Flamengo perde, mas toma de Inter a taça do Brasileirão pandêmico, congestionado e único
Mesmo perdendo, time carioca garantiu um título sofrido após temporada irregular. Gaúchos perdem a chance de levar o torneio nacional após 41 anos
O Brasileirão 2020 acabou nesta quinta-feira, 25. Depois de seis meses, 370 jogos e muitos protocolos de segurança sanitária, as dez partidas que aconteceram simultaneamente às 21h30 (horário de Brasília) consagraram o campeão, Flamengo, frustrando o sonho do vice Internacional de quebrar o jejum de 41 anos pela taça. A decisão não foi numa tarde ensolarada de dezembro com estádios lotados e festas dos vencedores pela cidade, mas numa noite do meio de semana, dividindo a atenção com o BBB, jogando para arquibancadas vazias e ocasionando indevidas aglomerações nas ruas. A 64ª edição do torneio foi, de fato, diferente de todas as outras.
O ineditismo em questão tem como protagonista a pandemia do novo coronavírus. Foi ela quem paralisou o esporte brasileiro em março de 2020 e causou a readequação de todo o calendário, Brasileirão incluso ―antes marcado para acontecer de maio a dezembro, passou a ser de agosto a fevereiro do ano seguinte. E espremido com estaduais, Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana e Mundial, todas competições que antes aconteceriam de fevereiro a dezembro, mas foram condensadas nos mesmos seis meses.
Além do problema logístico, o sanitário: a maioria dos clubes não conseguiu frear surtos de covid-19 em seus elencos, apesar de seguirem medidas de distanciamento social, higienização e testes semanais. Treinadores como Cuca e Vanderlei Luxemburgo foram internados com o vírus; Raniel, atacante de 24 anos do Santos, não joga desde setembro por uma trombose na perna que teve após a infecção. A pandemia desfalcou times, provocou adiamento de partidas ―que por sua vez congestionaram mais o calendário― e atacou o pulmão de atletas de alto rendimento, fatores que prejudicaram o desempenho geral no Brasileirão.
Também por conta da pandemia, pela primeira vez o campeonato brasileiro foi jogado de ponta a ponta sem a presença de público nos estádios. Não por isso as torcidas deixaram de se fazer presentes; se aglomeraram para comemorar e para reclamar, nos ambientes externos dos estádios, nos centros de treinamento ou nos aeroportos. Os dois times que podem levantar a taça nesta quinta, Flamengo e Inter, tiveram troca de treinadores na mesma rodada, crises de resultado e consequentes protestos das torcidas em seus CTs, mesmo sempre estando presentes entre as melhores equipes do torneio e liderando a tabela durante boa parte das rodadas.
O caso mais extremo aconteceu no São Paulo. Sob o comando de Fernando Diniz, o Tricolor foi quem mais empolgou no Brasileirão, chegando a abrir sete pontos na liderança, a maior vantagem que se viu na tabela, e jogando o melhor futebol do torneio. Mas, assim que o ano virou, a superioridade são-paulina derreteu, o time venceu apenas uma vez em 10 jogos e caiu para quarto lugar. Torcedores se reuniram nos arredores do Morumbi por mais de uma vez para comemorar os jogos da equipe na fase boa, mas integrantes da mesma torcida armaram um ataque com pedras e artefatos explosivos ao ônibus da delegação, antes do jogo contra o Coritiba, no auge da má fase, ainda que o time estivesse com chances de título.
O São Paulo demitiu Diniz, assim como 16 dos 20 participantes trocaram de treinador durante o torneio. Dos seis primeiros, apenas Atlético-MG e Grêmio terminaram com os mesmos que começaram. Tanto o vice Inter como o campeão Flamengo passaram por uma troca no comando técnico, algo que só aconteceu uma vez na última década ― em 2019, com o Flamengo. O Palmeiras, por exemplo, subiu de patamar ao trocar Luxemburgo pelo português Abel Ferreira em outubro, foi campeão da Libertadores e chegou na final da Copa do Brasil. No entanto, o time mais vencedor da temporada precisou interromper as chances de título no Brasileirão para viajar ao Catar e jogar o Mundial de Clubes. Quando voltou, maratonou cinco jogos em 11 dias que minaram suas possibilidades no maior torneio nacional. “Quem mandou eles ganharem?”, ironizou Elias Noveletto, vice-presidente da CBF, quando questionado sobre o congestionado calendário alviverde.
No campeonato das irregularidades e exceções, os dois maiores destaques individuais são de times de meio de tabela. Claudinho, do Bragantino, e Marinho, do Santos, marcaram 17 gols, assim como Thiago Galhardo do Inter, mas foi Luciano do São Paulo, com 18 gols, que ficou com o título de artilheiro. Claudinho foi eleito o melhor jogador e a revelação do Brasileirão 2020. Times que superaram adversidades para fazer campanhas medianas, como Bragantino, Ceará, Atlético-GO e Sport, enfrentaram menos protestos do que os líderes que tiveram dificuldade em cumprir as expectativas criadas, como Flamengo, Atlético-MG e São Paulo.
Por fim, o VAR. A ferramenta tecnológica que nasceu com o objetivo de diminuir os erros dos árbitros no futebol esteve presente pelo segundo ano consecutivo no Brasileirão, modernizando também as discussões sobre a arbitragem. Entre as reclamações por demora, falta de critério e revisões desnecessárias no vídeo, duas situações significativas colaboraram para o descrédito do VAR no futebol brasileiro: a confissão do chefe de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, de que um gol de Luciano foi mal anulado por impedimento ―teoricamente, um lance objetivo― em Atlético-MG 3 x 0 São Paulo; e a “descalibragem” da ferramenta no jogo Vasco 0 x 2 Internacional, quando o VAR não conseguiu checar o suposto impedimento de Rodrigo Dourado no primeiro gol colorado, sem maiores esclarecimentos dos responsáveis. O Vasco, que acabou o torneio rebaixado com o rival Botafogo, Goiás e Coritiba, prometeu ir aos tribunais para tentar anular a derrota pela 36ª rodada.
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