Correr contra a insônia, ioga para a ansiedade, boxe antiestresse... Todo problema tem seu exercício
Determinadas atividades podem contribuir mais ou menos para a saúde mental de acordo com as características de cada pessoa e dependendo do momento pelo qual ela passa
Calçar as luvas e entrar em um ringue para dar socos a torto e a direito é muito mais do que um bom exercício para os músculos. Além de tonificar –tanto os braços quanto o core e as pernas–, queimar calorias e combater a celulite, o boxe é um esporte perfeito para a mente: ajuda a melhorar as qualidades analíticas e aumenta a autoconfiança. “Existem muitos estudos que corroboram estes efeitos benéficos do boxe para a saúde mental”, explica Elena Dapra, psicóloga clínica e porta-voz do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid (COPM), que acrescenta que “é empoderador e ajuda a reforçar a autoestima e a autovalia. Por isso pode ser bom para as pessoas que têm tendência à depressão”.
A palavra “tendência” não foi escolhida ao acaso. “Todos nós a temos e aparece quando passamos por momentos difíceis. Por exemplo, quando alguém com tendência à ansiedade atravessa um mau momento, sentirá ansiedade. Mas isso não significa que tenha um problema ou transtorno de ansiedade”, diz a especialista, que acrescenta que nesses casos o esporte não funcionará. “Se você tem um transtorno ou um problema, tem de ir ao psicólogo para tratá-lo.”
Todo exercício, em geral, ajuda a manter uma boa saúde mental. “A atividade física melhora a concentração e a acuidade mental”, explica Pablo del Río, psicólogo do esporte de alto rendimento e membro do COPM. E algumas disciplinas específicas casam melhor com algumas tendências, continua este especialista: “Cada esporte em particular pode oferecer maiores ou menores benefícios dependendo da condição de cada pessoa”.
Os esportes de contato, como o boxe e o body combat, “também podem servir para aliviar a tensão em caso de estar muito estressado ou irritado”, explica Rafael San Román, psicólogo do aplicativo de psicologia iFeel. Mas, diante do estresse, não só vale a pena dar socos como também é positivo aprender a relaxar. Como explica a porta-voz do COPM, isso acontece porque essa sensação “faz parte do mesmo grupo que a ansiedade ou os ataques de pânico, que têm sintomas muito físicos, como falta de ar ou tensão muscular”.
Portanto, a ioga é o exercício perfeito para esse tipo de tendências. “Ajuda a controlar a respiração, que é um dos sintomas que são disparados e retroalimentados quando se sente ansiedade. Sinto que estou me asfixiando, fico nervoso e então sinto mais asfixia. Em disciplinas como a ioga se aprende a respirar e a relaxar, duas coisas que também são utilizadas na terapia cognitivo-comportamental para tratar a ansiedade”, esclarece a especialista.
Na lista de exercícios para a saúde mental figuram atividades como o pilates, em que a concentração é fundamental. Com ele se aprende a dominar a respiração e a controlar o corpo, além de favorecer a produção de endorfinas, hormônios que ajudam a nos colocar de bom humor e a enxergar as coisas de forma mais positiva. São qualidades que, segundo os especialistas, podem ser benéficas no caso de sofrer de dois dos transtornos mentais mais comuns: ansiedade e ataques de pânico.
Outro exemplo é o running para os problemas de insônia. “Correr é recomendável para quem tem problemas de sono porque é um exercício que aumenta a frequência cardíaca. Fazê-la subir durante o dia favorece que se movimente e baixe à noite, o que é fundamental para um descanso de melhor qualidade”, acrescenta Dapra. Nesse sentido, seriam válidos todos aqueles esportes considerados cardiovasculares, como andar de bicicleta.
Nem todo exercício precisa ser feito sozinho. Ao contrário, esportes praticados em equipe, como o futebol, ajudam muito quem tem mais dificuldade de se relacionar. “Fazer parte de uma equipe é positivo para aqueles que têm de praticar suas habilidades sociais, pois os obriga a remar na mesma direção, a aprender a ler os códigos das outras pessoas, a se comunicar, a praticar a empatia e tudo o que tem a ver com a inteligência emocional. Não se nasce sabendo nada sobre isso, são capacidades adquiridas e que podem ser aprendidas”, esclarece a especialista.
Embora os especialistas garantam que esse tipo de combinação entre tendências psicológicas e exercícios costuma funcionar, também esclarecem que para além do geral é preciso ter em conta os gostos de cada um. “Pode haver alguém com ansiedade que a ioga lhe provoque muito mais angústia do que relaxamento. Por isso é preciso saber o que uma pessoa gosta de fazer”, diz o psicólogo do iFeel. E também as características físicas. “Você não pode dizer a uma pessoa com sobrepeso que nunca fez exercício na vida para correr 10 quilômetros. Para essa pessoa, uma caminhada mais curta pode ter os mesmos efeitos benéficos”, acrescenta a especialista.
E os três reiteram que esses conselhos são válidos para as inclinações que aparecem nos momentos difíceis e que acontecem com todos nós, não para as pessoas que precisam de tratamento. Nestes casos, o médico fará as recomendações pertinentes. “O esporte nunca é uma terapia em si, mas uma ferramenta mais, que funciona em grande parte dos casos porque são liberados hormônios como as endorfinas que favorecem o bom humor”, conclui Del Río.
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