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Brasil ultrapassa 11.100 mortes por covid-19 sob o silêncio de seu presidente sobre as vítimas

Enquanto seu ministro da Saúde lamenta vidas perdidas, Bolsonaro ignora luto decretado por Congresso e STF, ironiza ‘lockdown’ e debocha de risco de impeachment: “Vou sair dia 1º de janeiro de [20]27”

Um grupo de mulheres reza enquanto o padre Reginaldo Manzotti realiza uma missa em drive-thru no Dia das Mães, em Curitiba.
Um grupo de mulheres reza enquanto o padre Reginaldo Manzotti realiza uma missa em drive-thru no Dia das Mães, em Curitiba.RODOLFO BUHRER (Reuters)
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Supporters of far-right Brazilian President Jair Bolsonaro take part in a motorcade to protest against social distancing and quarantine measures, recommended by Sao Paulo's governor Joao Doria, following the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, in Sao Paulo, Brazil, May 3, 2020. REUTERS/Amanda Perobelli
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Brasil passa de 10.600 mortes por covid-19, enquanto Bolsonaro anda de jet ski e chama pandemia de “neurose”

O novo coronavírus causou 11.123 mortes no Brasil até este domingo, que ainda aguarda a confirmação de outros 1.892 óbitos em investigação. Foram 496 vidas perdidas confirmadas nas últimas 24 horas, 123 delas nos três dias que passaram. Ante o decreto de luto oficial pelo Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, coube ao ministro da Saúde, Nelson Teich, comentar a marca atingida pelo país. Nenhum outro membro do Governo Jair Bolsonaro, nem ele próprio, lamentou a trágica cifra. “Hoje, dia 10 de maio, amanhecemos com uma enorme dualidade de sentimentos, que por um lado nos traz a alegria de um dia tão especial como o dia das mães e por outro a tristeza e sofrimento de ter atingido a terrível marca de mais de 10 mil mortes por covid-19 no Brasil”, escreveu o ministro no Twitter, em referência ao boletim do dia anterior, quando foram confirmadas 730 mortes em um dia. De Bolsonaro, por sua vez, nenhuma palavra sobre as mortes e o decreto de luto dos Poderes Legislativo e Judiciário. Poucas e simbólicas palavras, porém, sobre os que pedem sua renúncia ou impeachment. “Vou sair dia primeiro de janeiro de [20]27”, afirmou em tom de deboche, na porta do Palácio do Alvorada, ao retornar de uma festa familiar na casa do filho Eduardo Bolsonaro. O mandato de Bolsonaro vai até 2022.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 162.699 casos confirmados, sendo que 64.957 se recuperaram da doença e 86.619 estão em acompanhamento. Teich se solidarizou especialmente com as mães que perderam seus filhos por conta da covid-19 e com os filhos que perderam suas mães. "Para esses, deixo aqui meus sentimentos e meu compromisso de fazer o meu melhor para que vençamos rápido essa terrível guerra”, afirmou.

O ministro também deixou uma mensagem para as mães que trabalham nos hospitais, farmácias, supermercados e transportes, profissionais que se privam de estar com suas famílias e, segundo ele, fazem com que o país continue funcionando. Já o presidente usou suas redes sociais para lamentar outra morte, mas esta ocorrida há 50 anos: a do tenente da Polícia Militar Alberto Mendes Júnior, morto em 10 de maio de 1970, durante a guerrilha no Vale do Ribeira.

Bolsonaro, que no sábado fez um passeio de jet ski, voltou a furar neste domingo a quarentena ―recomendado pela Organização Mundial da Saúde e autoridades médicas― e deixou o Palácio da Alvorada para conhecer a nova casa do filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de Janeiro, e da nora. No local, onde reuniram-se cerca de dez pessoas, a família realizou o almoço de Dia das Mães e o chá de revelação para Heloísa, grávida de três meses de uma menina.

Antes do encontro familiar, o presidente criticou nas redes sociais o lockdown (bloqueio total) decretado esta semana na região metropolitana de São Luís (MA) e publicou um vídeo de uma abordagem policial de fiscalização no Maranhão para criticar a gestão do governador Flávio Dino (PCdoB), comparando a situação no estado com a crise política e econômica da Venezuela. No vídeo publicado pelo presidente, aparece um policial uniformizado dentro de um ônibus, checando quais passageiros estão, de fato, deslocando-se para “atividades essenciais”. Na legenda da publicação, Bolsonaro diz que “milhões já sentem como é viver na Venezuela”.

Desde o dia 5 de maio, por determinação da Justiça, só são permitidos nas quatro cidades da Grande São Luiz o funcionamento de serviços essenciais e a circulação de pessoas que trabalham prestando esses serviços. Esses trabalhadores são autorizados a se deslocar mediante a apresentação à fiscalização de uma declaração da empresa ou órgão em que trabalham. “'Documento e declaração de que vai trabalhar'... Se não tem, desce. Assim o povo está sendo tratado e governado pelo PCdoB/MA e situações semelhantes em mais estados. O chefe de família deve ficar em casa passando fome com sua família. Milhões já sentem como é viver na Venezuela”, escreveu o presidente.

Em resposta, o governador Flávio Dino disse que Bolsonaro estaria “tentando sabotar medidas sanitárias” de combate à pandemia ao fingir “estar preocupado com o desemprego”. “Bolsonaro inicia o domingo me agredindo e tentando sabotar medidas sanitárias determinadas pelo Judiciário e executadas pelo Governo. E finge estar preocupado com o desemprego. Deveria então fazer algo de útil e não ficar passeando de jet ski para ‘comemorar’ 10.000 mortos”, publicou o governador.

Além do Maranhão, o bloqueio total já foi decretado no Estado do Pará, em Fortaleza, Niterói, em parte da zona oeste do Rio de Janeiro e em três regiões de Salvador. No Estado de São Paulo, que viu neste domingo as mortes pela covid-19 chegarem a 3.709 mortes (101 a mais notificadas desde o sábado) e atingiu 45.444 infecções, ainda não adotou o lockdown, mas manteve as medidas de restrição de circulação e, a partir desta segunda, multará os veículos que descumprirem o rodízio estendido para diminuir a frota nas ruas.

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