“Sou atleta e, mesmo assim, o coronavírus me derrubou. É muito mais forte que uma gripe comum”
Primeiro jogador brasileiro a testar positivo para Covid-19, o atacante Jonathas conta como o vírus o debilitou por quase duas semanas
No último 8 de março, milhares de mulheres tomaram as ruas de Madri em protestos pelo Dia Internacional da Mulher. Naquela tarde, a delegação do Elche estava na capital espanhola, onde derrotou o Rayo Vallecano pela segunda divisão da La Liga. O atacante Jonathas de Jesus precisou ser substituído ainda no primeiro tempo da partida por causa de uma lesão, mas viajou de volta para Alicante sem limitações. Na mesma semana, porém, percebeu que não estava bem. Dores generalizadas pelo corpo, febre e fraqueza. “Não sentia gosto nem cheiro de nada”, conta o jogador, que, no domingo seguinte, se tornou o primeiro atleta brasileiro diagnosticado com o coronavírus.
Aos 31 anos, ele foi o único de sua equipe a ser infectado. Os sintomas evoluíram rapidamente. “No primeiro dia, achei que tinha pegado só um resfriado. Mas logo depois percebi que era uma coisa muito mais forte, diferente da gripe comum”, diz Jonathas. “Fiquei fraco demais, sem força pra levantar da cama. Além da tosse, batia uma moleza, um cansaço fora do normal.” Como não melhorava tomando antitérmicos e analgésicos, os médicos do Elche recomendaram que ele fizesse o teste para Covid-19, que deu positivo. Não chegou a ser internado no hospital e, com orientação para se hidratar mais, cumpriu a quarentena se recuperando em casa.
Por ter sofrido os efeitos da doença, Jonathas discorda do pronunciamento de Jair Bolsonaro na semana passada. O presidente afirmou que, por seu “histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, seria, quando muito, acometido por uma gripezinha’”. “Sou atleta e, mesmo assim, o coronavírus me derrubou”, ressalta o jogador, que se diz aliviado por saber que o presidente, segundo sua equipe médica, testou negativo. “Fico feliz por ele [Bolsonaro]. Se pegasse, ele iria mudar o conceito, porque é uma doença bem chata. Como diz o ditado, ‘só quem sofre sabe a dor que tem.”
Jonathas mora sozinho na Espanha. A família, incluindo as duas filhas, estão no Brasil. No período de recuperação, ele contou com a ajuda de amigos e o suporte do clube. Após quase duas semanas debilitado, ele retomou aos poucos a rotina de exercícios e, hoje, com os campeonatos suspensos por causa da pandemia, segue mantendo a forma física dentro de casa, sentindo-se totalmente recuperado. “Como eu sempre me cuidei e tenho boa saúde, isso me ajudou a superar o coronavírus. Mas se um atleta de alto rendimento pode sofrer um baque tão grande como eu sofri, imagine uma pessoa idosa ou sedentária? Esse vírus não é brincadeira.”
Para Jonathas, sua recuperação só não foi mais complicada pelo fato de ter conseguido manter a tranquilidade da família à distância e, sobretudo, o próprio equilíbrio emocional. “A Espanha é um epicentro do coronavírus aqui na Europa. Na semana em que fiquei doente, as pessoas começaram a entrar pânico com o avanço da epidemia pelo país. Eu tentei manter a cabeça no lugar e tranquilizar minha família no Brasil. Tinha confiança de que iria melhorar.” Com mais de 94.000 infectados e 8.000 mortos, a Espanha é o terceiro país com mais casos de coronavírus confirmados, atrás de Estados Unidos e Itália.
Enquanto clubes espanhóis discutem a redução salarial dos jogadores como forma de compensar a paralisação dos torneios, Jonathas afirma que, neste momento, o futebol está em segundo plano diante dos desdobramentos da pandemia. De longe, preocupado com os familiares, o jogador com passagens por Corinthians e Cruzeiro espera que o Brasil entenda a gravidade da situação em outros países para não retroceder em relação às medidas de isolamento. “Depois do que aconteceu comigo, minha família abriu o olho. Sabe que é importante cuidar da nossa saúde e da saúde do próximo. É triste ver as pessoas prejudicadas no dia a dia, outras perdendo emprego, mas o único jeito pra tudo voltar ao normal o quanto antes é ficar em casa.”
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