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Desconfiados de Bolsonaro, governadores recorrem à China por ajuda contra coronavírus

Mandatários reclamam que medidas econômicas não beneficiam todos os Estados. Na manhã desta quarta, presidente se reúne com Witzel e Doria

Rui Costa, governador da Bahia.
Rui Costa, governador da Bahia.Assessoria Governo da Bahia

Receosos sobre as respostas e as oscilações que o Governo Jair Bolsonaro tem dado para combater a disseminação do coronavírus e de seus efeitos na economia, parte dos governadores brasileiros recorrem à China para tentar obter insumos e para discutir estratégias de como reagir à pandemia. Na última semana, ao menos 11 governadores contataram a embaixada chinesa em Brasília para questionar de que maneira o país asiático, o primeiro a registrar um surto da Covid-19, pode ajudá-los. Nesse grupo estão os governadores dos nove Estados do Nordeste, o do Pará e o do Distrito Federal. Nesta semana, os primeiros retornos serão dados.

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Em um primeiro momento, os planos dos chefes dos Executivos estaduais quase deram n'água. A China ficou temerosa de ajudar o Brasil diante das falas do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que acusou, sem qualquer prova, o Governo chinês de ser o responsável pela disseminação do vírus. Os ânimos esfriaram depois que os próprios governadores buscaram contato com o embaixador do país em Brasília, Yang Wanming, que se comprometeu a conversar com todos.

Nesta segunda-feira foi a vez do presidente tratar do tema com o mandatário chinês, Xi Jinping, que ligou para Bolsonaro e se comprometeu a cooperar no que fosse necessário. Não houve um pedido formal de desculpas do Governo brasileiro. Segundo o Itamaraty, o assunto do Twitter já foi superado. Mas essa superação foi precedida por duas tentativas frustradas de contato por parte de Brasília e por críticas direcionadas a todos, inclusive do embaixador Yang ao chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

O Consórcio Nordeste, grupo coordenado pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), e o Distrito Federal, chefiado por Ibaneis Rocha (MDB), receberam sinalizações positivas sobre futuras cooperações por parte dos chineses. Ainda não há detalhes sobre de que maneira seria esse auxílio dos asiáticos.

Nesse meio tempo, enquanto o Planalto apresenta medidas consideradas tímidas pelos governadores —e, inclusive, critica a quarentena adotada por alguns, em rede nacional—, há Estados, como o Pará, que se anteciparam e compraram equipamentos de empresas chinesas para se preparar para futuras contaminações. Daqui a dez dias deve chegar em Belém um carregamento de 400 conjuntos de leitos para unidades de tratamento intensivo, com respiradores, uma das máquinas mais utilizadas para pacientes em estado grave. “Gastamos uma fortuna. Mas era algo que precisava ser feito logo. Não podemos esperar para agir”, afirmou ao EL PAÍS o governador paraense, Helder Barbalho (MDB). O custo dos equipamentos comprados de maneira emergencial foi de 48 milhões de reais.

No fim da semana passada, Barbalho ficou marcado por ser um dos governadores que criticaram o Governo federal pela falta de sintonia com os Estados no enfrentamento do coronavírus. Em uma entrevista coletiva ele disse: “Não vamos ficar esperando o Governo federal agir. Vamos fazer aquilo que cabe ao Governo do Estado. E não vou pedir licença para presidente, para ministro, para ninguém, para proteger os paraenses”.

Barbalho é um dos que disse não estar 100% satisfeito com o pacote de medidas econômicas apresentado pelo presidente na segunda-feira. Ele foi um dos 23 governadores que se encontraram nesta semana com Bolsonaro. Outros quatro se reunem com ele na manhã desta quarta. Na sua visão, o Governo federal poderia ser mais agressivo nas medidas oferecendo o uso de ao menos 20% de fundos constitucionais que acabam não sendo utilizados. Os recursos seriam usados principalmente após o fim da pandemia, para incentivar a economia e os governadores investirem em obras públicas. “É uma receita que não falha”, afirma o paraense.

Acostumados a criticar a gestão Bolsonaro, os nove governadores do Nordeste sinalizaram de maneira positiva à União. Dizendo que o momento é de diálogo. Na prática, eles deixaram que as críticas partissem dos governadores mais alinhados ao presidente.

Os quatro governadores do Centro-Oeste, que estiveram uma teleconferência com o presidente nesta terça-feira, foram uníssonos em dizer que seu plano de destinar 8 bilhões para Estados e Municípios era insuficiente porque 77% do recurso seria destinado para o Norte e para o Nordeste. “No nosso caso, o que conta é o ICMS, que nos ajuda a salvar as empresas”, afirmou o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB).

Do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que a medida de renegociação de dívidas com bancos públicos e a suspensão do pagamento dos débitos dos Estados com a União deveriam ser ampliados para entidades internacionais. Enquanto que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) reclamou do prazo para a suspensão das dívidas com a União por 12 meses, não apenas por seis meses, como previsto atualmente. “Tenho queda na arrecadação e aumento na despesa. Não consigo ajustar isso, a não ser no orçamento do próximo ano”, afirmou Rocha. Nesta quarta, será a vez dos quatro governadores do Sudeste, região que concentra 58% dos 2.201 casos no país, se reunir com o presidente. Entre eles estão dois governadores que tem trocado farpas com Bolsonaro, Wilson Witzel (PSC-RJ) e Joao Doria (PSDB-SP).

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