Apoio a Bolsonaro ganha sobrevida, enquanto imagem de Moro e Guedes se desgasta
Pesquisa do Atlas Político aponta para reação do presidente durante crise política e sanitária. Fora do Governo, popularidade de ex-ministro da Justiça continua em queda
A imagem do presidente Jair Bolsonaro se mantém praticamente ilesa, apesar das turbulências que rondam sua gestão. É o que indica a mais recente pesquisa da consultoria Atlas Político, divulgada nesta quarta-feira, que reflete sobre um mês marcado pela prisão do motorista Fabrício Queiroz, suspeito de ser o operador do esquema de rachadinhas envolvendo o senador Flávio Bolsonaro no Rio de Janeiro; batidas da Polícia Federal contra bolsonaristas e a nomeação frustrada de Carlos Alberto Decotelli, que, exposto por fraudar currículo, durou apenas cinco dias no Ministério da Educação. O levantamento ainda aponta uma consolidação na queda de popularidade de Sergio Moro e Paulo Guedes, que entraram para o Governo com status de superministros e tomaram rumos diferentes diante do agravamento da crise política em meio à pandemia de coronavírus.
De acordo com a pesquisa online, que ouviu 2.000 pessoas entre 27 e 30 de junho, com amostra que reflete a população brasileira adulta, a aprovação ao desempenho do presidente se estabilizou em 32%, após queda de 5 pontos percentuais entre abril e maio, e oscilou de 65% para 64%. A rejeição a seu Governo, ainda desaprovado pela maioria, também baixou de 58% para 56%, contra 25% de aprovação. Para o cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político, a pesquisa indica que Bolsonaro pode ter conseguido conter a sangria de popularidade que o abateu a partir da demissão traumática do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, agravada pela condução errática no controle da pandemia. “A saída do Moro foi um evento muito mais cataclísmico para a imagem do presidente que a prisão do Queiroz ou o constrangimento com o Decotelli”, afirma Roman. “Uma vez que ele consiga superar esse abalo, outras crises podem desgastá-lo, mas não na mesma magnitude do Moro.”
O pesquisador pondera que o cenário político no Brasil, antes polarizado entre apoiadores de Bolsonaro e a esquerda, ganhou uma terceira força relevante com a ascensão da centro-direita, encorpada por dissidentes do bolsonarismo, o que provavelmente afeta não só a avaliação do presidente, mas também de personagens que o cercam ou despontam como possíveis concorrentes na eleição de 2022. É o caso de Moro, que, depois de sua popularidade subir (de 54% para 57%) ao desembarcar do Governo, agora experimenta seguidas quedas de aprovação, atingindo o menor patamar (37%) desde o início da série. De abril a junho, o percentual dos que o avaliam de forma negativa aumentou de 31% para 50%.
“Com o eleitorado dividido em três polos, é natural que a popularidade do Sergio Moro tenha caído de forma acelerada, sobretudo pela perda de apoio entre muitos bolsonaristas”, explica Roman. Outro afetado pela cisão entre Moro e Bolsonaro é o ministro da Economia, Paulo Guedes. Desde abril, quando, ao contrário de Moro, decidiu permanecer no Governo e alcançou sua taxa de reprovação mais baixa (38%) em um ano, o índice dos que o rejeitam subiu mais de 10 pontos percentuais, de 38% para 49%. “Guedes ficou no meio dessa rixa entre moristas e bolsonaristas. Ainda assim, ele se mantém como uma âncora de popularidade para o Governo, com aprovação maior que a do presidente”, diz o diretor-executivo do Atlas Político.
Entre os líderes políticos citados na pesquisa, Paulo Guedes (38%) e Moro (37%) só perdem em aprovação para Luiz Henrique Mandetta (50%). Todavia, o ex-ministro da Saúde também viu sua popularidade, que bateu recorde em abril (63%), cair nos últimos meses. Pela primeira vez, a pesquisa aferiu a imagem do vice-presidente Hamilton Mourão. Com menos rejeição que Bolsonaro (46% x 64%), ele aparece atrás somente de Mandetta, Guedes e Moro entre os líderes mais aprovados (33%), um ponto percentual acima do próprio presidente. O líder de esquerda mais popular continua sendo o ex-presidente Lula (28%), seguido por Fernando Haddad (24%) e Ciro Gomes (23%), candidatos derrotados por Bolsonaro na última eleição.
A pesquisa avaliou ainda a opinião dos brasileiros sobre a hipótese de instauração de uma ditadura militar no país. Segundo o Atlas Político, 87% da população é contra o retorno de um regime de exceção e 7% é a favor. Em novembro de 2019, o apoio à ditadura militar era de 14%, contra 75% dos que se opunham à ideia. O apoio ao impeachment de Bolsonaro também perdeu força, mas continua sendo defendido pela maioria dos entrevistados (de 58% para 55%). Com Moro distante dos holofotes e uma postura mais moderada diante de outros poderes, o presidente ganhou fôlego ao resistir à perda de seu ministro mais popular, como observa Andrei Roman. “Parece haver uma pacificação do eleitorado bolsonarista com a questão do Moro, cada vez mais distante. O que indica que será preciso um choque muito maior que sua saída para levar à erosão da imagem do presidente.”
Sobre a pandemia de coronavírus, 77% dos entrevistados temem contrair a doença e 70% se mostram mais preocupados com as pessoas que podem morrer pela covid-19 do que com o impacto econômico da crise, enquanto 73% dizem concordar com as medidas de isolamento social impostas por prefeitos e governadores. Entretanto, 48% respondem ter saído de casa no dia anterior ao questionário.
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