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PIB cai 1,5% no primeiro trimestre e mostra sinais iniciais da pandemia

Retração nos três primeiros meses deste ano interrompe sequência de crescimento e marca o menor resultado desde o segundo trimestre de 2015

Dezenas de pessoas com máscaras fizeram fila, nesta quarta-feira, em um centro comercial de Brasília, que abriu seguindo uma série de requisitos de saúde para prevenir a disseminação do coronavírus.
Dezenas de pessoas com máscaras fizeram fila, nesta quarta-feira, em um centro comercial de Brasília, que abriu seguindo uma série de requisitos de saúde para prevenir a disseminação do coronavírus.Joédson Alves (EFE)
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Agência da Caixa Econômica Federal, na zona oeste de São Paulo, registra fila nesta quinta-feira, 23 de abril de 2020.
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A man rides on his electric skateboard along a bicycle lane in Bogota on May 19, 2020, after the city's mayor expanded them temporarily during the COVID-19 pandemic so people can avoid mass public transport as a preventive measure against the spread of the novel coronavirus. - Latin American cities are beginning to implement their 'new normal' with the introduction of bicycle lanes, widened sidewalks and distance signs, to overcome the COVID-19 emergency in urban spaces already affected by overcrowding, crowded transport and pollution. (Photo by Raul ARBOLEDA / AFP)
Pandemia apaga os três faróis econômicos da América Latina

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do primeiro trimestre de 2020 recuou 1,5% em relação aos três meses anteriores, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Na comparação com igual período de 2019, a atividade econômica teve variação negativa de 0,3%. Os dados do PIB divulgados relevam apenas os impactos iniciais da crise gerada pela pandemia da covid-19 na economia brasileira, já que as medidas de isolamento social para reduzir o ritmo de disseminação do vírus foram implementadas apenas a partir da segunda quinzena de março, nos últimos 15 dias do primeiro trimestre. Um tempo curto para o tamanho da retração, que poderia ter sido amenizada se o desempenho da atividade econômica tivesse sido melhor no início do ano.

A queda do PIB foi puxada pelo desempenho negativo da indústria (-1,4%) e dos serviços (-1,6%). Já a agropecuária avançou 0,6%. Os efeitos da pandemia também influenciaram a queda de 2% no consumo das famílias, é a primeira queda desde 2016 .“Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. “É uma crise completamente diferente. Geralmente começava pela indústria. Agora, começa pelos serviços. Difícil prever a retomada, porque o mercado de trabalho demora a retomar”, completou. O consumo do Governo ficou praticamente estável (0,2%) no primeiro trimestre deste ano, mesmo patamar do último trimestre de 2019.

Os dados do PIB revelam que os investimentos públicos e privados, que caíram no ano passado, voltaram mesmo em meio à pandemia. A Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida que mostra o investimento das empresas para a expansão da capacidade produtiva, teve desempenho destacado com alta de 3,1% sobre os três meses anteriores, puxado por importação de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram contração de 0,9%, enquanto as Importações de Bens e Serviços cresceram 2,8% em relação aos três meses anteriores.

Menor resultado trimestral desde 2015

A queda do PIB do primeiro trimestre deste ano interrompe a sequência de quatro trimestres de crescimentos seguidos e marca o menor resultado desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%). Com isso, segundo o IBGE, o PIB está em patamar semelhante ao que se encontrava no segundo trimestre de 2012.

Segundo Palis, a retração da economia foi causada, principalmente, pelo recuo nos serviços, setor que representa 74% do PIB. “Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social”, explica.

Guedes fala em retomada em V “meio torto”

Nesta sexta-feira, após a divulgação da retração do PIB, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu solidariedade para a retomada da economia. “Precisamos de cooperação, colaboração, compreensão, solidariedade", disse o ministro durante um seminário virtual do BNDES. Guedes afirmou que o desenho da retomada no país pode ser em forma de um V “meio torto”.“Caímos rápido, e a volta depende de nós mesmos. Falo em (retomada em) V porque os sinais vitais da economia brasileira estão mantidos, mas evidentemente, dependendo de nossa reação por ser um U ou vira um L”, disse Guedes. “Prefiro trabalhar com V, pode ser meio torto, com subida um pouco mais devagar”, acrescentou. O ministro disse ainda ser “cretino” quem ataca o Governo ao invés de ajudar nesse momento de crise.

Após um ritmo fraco em 2019, com crescimento de 1,1%, qualquer expectativa positiva que existisse no início de 2020 caiu por terra com o início da pandemia de coronavírus. Efeitos muito maiores da pandemia da covid-19 são esperados no segundo trimestre, período em que a quarentena prosseguiu. Nesta semana, o levantamento da Pnad, que já contempla o mês de abril, dá uma dimensão do estrago que se seguiu no quarto mês do ano: o país perdeu 4,9 milhões de postos de trabalho entre fevereiro e o mês passado. O Ministério da Economia já passou a projetar contração do PIB em 2020 de 4,7%, contra expectativa em março de alta de 0,02%. Esse seria o pior resultado da série história que começou em 1900. Diante de um cenário tão ruim para a atividade, a expectativa de um futuro melhor fica para a reabertura da economia que, por sua vez, depende da evolução dos casos do coronavírus em diferentes regiões do país.

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