Com só um leito de UTI disponível para covid-19, Brasília terá ‘lockdown’ a partir de domingo
Quase 5.000 pessoas morreram de coronavírus no Distrito Federal, que vive sinais trocados, com presidente circulando sem máscara e restrições de entrada no Congresso
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O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretou um lockdown na capital do país a partir de domingo para conter a escalada do novo coronavírus. Só estará permitido o funcionamento de serviços essenciais, como hospitais, mercados, farmácias, postos de combustíveis, funerárias e lojas de material de construção. Igrejas também serão mantidas abertas, enquanto escolas e universidades serão fechadas. Desde o início da pandemia, o Distrito Federal registrou 294.911 casos de covid-19 e 4.819 óbitos, sendo que 14 das mortes foram computadas nas últimas 24 horas.
Inicialmente, o governador tinha decidido impor um toque de recolher noturno. Mas como o número de infectados pelo novo coronavírus tem progredido rapidamente em Brasília, Rocha decidiu enrijecer as regras. Conforme dados da Secretaria de Saúde, no momento está disponível apenas um leito em unidade de terapia intensiva para o tratamento de adultos infectados com covid-19 em todo o Distrito Federal. Brasília tem ao todo 10 hospitais com 180 leitos destinados especificamente ao coronavírus.
Ao longo da última semana, Rocha cogitou a hipótese de fechar a divisa com Goiás. Boa parte dos trabalhadores de Brasília mora nas cidades do entorno do DF. A possibilidade gerou reação do governador Ronaldo Caiado (DEM), que criticou seu colega. O chefe do executivo distrital voltou atrás.
As medidas de restrição anunciadas nesta sexta-feira já surtiram efeito político em Brasília. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) decidiram vetar a entrada de visitantes no Congresso a partir de segunda-feira e enquanto durarem as medidas de restrição de circulação adotadas pelo Governo local. Só poderão acessar o Legislativo os parlamentares, os servidores, os funcionários terceirizados e os jornalistas credenciados.
Brasília é uma cidade que convive com sinais trocados para a população. Enquanto o Governo local e o Congresso criam regras mais duras, o presidente Jair Bolsonaro minimiza a doença. Duas vezes nas últimas semanas ele esteve no Congresso Nacional. Provocou aglomeração de políticos e frequentou o Legislativo sem usar máscaras. As máscaras, aliás, foram um dos temas tratados pelo mandatário em sua live semanal. Na transmissão desta quinta, ele criticou o uso do equipamento de proteção individual e sem revelar a fonte disse que havia um estudo alemão que comprovava supostos efeitos adversos ao uso delas.
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Clique aquiPelo decreto, estão proibidos de funcionar: escolas públicas e privadas, comércio de maneira em geral, cinemas, teatros, academias de esporte, museus, zoológico, parques, boates e casas noturnas, salões de beleza, quiosques, foodtrucks e trailers de venda de refeições, oficinas de lanternagem e pintura, comércio ambulante e construção civil. Eventos e campeonatos esportivos também foram suspensos. Shoppings, feiras, bares e restaurantes não poderão atender o público, mas poderão funcionar com o serviço de entrega.
O governador também proibiu a venda de bebidas alcoólicas a partir das 20h. Na quinta-feira passada, diversos bares e conveniências da cidade estavam lotados de torcedores do Flamengo bebendo e comemorando o título brasileiro da equipe. Não há prazo para o fim das medidas restritivas. No documento, o Governo afirmou: “as medidas previstas neste decreto poderão ser reavaliadas a qualquer momento”.
Os comércios que descumprirem as regras poderão ter seu alvará de funcionamento suspensos. O decreto ainda se embasa no artigo 268 do Código Penal, que lista um dos crimes contra a saúde pública e pune com detenção de um mês a um ano quem descumprir as regras.
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