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Mesmo com receio de confronto, opositores marcam posição contra Bolsonaro

Em número bem menor que os bolsonaristas, oposição promoveu protestos em diversas cidades. Atos dos críticos do Governo para o dia 12 pretendem rivalizar com as demonstrações de apoio ao presidente

Protesto contra o Governo Bolsonaro realizado no Vale do Anhangabaú, neste 7 de Setembro.
Protesto contra o Governo Bolsonaro realizado no Vale do Anhangabaú, neste 7 de Setembro.CARLA CARNIEL (Reuters)
Diogo Magri Bruno Luiz Marília Sena
São Paulo / Salvador / Brasília -
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O pior não aconteceu. Apesar dos receios sobre confronto entre apoiadores e opositores do Governo Jair Bolsonaro, as manifestações a favor e contra o Governo transcorreram em paz em diversas cidades do país. O número de manifestantes contrários ao Governo, contudo, nem se compara à quantidade de bolsonaristas que saiu às ruas. A oposição promete uma mobilização maior, capaz de rivalizar com os atos bolsonaristas este 7 de Setembro, para o próximo domingo, e os organizadores já tentam usar as expressivas imagens colhidas pelo presidente nesta terça-feira para incentivar maior adesão no próximo dia 12. “Dia 12 de Setembro deve ser a resposta definitiva ao golpismo de Bolsonaro. Ele não pode sair com a sensação de que pode tudo. Não interessa sua ideologia ou seu candidato, se você defende a democracia e quer a quadrilha bolsonarista na cadeia, dia 12 estaremos juntos”, escreveu o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), em seu perfil no Twitter. Kataguiri é um dos principais expoentes do Movimento Brasil Livre (MBL), que promove os atos do próximo domingo.

Nesta terça, cerca de 50.000 pessoas —nas sempre generosas contas dos organizadores— se reuniram no Vale do Anhangabaú para protestar contra Bolsonaro no ato chamado de Grito dos Oprimidos. Os manifestantes exibiram faixas partidos de esquerda e centrais sindicais, e ouviram discursos de políticos como Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT). Também foram feitas homenagens às vítimas da covid-19 —em sua maioria, os manifestantes usavam máscara. Coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim considerou a manifestação “extraordinária”. “Superou nossas expectativas, que era de 20.000 pessoas.” A CMP estava entre as entidades organizadoras, assim como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento dos Sem Teto (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outros sindicatos e entidades de esquerda. Dos partidos, estiveram presentes PT, PSOL, PC do B, PSTU, PCO, UP e PCB.

Outros partidos e entidades que convergem no “Fora Bolsonaro” mas estão mais à direita do espectro político não apareceram. O PDT justificou a ausência pelo risco sanitário que envolve o protesto. Já o Vem Pra Rua disse entender que “vários movimentos de esquerda defendem publicamente a candidatura de Lula, tornando esse evento um ato personalista, com o qual não estamos alinhados”. Eles devem comparecer aos atos marcados para 12 de setembro. Carlos Fernandes, presidente municipal do Cidadania, esteve presente com sua esposa Cristina e uma bandeira do Brasil, ainda que o partido não tenha aderido institucionalmente à manifestação. “O ato é estreito, e precisa ser amplo. A organização não tem deixado todos falar no palanque, e, por isso, excluem alguns partidos. Mas estou aqui porque sou a favor do impeachment de Bolsonaro”, explicou.

Carlos Fernandes, presidente municipal do Cidadania, com a esposa Cristina no Vale do Anhangabaú.
Carlos Fernandes, presidente municipal do Cidadania, com a esposa Cristina no Vale do Anhangabaú.Diogo Magri

A bandeira do Brasil foi levada por Fernandes, segundo ele, para “mostrar que o verde e amarelo não é de uma facção”. Ao longo dos protestos, foram observadas várias bandeiras e faixas com as cores que, normalmente, identificam a manifestação pró-Governo. Em uma delas, se lia “não é da milícia”. “Precisamos retomar nossas cores. Estamos cansados, porque é uma situação desesperadora”, opinou a estudante Ana Elisa, de 19 anos, que foi sozinha ao Vale. Dentre os políticos de esquerda que discursaram no carro de som, Orlando Silva, deputado federal pelo PC do B, foi o mais enfático ao pedir a união de todos os partidos que desaprovam o Governo Bolsonaro. No entanto, várias vezes o nome do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva foi lembrado pelos organizadores, assim como o lema “todos os partidos são iguais, mas o PT é diferente”.

O auge da manifestação aconteceu durante os discursos do ex-candidato à presidência e à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos e do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O petista lembrou que o 7 de Setembro “é uma data que deveria dar esperanças de lutar pelo país”. Já Boulos garantiu que a esquerda “não vai deixar a rua para os fascistas”. “Tentaram se apropriar dos nossos símbolos, mas não vão tomar a nossa rua. O medo está do lado de lá. O brasileiro quer saber do preço do feijão, da gasolina, do desemprego, não do voto impresso e do STF. Para isso eles não têm resposta, por isso atacam a democracia”, afirmou o psolista, que foi o mais aplaudido. Gleise Hoffmann, presidente do PT, Eduardo Suplicy, vereador de São Paulo pelo PT, e Erika Hilton, vereadora de São Paulo pelo PSOL, também marcaram presença.

O receio pelo encontro com apoiadores bolsonaristas estava presente entre boa parte dos manifestantes. Jânio Silva, comerciante de 39 anos, pegou a linha verde do metrô paulistano (que passa pela Paulista) para chegar ao Anhangabaú. Estava com uma camisa dizendo “ele não” e uma placa com as frases “fome para o povo, mansão para o filho ladrão”. Cruzou com alguns apoiadores do Governo no transporte público, mas disse não ter se incomodado. “Eles são fascistas, mas infelizmente têm direito a protestar. Não me incomodam, porque eu sei que não vão fortalecer o genocida. A maioria sabe que ele é o pior presidente da história do Brasil”, afirmou.

Stela Mori agita bandeira do Brasil no Vale do Anhangabaú.
Stela Mori agita bandeira do Brasil no Vale do Anhangabaú.Diogo Magri

200 cidades

O Grito dos Excluídos, que acontece no feriado da Independência desde 1995, foi realizado também em outras 201 cidades, atraindo cerca de 300.000 manifestantes, sempre nas contas da organização. Em Salvador, manifestantes se reuniram em um protesto contra o presidente no bairro do Campo Grande.Segundo a organização do ato, cerca de 10.000 pessoas se juntaram em defesa da democracia, pelo impeachment de Bolsonaro, pelo combate à pobreza e o avanço da vacinação contra a covid-19.

Em Brasília, a cinco quilômetros da Esplanada dos Ministérios, onde acontecia a manifestação do Dia da Independência e a favor de Bolsonaro, entre 400 e mil manifestantes de esquerda, nas estimativas mais pessimista e otimista, respectivamente, se concentraram para o ato contra o Governo. A mobilização ocorreu a poucos metros do acampamento dos indígenas, na cidade para acompanhar o julgamento do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). A recomendação era não ultrapassar a linha da Rodoviária do Plano Piloto. “É suicídio descer para a Esplanada”, dizia Talita Victor, membro da Frente Povo Sem Medo.

Os militantes que participaram do ato eram, em sua maioria, de sindicatos, partidos políticos e entidades em defesa dos direitos dos estudantes. Vários dos participantes usavam camisetas em apoio ao ex-presidente Lula, maior desafiante de Bolsonaro nas eleições de 2022. “Sete de setembro é dia de tomar as ruas denunciando a alta dos alimentos. Não podemos deixar que o sete de setembro vire apologia à ditadura militar. Não vamos sair das ruas enquanto ele [Bolsonaro] não sair”, discursou de cima de um trio elétrico a deputada federal Vivi Reis (Psol-PA).

Líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PT-PA) classificou o ato desta terça como uma “retomada lenta”. “Estamos em um processo de acúmulo de força, porque jogaram os democratas deste país no canto do ringue. A capacidade de reação através da organização é muito grande no Brasil. Então, estamos retomando”. Uma das lideranças do acampamento indígena, Joprykatire, denunciou que, na noite de segunda-feira, apoiadores do presidente Bolsonaro tentaram invadir o acampamento. “Não chegaram a ultrapassar a faixa que interdita, mas ficaram ameaçando”, conta. No final das manifestações de terça-feira, os militantes bolsonaristas desviaram do acampamento indígena, escoltados por barreiras da polícia.

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