenas 24 dos 1.991 delegados necessários para conquistar a indicação do partido, mas que, como os caucus de Iowa na semana passada, representam o primeiro comparativo entre as expectativas e a realidade. E há vítimas. Warren, uma política popular, referência na guinada à esquerda de parte dos democratas e natural do vizinho Estado de Massachusetts, está fazendo uma campanha muito trabalhada, tanto na rua como nos postos de comando, com comícios eletrizantes e planos econômicos muito concretos. Nas pesquisas nacionais, chegou a aparecer em terceiro lugar, mas os primeiros resultados do ciclo de primárias foram um balde de água fria para ela.

O candidato democrata Bernie Sanders.
O candidato democrata Bernie Sanders. MIKE SEGAR (Reuters)

Em contraste, o ginásio onde os seguidores de Sanders acompanhavam a noite eleitoral, no campus da Universidade do Sul de New Hampshire, na cidade de Manchester, virou uma festa quando a apuração cobria apenas 20% dos votos. Depois, à medida que o escrutínio avançava e Buttigieg permanecia nos calcanhares do senador socialista, a euforia diminuiu. Restam muitas primárias pela frente, mas alguns, que já haviam sido apoiadores do senador nas primárias de 2016, transmitiam a sensação de estarem vivendo 2020 como uma oportunidade para a justiça histórica. “Deixem-me dizer que esta vitória aqui hoje marca o começo do fim da presidência de Trump”, clamou Sanders.

Loreto Amadeo, de 57 anos, votou nele há quatro anos e se manteve fiel à chapa democrata quando Clinton foi indicada, “mas infelizmente perdeu do mesmo jeito contra Trump”. Agora, tornou a votar no senador e a responder às perguntas de então, sobretudo se um político que se apresenta como socialista perante o mundo seria capaz de vencer uma eleição presidencial nos Estados Unidos. “Aqui ele ganhou, pode ganhar, é o momento para que ele tente, ele é um milhão de vezes melhor que Trump”, argumenta. O filho dela, Tomás, de 24 anos, diz que “as pessoas vão olhar além das etiquetas de socialismo ou não socialismo, e ele vai se centrar em políticas que ajudem aos trabalhadores, isso não dá medo”.

Sanders não pertence formalmente ao Partido Democrata —é um independente que dedicou toda a sua vida a colocar o socialismo no centro da política dos EUA, um país acostumado a associar esse termo à extinta União Soviética. O senador jogava em casa, de certa forma, pois tem origem no vizinho Estado de Vermont. Há quatro anos, ganhou a primária de New Hampshire contra Hillary Clinton, mas logo começou a perder duelos de mais peso populacional e saiu derrotado. O cenário mudou: agora a corrida democrata se encontra superpovoada com figuras inscritas na tradição mais moderada do partido, que dividem o voto, e o senador está superando sua única rival no flanco esquerdista, Warren. Esta tratou de relativizar os resultados, felicitou o primeiro e segundo colocados por “suas duas noites fortes” e avisou que esta é para ela uma “corrida de fundo”.

Biden era o favorito nas pesquisas de âmbito nacional até Iowa e, depois dos maus resultados nos caucus, foi caindo nas pesquisas até se situar atrás de Sanders. "Isto não acabou, acaba de começar", reivindicou ele nesta terça-feira, já longe de New Hampshire, onde nem sequer ficou para passar a noite eleitoral. O vice-presidente da era Obama pretende recuperar seu ímpeto nas próximas disputas, os caucus de Nevada, em 22 de fevereiro, e a primária da Carolina do Sul, no dia 29. Para isso, confia na sua força entre o eleitorado hispânico e afro-americano. Será também a hora da verdade para o jovem Buttigieg, pois o apoio que atrai nas pesquisas entre os eleitores negros e latinos não chega nem a 5%.

O teste de New Hampshire arrastou dois pré-candidatos consigo. Andrew Yang, o empresário de origem asiática cuja proposta mais notável consistia em uma renda universal de 1.000 dólares mensais, anunciou sua desistência logo depois do fechamento das urnas, quando os resultados nem tinham começado a ser anunciados. Pouco depois foi a vez do senador Michael Bennet, do Colorado, que nunca conseguiu chegar a percentuais de dois dígitos nas pesquisas. Restam nove democratas na corrida, e muita incerteza.

O Partido Democrata ainda não resolveu seu dilema: se a maneira de derrotar Trump é apresentar a um candidato moderado ou um velho roqueiro da esquerda como Sanders. Steve Mattloff, um engenheiro da informação de 56 anos, admitiu que derrotar o atual presidente seria “muito difícil”, mas rejeitava a ideia de que isso seria mais complicado para o senador de Vermont do que para seus rivais. “Muito do sucesso de Trump é pessoal, é uma questão de culto pessoal, e o único dos democratas que obtém esse mesmo efeito nos fãs é Bernie Sanders. Se as eleições forem ganhas assim, o homem é Sanders”, apontou.

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