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Pedro Parente pede demissão da Petrobras pressionado por crise dos caminhoneiros

Executivo citou desgaste com paralisação e debate sobre política de preços dos combustíveis. Ivan Monteiro, diretor-executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores da estatal, será o CEO interino

Pedro Parente, em uma entrevista na Petrobras, no Rio de Janeiro, em maio.
Pedro Parente, em uma entrevista na Petrobras, no Rio de Janeiro, em maio.CARL DE SOUZA (AFP)
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Pedro Parente, presidente da Petrobras, apresentou sua carta de demissão no final da manhã desta sexta-feira, 1° de junho, na esteira da crise provocada pela longa greve dos caminhoneiros que colocou no centro do debate a política de preços de combustíveis da estatal. A mudança foi confirmada pela empresa em comunicado enviado ao mercado e, no final desta tarde, Michel Temer anunciou o nome de Ivan Monteiro, diretor-executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores da estatal, como novo presidente da companhia

A reação nas Bolsas à saída de Parente foi imediata. A negociação das ações da empresa chegou a ser paralisada para impedir uma queda vertiginosa, mas, retomadas as transações, tanto no Brasil como no exterior, a companhia, que já havia perdido cerca de um terço de seu valor de mercado com a paralisação, já amargava grandes perdas. A agitação nos mercados não deve cessar tão cedo porque, além da escolha do novo comando definitivo, a ser feito pelo Planalto, está em jogo políticas estruturais na Petrobras.

Em sua carta de demissão enviada ao presidente Michel Temer, Parente cita a crise dos caminhoneiros e deixou claro que mudanças na política de preços dos combustíveis estão sendo discutidas. "Novas discussões serão necessárias. E diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o Governo tem pela frente", escreveu Parente.

Pedro Parente estava no comando da Petrobras desde maio de 2016, escolhido por Temer logo após a saída de Dilma Rousseff. Tudo para marcar uma nova gestão alinhada aos standards de mercado depois de um período de forte intervenção estatal, inclusive no preço dos combustíveis, e o escândalo da Operação Lava Jato. Não faz nem um mês que o então presidente da Petrobras comemorava que a empresa, que tem controle acionário estatal, mas também acionistas privados, havia voltado a ser a companhia mais valiosa do Brasil.

Bastaram dez dias, no entanto, para ele vir seu capital político minguar com a greve dos caminhoneiros. Os grevistas exigiam redução no preço do óleo diesel e criticavam Parente pela extrema volatilidade dos preços nos postos. Desde julho de 2017, a Petrobras passou a cobrar pelo diesel e gasolina de acordo com oscilação do mercado internacional de petróleo e do dólar - não importa que elas fossem diárias. Era uma versão inédita de outros mecanismos de reajuste usados no passado, tendo a cotação internacional como referência. As mudanças constantes já causavam desconforto e havia críticas, por exemplo, à escalada do preço do gás, que penalizava especialmente os mais pobres. Entre a abril e maio, o problema explodiu: por causa de instabilidade em grandes países produtores, como Irã e Venezuela, o barril do petróleo foi de 68 dólares a mais de 80 dólares em semanas. Só no último mês houve mais de uma dezena de flutuação de preços, exibindo a exposição do mercado interno às bruscas oscilações globais. Aí veio a crise dos caminhoneiros.

Primeiro, Parente foi obrigado a ceder: congelou por 15 dias e deu um desconto no diesel no auge da paralisação. Depois, foi o Governo quem apresentou um acordo para estabilizar por pelo menos dois meses o preço do diesel, reduzir 0,46 centavos de real com subsídio - sem prejuízo para a Petrobras. Mas, a essa altura, já era claro que a política de Parente havia deixado de ser um consenso e estava sob intensas críticas. Até entre apoiadores do Governo começaram a surgir as críticas, públicas e privadas, de que a política de preços da estatal era demasiado "radical". Para completar, na última semana Temer deu uma entrevista na qual mencionou que a política de preços poderia ser "reexaminada".

Na carta de demissão, Parente se defende tacitamente das críticas durante o "intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise" que "colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento". "Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no país. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor", escreveu também Parente, um quadro considerado de excelência no mercado e historicamente ligado ao PSDB.

Enquanto a Petrobras derretia na Bolsa nesta sexta-feira, uma empresa também sob influência de Pedro Parente subia: a BRF. O executivo foi escolhido há poucas semanas pelos principais acionistas da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, para a presidência do conselho de administração da companhia. Agora, a especulação é que ele poderia ser o CEO da gigante de carnes.

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