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Sem votos no Senado, Bolsonaro admite rever indicação de Eduardo para embaixada

“Não quero submeter o meu filho a um fracasso”, afirma o presidente. Senadores ouvidos pela reportagem acham pouco provável o recuo

O deputado Eduardo Bolsonaro, em 9 de agosto, no Senado em Brasília.
O deputado Eduardo Bolsonaro, em 9 de agosto, no Senado em Brasília. ADRIANO MACHADO (REUTERS)
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Diante de uma iminente derrota em votação no Senado, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que pode rever a decisão de indicar seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Os placares informais no Congresso mostram que são altas as chances do deputado federal ter seu nome barrado em votação pelos senadores. Na Comissão de Relações Exteriores, a conta é que os opositores teriam de 9 a 11 apoios entre 19 votantes. No plenário da Casa, de 39 a 42, entre 81 senadores. Ou seja, uma margem apertada para o Governo garantir uma vitória.

Ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira, o presidente foi questionado se desistiria da indicação de seu filho para o posto, caso notasse um cenário desfavorável no Senado. Respondeu: “Na política, tudo é possível. Não quero submeter o meu filho a um fracasso. Acho que ele tem competência, mas tudo pode acontecer”, comentou. Ao ser indagado por jornalistas, o presidente comparou o assunto a questões de relacionamento pessoal. Dessa vez voltou a fazer a comparação com um noivado. “Você está noivo, noiva virgem. Vai que você descobre que ela está grávida. Você desiste do casamento?”, questionou aos repórteres.

Horas depois, Eduardo rejeitou a ideia de que seu pai pudesse recuar da sua indicação. "Não tive nenhuma conversa dessa com ele. Está mantido. Estamos seguindo adiante. Estou esperançoso e confiante", afirmou o deputado, que já teve o nome referendado pelo Governo Trump.

Desde que anunciou que queria indicar o filho para a embaixada brasileira em Washington, Bolsonaro tem recebido uma série de críticas, inclusive de aliados. A mais recorrente é a de que o presidente estaria fazendo o que sempre criticou em sua campanha eleitoral beneficiando os seus apoiadores e familiares, ao invés de valorizar a “meritocracia”.

Nas últimas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou a indicação e, no dia 9, seu Governo deu o aval para o deputado se tornar embaixador. Porém, qualquer novo embaixador precisa ser sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado e ter seu nome aprovado pela maioria dos senadores presentes na sessão de votação da indicação.

As primeiras repercussões no Senado nesta terça-feira foram de surpresa de um lado e de comemoração, do outro. O líder da oposição na Casa, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), disse que o presidente “aprendeu a fazer contas”. “O presidente viu que não tinha votos para aprovar a indicação. Depois, viu que ela era absurda e descabida, principalmente depois do parecer da consultoria do Senado que mostrou que a indicação seria nepotismo”, afirmou.

Dois senadores governistas consultados pela reportagem disseram que não confiam nesse recuo do presidente. Ambos falaram sob a condição de não terem seus nomes divulgados. “Ele é dono de soltar esses balões de ensaio. Não acredito que ele vá recuar. Temos de aguardar”, disse um dos parlamentares.

Uma das possibilidades, caso se confirme o recuo, é que Bolsonaro concretize o que ele próprio ventilou recentemente, indicar seu filho para o cargo de ministro das Relações Exteriores, em substituição a Ernesto Araújo. “Se ele colocar o Eduardo como chanceler, vamos convocá-lo para ser sabatinado no Senado. Dos questionamentos ele não foge”, disse o senador Randolfe.

Os opositores também recorrerão à Justiça para impedir eventual nomeação de Eduardo Bolsonaro para o primeiro escalão do Governo, também sob o argumento de que essa indicação seria nepotismo.

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