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Vírus respiratórios reaparecem com a volta às aulas e já ultrapassam casos de covid-19 entre crianças, alerta Fiocruz

Documento da entidade alerta para o aumento das internações de crianças até nove anos no país após a diminuição das restrições de circulação

Uma aluna tem sua temperatura medida ao entrar na escola no primeiro dia de aula, em São Paulo.
Uma aluna tem sua temperatura medida ao entrar na escola no primeiro dia de aula, em São Paulo.CARLA CARNIEL (Reuters)
Beatriz Jucá

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Síndromes respiratórias causadas por vírus que não o coronavírus ressurgiram no último mês, após a volta às aulas, e já ultrapassam a covid-19 em número de casos, alerta o mais recente boletim da Fiocruz sobre as Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs). O documento afirma que crianças até nove anos estão sendo mais internadas nos últimos meses, acometidas por casos de Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e de Rinovírus, que haviam praticamente sumido das estatísticas com as restrições provocadas pela pandemia e voltaram a ser crescer desde o início do ano, com uma explosão no último mês.

O reaparecimento destes vírus respiratórios aponta a importância de se manter alguns cuidados preventivos, como o uso de máscaras adequadas e os ambientes ventilados. “Há uma maior exposição das crianças. Elas voltaram a circular mais, voltaram a frequentar as escolas de maneira geral, então isso faz com que a transmissão dos vírus respiratórios em crianças seja maior”, explica o coordenador do InfoGripe e pesquisador da Fiocruz, Marcelo Gomes.

O médico pneumologista Frederico Fernandes lembra, em uma postagem feita no Twitter, que houve queda de circulação de viroses respiratórias durante um período na pandemia. O uso de máscaras e o isolamento social, que manteve as crianças em casa, cortaram o ciclo de transmissão destes vírus. Mas, com a mudança de cenário e as reaberturas, as viroses voltaram a explodir. E, segundo o médico, há um grupo ainda mais suscetível às doenças. “Crianças até três anos que não viveram período escolar e tiveram pouca socialização durante esses meses estão em risco de desenvolver quadros graves. Não tiveram as viroses na cadência certa para desenvolver imunidade, e o resultado disso é um boom em internações nessa faixa etária”, aponta.

De acordo com o boletim do Infogripe, a incidência de síndrome respiratória aguda grave ―ou SRAG, uma complicação da covid-19 e de outras doenças respiratórias― em crianças está estável, mas com uma média elevada de 1.000 a 1.200 casos semanais. Este índice é semelhante àquele visto em julho do ano passado, quando o novo coronavírus se espalhava pelo país e ainda não havia vacina contra a doença aprovada. Isso significa que as estatísticas de crianças internadas estão, neste momento, na contramão do arrefecimento observado nas demais faixas etárias, que agora apresentam o menor registro de casos de SRAG desde o início da crise sanitária.

E aí há duas questões. A primeira é que as crianças seguem expostas à covid-19, já que ainda não há imunizante contra a doença aprovado no país para esta faixa etária. E a segunda é a exposição aos demais vírus que voltaram a aparecer nos últimos meses. “O que chama atenção é este cenário que nos preocupa desde o começo do ano, que é o aumento no numero de casos de SRAG em crianças abaixo de 10 anos (...) Hoje não estão numa situação tão dramática como março e maio, mas está num patamar acima de todo o ano passado”, aponta Gomes.

Segundo ele, a maior tendência de internação de crianças por síndrome respiratória está na região Centro-Sul do Brasil, com destaque para os Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que têm apresentado aumento de casos provocados por outras viroses. Em São Paulo, por exemplo, os casos semanais de Bocavírus, Parainfluenza 3 e Parainfluenza 4 em crianças de até nove anos já se equiparam aos casos de covid-19. “Precisamos de um cuidado muito atento no ambiente escolar”, defende o pesquisador da Fiocruz. Entre as medidas preventivas, está a limitação de alunos por sala de aula, a manutenção destes ambientes arejados e o uso de máscaras. “São ações fundamentais não só em relação à covid-19, mas aos vírus que sempre causaram problemas em crianças pequenas e agora voltaram a aparecer.”

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