Trump inicia a revanche contra os democratas depois de superar o impeachment
Presidente dos EUA festeja o fim do “calvário” do julgamento com um discurso-espetáculo
Donald Trump apareceu exuberante e verborrágico, cheio de si mesmo, diante dos norte-americanos na quinta-feira, o dia seguinte à sua absolvição no processo de impeachment. Por cerca de uma hora contou piadas, zombou dos políticos e disse falsidades sobre o que aconteceu com a trama russa e o escândalo ucraniano. Chamou os democratas de “corruptos” e “malvados”. É difícil encontrar outro momento nestes três anos de presidência em que o presidente tenha se mostrado mais presunçoso, nem mesmo quando venceu as eleições. O dia seguinte ao julgamento histórico dá pistas do futuro: Trump encara as eleições presidenciais de 2020 como um contra-ataque.
Depois do meio-dia, Trump entrou na sala leste da Casa Branca ao som do triunfal Hail to the chief, o hino pessoal dos presidentes dos Estados Unidos. Ergueu como um troféu a capa do jornal The Washington Post com a manchete ‘Trump, absolvido’ e fez um discurso que misturou euforia com sede de vingança. “Passamos pelo inferno injustamente”, disse no início de sua fala diante de membros do Governo, congressistas republicanos, familiares e seguidores. “Foi ruim”, continuou ele, “foram policiais sujos, vazadores e mentirosos”.
A Câmara dos Representantes, de maioria democrática, iniciou em setembro o terceiro processo de impeachment de um presidente da história dos Estados Unidos após um escândalo de pressões sobre a Ucrânia por parte de Trump em busca de benefícios eleitorais. Na quarta-feira, o Senado, onde se dá o julgamento, absolveu o presidente graças à maioria republicana que o protege, com a exceção do senador de Utah Mitt Romney, que votou com os democratas a favor de destitui-lo do cargo.
Nesta quinta-feira, Trump ridicularizou Romney, tachou de “chorão” o líder dos democratas do Senado, Chuck Schumer, e acusou o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff ―que atuou como promotor e ponta de lança democrata neste julgamento―, de ter “inventado” a conversa dele com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. Na realidade, o conteúdo desse telefonema ao qual Trump se referiu foi tornado público pela própria Casa Branca em setembro, quando o caso irrompeu, e deixa evidente que o norte-americano pediu a Zelenski as investigações de seu rival.
“Isto é uma celebração", disse o presidente, em outro momento. Verdade. O magnata que chegou à Casa Branca por sua atuação em programas de televisão de reality show transformou em uma festa particular o discurso após a crise institucional mais grave de seu mandado. Abraçou a filha Ivanka, chamou sua mulher, Melania, imitou vozes de políticos, fez piadas com os congressistas aliados. Puro Trump.
Ele fez afirmações falsas sobre a chamada trama russa, a interferência de Moscou nas eleições de 2016 a fim de favorecer a vitória de Trump sobre sua rival democrata, Hillary Clinton. “Rússia, Rússia, Rússia”, alfinetou o presidente, “e tudo não passou de uma mentira podre”. Tanto a Justiça como os serviços de inteligência dos EUA confirmaram a interferência do Kremlin na eleição, bem como a investigação independente do promotor especial Robert S. Mueller. Mas Mueller não encontrou provas para acusar Trump ou seu entorno de conluio com a Rússia nesse estratagema. Ele também não se pronunciou sobre o possível crime de obstrução da Justiça, alegando a limitação constitucional para processar um presidente.
O impeachment terminou, mas a hostilidade política, não. O republicano apontou caminhos para o que virá no restante deste ano eleitoral. O efeito bumerangue de um julgamento político contra Trump, a estratégia de revanche que o magnata de Nova York poderia aplicar após a esperada absolvição, sempre estiveram presentes nos cálculos dos democratas na hora de dar início a esse tipo de processo.
Mas o impeachment, engendrado pelos pais da Constituição para poder destituir o presidente em caso de crimes ou delitos graves, não deve, na justiça, ser decidido com base em interesses eleitorais. Nem na hora de iniciá-lo nem de freá-lo. A prudência de democratas como Nancy Pelosi, presidenta da Câmara dos Representantes e terceira autoridade do país, atingiu o teto quando veio à tona o caso ucraniano em setembro, com um telefonema como o ponto de largada e vários depoimentos de peso. Pelosi resumiu assim: “Não nos restou alternativa”.
Nesta quinta-feira ainda havia a controvérsia sobre a hostilidade exibida no discurso do Estado da União, terça-feira no Congresso. Pelosi rasgou em público a cópia do pronunciamento do presidente, ainda na tribuna, um gesto muito polêmico. A veterana democrata argumentou que se tratava de um “manifesto de mentiras”. Ela também declarou que, independentemente do veredicto, o republicano “foi imputado politicamente para sempre, não importa o que diga ou o que as manchetes mostrem”. “Nunca vai remover essa cicatriz e a história sempre lembrará que foi indiciado por solapar a segurança de nosso país”, acrescentou.
A popularidade de Trump, embora baixa, está no nível mais alto de sua presidência (49%). Não está claro o efeito que esse julgamento político terá no ânimo dos eleitores.
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