Toffoli suspende liminar de Marco Aurélio que poderia soltar Lula
Presidente do STF afirma que é preciso esperar a apreciação do Plenário sobre a liberação dos presos condenados em segunda instância
O presidente do Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli, suspendeu a liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, que poderia libertar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). preso em Curitiba após ter sido condenado em segunda instância. No início da tarde, Mello havia concedido a decisão provisória determinando "a suspensão de execução de pena" e a "libertação daqueles que tenham sido presos" em segunda instância. A medida era uma resposta a uma ação movida pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
A decisão foi dada menos de duas horas depois de a a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pedir que a liminar fosse suspensa. Em sua decisão, Dodge afirmou que a "decisão proferida pelo Ministro Marco Aurélio terá o efeito de permitir a soltura, talvez irreversível, de milhares de presos com condenação proferida por Tribunal". Segundo ela, que citou dados CNJ, a medida poderia ensejar a soltura de 169.000 presos no país. "A afronta à segurança pública e à ordem pública são evidentes", complementou ela. A defesa de Lula, que está preso desde abril condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso Triplex, já havia entrado com um pedido judicial para que o ex-presidente fosse solto, pouco depois da decisão do ministro do STF. Em coletiva de imprensa após a decisão, os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, investigação que levou à condenação do ex-presidente, criticaram a decisão de Marco Aurélio. Deltan Dallagnol afirmou que ela "consagra a impunidade, violando os precedentes do próprio Supremo".
Acabamos de peticionar a solicitação do alvará de soltura para Lula. Abrimos mão do exame de corpo de delito #LulaLivre HOJE
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) December 19, 2018
Toffoli afirmou em sua decisão que "em face da relevância do tema e do potencial risco à ordem pública e à segurança, advindas da decisão impugnada, cumpre a imediata apreciação do pleito deduzido pela procuradora-geral". "Zeloso quanto à possibilidade desta nova medida liminar contrariar decisão soberana já tomada pela maioria do Tribunal Pleno, que a Presidência vem a exercer o poder geral de cautela atribuído ao Estado-Juiz."
O plenário do Supremo já havia se posicionado, em 2016 sobre o assunto. Por seis votos a cinco, havia entendido que a execução da pena após uma condenação em segunda instância é compatível com a Constituição. Depois, votou contra um habeas corpus que beneficiaria o petista com base na mesma decisão. O STF também já havia anunciado que analisaria em plenário a validade de prisão após uma pessoa ser condenada pela segunda instância em 10 de abril de 2019.
Min. Marco Aurélio suspende prisão de condenados por sentenças sem trânsito em julgado. Segundo a decisão, preventiva deve ocorrer apenas p/ garantia da ordem pública ou econômica, conveniência da instrução criminal ou assegurar a aplicação da lei penal: https://t.co/0DRsfhnkt7
— STF (@STF_oficial) December 19, 2018
Em sua decisão, Marco Aurélio afirmava que concedia a liminar pedida pelo PCdoB, partido aliado do PT de Lula, "convencido da urgência da apreciação do tema". Defiro a liminar para, reconhecendo a harmonia, com a Constituição Federal, do artigo 283 do Código de Processo Penal, determinar a suspensão de execução de pena cuja decisão a encerrá-la ainda não haja transitado em julgado, bem assim a libertação daqueles que tenham sido presos, ante exame de apelação, reservando-se o recolhimento aos casos verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual", disse Marco Aurélio no documento. Ele submetia a decisão final para quando o plenário votasse, na abertura do primeiro Semestre Judiciário de 2019. O recesso do STF iniciou na tarde desta quarta-feira.
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