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Só 4,4% dos contagiados entre 5 e 17 anos sofrem covid-19 de longa duração

Maioria das crianças e adolescentes se cura em seis dias e manifesta dois ou três dias de sintomas: fadiga, dor de cabeça e perda de olfato

Coleta de amostra de menino para exame de covid-19 em Jerusalém, em 29 de julho.
Coleta de amostra de menino para exame de covid-19 em Jerusalém, em 29 de julho.MENAHEM KAHANA (AFP)
Raúl Limón

As crianças e adolescentes de 5 e 17 anos que contraem covid-19 costumam melhorar num prazo de seis dias, e o número de menores que sofrem sintomas depois de quatro semanas é baixo: 77 em um total de 1.734 infectados, o que representa 4,4%, segundo um estudo desenvolvido no Reino Unido e publicado nesta quarta-feira na revista The Lancet Child & Adolescent Health. A chave para este bom comportamento é que os mais jovens têm o sistema imunológico recém-formado.

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Óscar Corral
10/09/20
Por que as crianças se infectam menos, contagiam menos e sofrem menos os efeitos da covid-19?

O estudo, com dados de 250.000 menores, mostra que 1.734 deles desenvolveram sintomas da covid-19 e deram positivo em exames PCR. Na sua maioria, passaram pouco menos de uma semana doentes e experimentaram em média três sintomas nos primeiros dias, o que confirma que a doença tende a se manifestar como uma doença leve em crianças, geralmente com um rápido restabelecimento. A grande maioria nessa faixa etária não apresenta mais sintomas após quatro semanas, e uma pequena parcela (4,4%) relatava ter duas ou três manifestações da doença um mês depois do diagnóstico, conforme detalha o estudo.

Sintomas

Estas manifestações posteriores a quatro semanas eram fadiga (84%), dor de cabeça e perda de olfato (77,9%). De todos, a dor de cabeça foi o sintoma mais comum, detectado desde o início da infecção. Entretanto, o mais persistente é a perda de olfato. Só 1,8% dos contagiados experimentaram sintomas durante mais de oito semanas.

O estudo foi feito a partir dos dados reunidos por pais e cuidadores através de um aplicativo de celular entre 1º de setembro de 2020 e 22 de fevereiro de 2021. Com base nos dados obtidos, Emma Duncan, autora principal do estudo e pesquisadora do King’s College de Londres, afirmou: “É tranquilizador que o número de crianças que sofrem sintomas duradouros seja baixo. Entretanto, um pequeno número de crianças experimenta uma longa enfermidade”.

A grande maioria das crianças infectadas com o coronavírus não desenvolvem sintomas e aqueles que manifestam apresentam uma doença leve

Em adultos, os sintomas costumam perdurar por quatro semanas ou mais ―alguns cálculos apontam que até 20% podem ter um curso prolongado da doença. Já entre as crianças e adolescentes infectados com o vírus SARS-CoV-2, a maioria não desenvolve sintomas, e os que o fazem tendem a sofrer uma forma leve da doença.

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Por quê?

Jesus Rodríguez Baño, pesquisador, professor de Medicina da Universidade de Sevilha e chefe de serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Virgen Macarena, considera que a razão deste bom comportamento entre os menores pode ser a resposta inata do sistema imunológico. O ser humano nasce com esse sistema de defesa, que permite proteger o corpo contra infecções. É a primeira linha de reação do organismo contra um agente patogênico. Baño, pesquisador do Instituto de Biomedicina de Sevilha (IBiS) e membro da Rede Espanhola de Pesquisa em Patologia Infecciosa (REIPI, na sigla em espanhol), explica que “é possível que no caso das crianças a reação imunológica seja mais eficaz e rápida. Ela é muito importante para evitar a replicação viral inicial”.

A partir dessa primeira linha de defesa se gera a imunidade adquirida, o que implica a fabricação de linfócitos de memória capazes de voltar a detectar a infecção após certo tempo e de reativar os mecanismos de proteção. “Esta imunidade adquirida também é crucial; é a que a vacina gera. A inata é muito importante no começo, mas a adquirida é a que arremata a tarefa”, simplifica Rodríguez Baño para explicar o processo. Nos mais velhos, entretanto, ocorre um efeito chamado imunossenescência, a deterioração progressiva do sistema com a idade.

Esta vantagem do sistema imunológico recém-estreado explica o porquê, segundo o estudo britânico, adolescentes passam mais tempo doentes que crianças. De acordo com a investigação, os secundaristas (de 12 a 17 anos) levam em média sete dias para se curar, enquanto seus colegas do primário (de 5 a 11 anos) demoram apenas cinco.

Crianças maiores e adolescentes ficam mais tempo doentes. Os estudantes de 12 a 17 años ficam doentes após contrair o vírus por cerca de sete dias, enquanto os companheiros de primária (de cinco a 11 anos) se curan em apenas cinco dias

Do mesmo modo, os menores com mais idade (51% dos alunos secundaristas) também tinham mais probabilidades de apresentarem sintomas depois de quatro semanas do que as crianças menores (3,1%), embora ambos os grupos reflitam uma recuperação majoritária total antes das oito semanas.

Outra explicação para a eficaz reação dos menores contra a covid-19 aparece num estudo que saiu em 5 de novembro do ano passado na Nature Immunology, feito com 32 adultos e 47 menores de 18 anos. Neste trabalho, se mostra como os menores produzem anticorpos especialmente direcionados contra as proteínas das espículas do coronavírus, as que permitem a infecção e a replicação viral.

Além disso, entre as crianças e adolescentes se detectou a presença de menos receptores ACE2, uma proteína humana fundamental para a infecção pelo coronavírus. Um trabalho publicado na Science já em maio de 2020 mostrava como a espícula do agente patogênico utiliza a ACE2 para se encaixar na célula humana e introduzir seu material genético.

Os pesquisadores do estudo britânico também destacam a importância de levar em conta a confluência de outras enfermidades com a covid-19. Neste sentido, Michael Absoud, também autor principal do estudo que saiu na The Lancet e pesquisador do King’s College de Londres, afirma: “Nossos dados destacam que outras doenças, como os resfriados e a gripe, também podem ter sintomas prolongados nas crianças, e é importante levar isto em conta ao planejar os serviços de saúde pediátrica durante a pandemia e depois. Isto será particularmente importante porque é provável que a prevalência destas doenças aumente à medida que forem relaxadas as medidas de distanciamento físico adotadas para prevenir a propagação da covid-19”.

Os resultados do estudo britânico sobre a maior capacidade dos menores para se defenderem da pandemia e apresentarem uma sintomatologia leve também foram refletidos no estudo intitulado Kids Corona, do Hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona, feito com 411 famílias que incluíam 724 crianças em que o pai e/ou a mãe tiveram covid-19. Este trabalho mostrou que mais de 99% dos menores não mostrava sintomas, ou estes eram pouco relevantes. Enquanto isso, 33,8% dos adultos do estudo apresentavam carga viral na nasofaringe um mês depois, circunstância que só se dava em 11,9% dos menores.

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