Crise do coronavírus amplia desigualdades e inaugura novo grupo de vulneráveis, o dos com ensino superior
Estudo estima que de cada dez trabalhadores no Brasil, oito se encontram em algum grau de risco de perda de renda e trabalho por conta da paralisia econômica gerada pela pandemia
A paralisia econômica gerada pela pandemia do coronavírus deve ampliar a desigualdade no mercado de trabalho brasileiro tanto entre homens e mulheres, como entre brancos e negros. É o que revela um estudo da Rede de Pesquisa Solidária, que reúne pesquisadores de diversas universidades e entidades do país. As mulheres correm mais risco de perderem o emprego e a renda porque estão mais presentes em setores não essenciais ―fortemente afetados pela covid-19―, já os negros por terem vínculos empregatícios mais precários e informais. Dessa forma, as mulheres negras continuam sendo as mais vulneráveis e seguem estacionadas na base da pirâmide da desigualdade no Brasil.
O documento alerta ainda que a crise gerada pelo coronavírus inaugurou um novo grupo de vulneráveis, de mulheres e homens, com ensino superior que, mesmo com vínculos mais estáveis de trabalho, relativamente mais protegidos, agora foram drasticamente afetados pela nova dinâmica econômica. A novidade trazida pela pandemia foi a de classificar como não essenciais exatamente as atividades nas quais esses trabalhadores se concentram mais. Entre eles estão, por exemplo, professores de instituições privadas, comerciantes de vestuário, de calçados, de artigos de viagem, atividades jurídicas, de contabilidade e auditorias.
"A pandemia do coronavírus cria um novo grupo de vulneráveis, de mulheres e homens brancos que nunca estiveram na posição de se preocupar dessa maneira com a estabilidade do emprego e da renda. A crise certamente inaugura um grupo de brancos desprotegidos e afunda ainda mais o grupo de negros informais", explica Rogério Barbosa, pesquisador pós-doutor do Centro de Estudos da Metrópole (USP) e um dos responsáveis pelo levantamento.
Na avaliação de Barbosa, as políticas compensatórias, como o auxílio emergencial de 600 reais dado aos informais de baixa renda e desempregados, foi rápida e importante, mas não consegue compensar as perdas de parte dos beneficiados. “As famílias pobres, em geral, são numerosas, e três ou quatro pessoas trabalham. Um benefício que tem o teto de 1.200 reais não consegue compensar o dinheiro que a família está perdendo, tornando a situação mais precária do que antes da pandemia”, explica. Já o novo grupo de vulneráveis corre o risco de não ser minimamente recompensado pelo Governo porque não atende às regras do programa, segundo Barbosa. Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que os “tradicionalmente vulneráveis” continuam sendo mais vulneráveis que os “novos vulneráveis”.
Trabalhadores domésticos informais, os mais vulneráveis no país
O estudo estima que de cada dez trabalhadores no Brasil, oito se encontram atualmente em algum grau de risco de perda de renda e trabalho. Quase 38% dos trabalhadores estão em vulnerabilidade porque possuem vínculos informais (altamente instáveis) e 45,9% porque, embora formais, foram drasticamente afetados pela pandemia.
Por serem parte de um serviço não essencial e com com vínculo empregatício de alta vulnerabilidade, os trabalhadores domésticos informais são, homogeneamente, o segmento mais afetado no país, seguidos dos trabalhadores informais dos serviços pessoais de beleza. Juntos somam quase seis milhões de pessoas, segundo dados da Pnad de 2019.
A noção de vulnerabilidade, no contexto da crise econômica associada à covid-19, se relaciona com as possibilidades de demissão ou impacto sobre o salário no fim do mês, que podem atingir grupos anteriormente estáveis e até de elevado status socioeconômico. Para estimar os impactos da crise, os pesquisadores utilizaram a ocorrência de demissões ou menor faturamento, segundo declaração dos empregadores ao SEBRAE, informações do Google sobre a mobilidade nos estabelecimentos comerciais e o boletim da Cielo sobre transações dos cartões.
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