São Paulo tem força-tarefa da Lava Jato de uma pessoa só, e grupo do Rio será desmontado em abril
Futuro das irmãs mais novas da operação também é incerto. Equipe paranaense, a mais célebre, foi desmobilizada na segunda-feira
O fim da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, nesta segunda-feira, também serve de prenúncio para suas irmãs mais novas: a situação dos grupos que atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro também não é nada promissora. Em São Paulo, onde investiga casos de corrupção ligados a obras estaduais e ao grupo mais longevo no poder, o PSDB, a equipe da Lava Jato já é, desde setembro de 2020, um exército de uma pessoa só. Sete procuradores do grupo pediram desligamento da equipe que começou a atuar em julho de 2017, deixando apenas Viviane Martinez como membro remanescente. Os ex-integrantes alegaram “incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos”, que é a procuradora Martinez. Já a força-tarefa fluminense da Lava Jato, a segunda mais produtiva atrás da paranaense, terá um final semelhante à congênere do sul. A equipe de oito procuradores teve o mandato prorrogado até abril. Em seguida eles serão absorvidos por um novo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) a ser criado dentro da estrutura do Ministério Público Federal.
No caso de São Paulo, a crise do grupo é institucional. Os ex-nomes da força-tarefa acusam a procuradora Viviane Martinez de não ter tido “qualquer iniciativa no sentido de chamar reuniões para compreender quais as linhas de investigação que vinham sendo conduzidas”, e teria agido, inclusive, para “retirar parte da estrutura de servidores que existia”. Nos bastidores ventilou-se a hipótese de que a solitária procuradora ganhasse reforços, algo que não se concretizou até o momento. No ano passado, após o racha, o o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, chegou a cobrar rapidez na reestruturação da equipe e no “equacionamento” dos casos, dando a entender que uma nova equipe seria montada, algo que não ocorreu.
O núcleo da operação nunca foi uma prioridade para o MPF paulista, algo que fica evidente pela produtividade relativamente baixa e poucos investimentos na equipe. Em nota à época da renúncia, os procuradores informaram que a Lava Jato paulista é “a que tem, entre as três, a menor quantidade de membros com dedicação exclusiva aos casos. Ainda, diferentemente das demais, tem estrutura de apoio praticamente inexistente”. Os números da força-tarefa de SP dão uma noção da morosidade no andamento dos casos: foram dez denúncias apresentadas —ante 56 da força-tarefa fluminense, criada em 2016, e 119 em Curitiba.
A atuação dos grupos foi marcada por atritos com o procurador-geral Augusto Aras, um crítico deste modelo de força-tarefa mais independente dentro do MPF. Segundo os procuradores que pediram afastamento do caso, a PGR foi informada sobre as dificuldades, mas nada fez: “O pequeno quadro de membros com dedicação exclusiva e os problemas de estrutura de apoio foram informados diversas vezes à PGR, sem que incrementos de membros e servidores fossem disponibilizados”.
Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$
Clique aquiSe o investimento do MPF no grupo de SP foi baixo, a expectativa com relação a ele, ao menos nos primeiros anos, era enorme. Por décadas investigou-se no âmbito estadual supostos esquema de pagamentos de propinas e superfaturamento em obras no Estado, mas sem chegar a lideranças políticas do PSDB e sem resultados contundentes. Com a criação de um grupo paulista e a delação premiada de executivos da Odebrecht surgia a chance de mergulhar no casos durante os sucessivos Governos do PSDB no Estado. No entanto, pouco se avançou sobre o núcleo político dos esquemas de corrupção. Tudo andou lentamente e parte das investigações acabou sendo migrado para o braço eleitoral da Justiça. Só no ano passado, três anos e uma eleição após a confissão da construtora, o ex-governador Geraldo Alckmin, que foi candidato presidencial em 2018, foi denunciado por lavagem de dinheiro. O mesmo aconteceu José Serra. Só em 2020 as acusações contra ele chegaram à Justiça, e parte do processo foi paralisada por um pedido de sua defesa ao STF acatada por Gilmar Mendes ―Serra virou réu no véspera da prescrição do caso sob a acusação dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, corrupção e lavagem de dinheiro. A mesma delação da Odebrecht, no entanto, serviu para municiar ações mais céleres contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ainda contra o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Na força-tarefa do Rio, caberá ao grupo remanescente que integrará a Gaeco os desdobramentos da Operação Tris In Iden, que levou ao afastamento do então governador do Rio Wilson Witzel. A equipe fluminense provocou um verdadeiro abalo na política do Estado com impactos nacionais. Dentre as 56 denúncias apresentadas pela força-tarefa do Rio, destacam-se as protocoladas contra o ex-governador Sérgio Cabral e o doleiro Dario Messer, conhecido como “o doleiro dos doleiros”, bem como em desfavor do todo-poderoso empresário do setor dos transportes Jacob Barata Filho e do então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman. Além disso, os procuradores conseguiram avançar sobre tentáculos da corrupção dentro do próprio Estado, mirando 25 auditores-fiscais e analistas tributários da Receita Federal do Brasil envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro e até um promotor estadual.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.