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Em recado a Bolsonaro, Guedes lamenta “debandada” de secretários pró-reformas

Saídas de Salim Mattar e Paulo Uebel das secretarias de Desestatização e Desburocratização escancaram paralisia do Governo. Ministro da Economia reconhece que "quem manda é a política"

Paulo Guedes durante a entrevista coletiva desta terça-feira.
Paulo Guedes durante a entrevista coletiva desta terça-feira.ADRIANO MACHADO (Reuters)
Rodolfo Borges
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Uma das principais bandeiras da campanha do presidente Jair Bolsonaro, avalizada pelo seu liberal ministro da Economia, Paulo Guedes, sofreu um duro golpe nesta terça-feira. Os secretários especiais do Ministério da Economia Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) pediram demissão, no que foi classificado pelo próprio Paulo Guedes como “uma debandada”. “O que ele [Salim Mattar] me disse é que é muito difícil privatizar, que o establishment não deixa”, afirmou Guedes durante entrevista coletiva, emendando: “O que eu disse para ele é que para privatizar cada um tem que lutar, não adianta ficar esperando Papai do Céu”. No caso de Uebel, a saída foi justificada pela demora no encaminhamento da reforma administrativa.

Apesar de não ter exatamente um histórico político ligado à economia liberal, Bolsonaro apoiou sua campanha eleitoral em promessas de privatização de empresas públicas. Em agosto do ano passado, seu Governo chegou a apresentar um ambicioso pacote de privatizações. Nesta terça-feira, ao comentar a saída de seus secretário, Guedes voltou a externar seu desejo de privatizar ―e mencionou diretamente os Correios, a Eletrobras, o Porto de Santos e a PPSA, responsável pelos contratos de exploração do pré-sal―, mas admitiu que a prometida agenda não avançou até agora. “Eu, se pudesse, privatizava todas as estatais. Mas, para privatizar todas, tem que privatizar primeiro duas ou três. E nós não conseguimos privatizar duas ou três. É preocupante. O trabalho não está andando nessa dimensão. É natural que o Governo esteja preocupado”, admitiu.

As baixas desta terça-feira se somam às saídas nas últimas semanas de Mansueto Almeida (do Tesouro Nacional), de Caio Megale (da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda) e de Rubem Novaes, que anunciou que deixará a presidência do Banco do Brasil. Em resposta à “debandada”, Guedes fez o que tem feito desde o início do Governo Bolsonaro: reforçou suas promessas e, desta vez, adicionou um tom de advertência direcionado ao Planalto. “A nossa reação à debandada que aconteceu hoje é acelerar as reformas. Mostrar que vamos privatizar, vamos insistir nesse caminho. Pelo menos nós vamos lutar”, disse, admitindo, contudo, que “quem dá o timing das reformas é a política, quem tem voto é a política”. “Se o presidente da Câmara quiser pautar algo, é pautado. Se o presidente da República quiser mandar alguma reforma, ela é mandada. Se ele não quiser, não é mandada. Quem manda não é o ministro, não são os secretários”.

Para o economista André Perfeito, sócio da Netcon, a entrevista do ministro e sua repercussão podem desenhar um divisor de águas e um dos desfechos pode ser que o clima “desande de vez”. “Fatalmente os mercados devem reagir amanhã [quarta-feira], em especial a curva longa de juros com a perspectiva menos favorável da dinâmica fiscal. O cenário, sejamos francos, já estava muito ruim no que concerne à velocidade das reformas e equilíbrio fiscal, mas a credibilidade do Governo sempre encontro em Guedes um fiador de peso”, pondera Perfeito.

Teto de gastos

A reação mais rápida às declarações de Paulo Guedes não veio do presidente da República, mas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estava presente durante a entrevista de Guedes. “Hoje tivemos uma conversa franca com o ministro Paulo Guedes e há consenso de que não haverá jeitinho nem esperteza para desrespeitar o teto de gastos. A Câmara não vai pautar nenhuma prorrogação do estado de calamidade”, avisou Maia por meio de seu perfil no Twitter, referindo-se ao limite de gastos aprovado durante o Governo Michel Temer. “Temos uma realidade, que é uma carga tributária de mais de 33% do PIB, somada ao déficit primário. Precisamos entender que essa conta está dentro do Governo e do Congresso. Se conseguirmos avançar rapidamente no tema dos gatilhos do teto, vamos abrir espaço para investimentos públicos, que também são importantes para o crescimento do Brasil”, completou Maia.

A declaração de Maia se explica por pressões internas do Governo Bolsonaro para estourar o teto e liberar investimentos capazes de impulsionar o crescimento país, abalado pela crise do coronavírus. Segundo Guedes, “os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona de incerteza, uma zona sombria, uma zona de impeachment de responsabilidade fiscal”, alertou o ministro, ponderando que “o presidente sabe disso e tem nos apoiado”. Bolsonaro, contudo, não se manifestou sobre a saída dos secretários nesta terça-feira.


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