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Festival de Cannes 2018
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

Assim é a desnecessária ‘Han Solo: Uma História Star Wars’

Ron Howard não consegue dar vida a um filme que claudica já na escolha do seu protagonista

Trailer de ‘Han Solo: Uma História Star Wars'
Trailer de ‘Han Solo: Uma História Star Wars'
Gregorio Belinchón
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Já aconteceu a estreia europeia de Han Solo: Uma História Star Wars, exibido em Cannes. O festival, abandonado como está pelos estúdios de Hollywood, não conseguiu que fosse a première mundial, pois o filme passou em Los Angeles na semana passada. E houve aplausos, algumas vaias (na sala maior das duas dedicadas à imprensa) e certa sensação de cansaço. Por outro lado, em Han Solo: Uma História Star Wars se nota um esforço de roteiro – obra dos Kasdan, pai e filho –, e fica no ar a pergunta de como teria sido o filme se fosse concluído pelos diretores que iniciaram sua rodagem, Phil Lorde e Chistopher Miller (de Uma Aventura LEGO). Han Solo, com sua ambientação de western e sua tentativa de dar sarcasmo à saga, seria outro. Aqui compilamos algumas das chaves do filme, que cheira muito a fórmula e estreia em 24 de maio no Brasil.

Ron Howard. A Disney põe seus bólidos nas mãos de pilotos arriscados e depois lhes diz: “Dirijam com o freio de mão puxado”. Assim acontecem as derrapadas, com as quais seus executivos não parecem aprender. A demissão de Lorde e Miller ocorreu em julho do ano passado, a três semanas do final das filmagens, e o estúdio decidiu contratar Ron Howard para reconduzir o longa, que segundo a major não estava num bom caminho. O veterano diretor é um profissional querido pelos estúdios: nunca cria problemas, mas também não vai entrar para a história do cinema. Por pura acumulação de títulos, tem algo de bom, e é verdade que Han Solo: Uma História Star Wars, depois de um começo arrastado, entretém. Mas falta vibração, porque Howard nunca arriscará seu veículo em ultrapassagens.

A Millenium Falcon
A Millenium Falcon

Alden Ehrenreich. O ator que dá vida ao jovem Han Solo é um protegido de Steven Spielberg, que o colocou em Tetro, de Francis Ford Coppola. A culpa não é de Ehrenreich, que não tem mais o que dar de si, e não possui o encanto nem o carisma de Harrison Ford. A culpa é de quem o escolheu: a Disney, Miller e Lorde. Talvez o mais adequado fosse Miles Teller (Whiplash: Em Busca da Perfeição), que chegou ao crivo final, mas havia ganhado fama de encrenqueiro em Os Quatro Fantásticos, e os produtores não quiseram se arriscar com ele. Ehrenreich bem que tenta. Muito. Mas... Custa acreditar que o Solo de Ehrenreich venha do Solo de Ford. Se o original era um descarado de moral difusa, egoísta e muito imprudente, o de Ehrenreich está mais preocupado com o que vão achar dele. Aliás, o novo ator tem 28 anos, e Ford tinha 34 quando começou a encarnar Solo. Só seis anos os separam? Incrível. Para acabar, grande química com Chewbacca e inexistente com Qi’ra.

Piscadelas clássicas. Não se pode revelar o nome do vilão que aparece no final, e que provocou um grande “Oooohhh” em Cannes. Mas há inúmeras pérolas aos fãs. Só comentaremos alguma: confirma-se a importância do idioma espanhol no sobrenome do protagonista; há uma referência a Tatooine; entre as participações especiais aparece Warwick Davis, que começou sua carreira como o ewok Wicket em O Retorno de Jedi; a voz de Lady Proxima, um bicho de grandes proporções, pertence à mítica Linda Hunt; dá-se uma nova conotação à legendária frase “Tenho um mau pressentimento”... E sobretudo assistimos à criação do mito Han Solo: como obtém sua pistola, como conhece Chewbacca e como escolhe seu apelido; como se encontra com Lando Calrissian; por que quebra o recorde do famoso corredor de Kessel, e presenciamos o mítico jogo de cartas em que ganhou a Millenium Falcon. Tudo recorda muito a apresentação de um jovem Indiana Jones em Indiana Jones e a Última Cruzada.

Lando pilota a nave Millenium Falcon em um salto para o hiperespaço
Lando pilota a nave Millenium Falcon em um salto para o hiperespaço

Paul Bettany. Quando Howard, a Disney decidiu rodar a maior parte do filme novamente (estima-se que 80%), e alguns atores não puderam repetir suas sequências por problemas contratuais. Por isso desapareceu do filme Michael Kenneth Williams, o protagonista de The Wire, substituído por Paul Bettany, considerado um dos grandes azarados de Hollywood. Como homenagem ou porque estava no roteiro, o rosto de Dryden Vos, o líder de uma máfia chamada Crimson Dawn, está riscado por cicatrizes, como a que percorre a cara de Williams. Ficamos sem um possível grande vilão.

Retrocesso feminino. O personagem de Emilia Clarke, Qi’ra, volta aos papéis femininos meio passivos. Meio, porque tem uma hora em que ela... Vamos parar por aqui. Mas Clarke faz o que pode. Certamente, Thandie Newton fica melhor como guerrilheira. Ela sim maneja a pistola com facilidade.

Emilia Clarke, como Qi’ra, em uma cena do filme
Emilia Clarke, como Qi’ra, em uma cena do filme

Novos planetas e personagens. Há novos cenários, como o planeta Corellia, fundamental no começo do filme, mas o importante é o cheiro de spaghetti western, os acenos a clássicos como Glória Feita de Sangue, presentes em todo o roteiro, e que o filme tenha como protagonista não tanto Han Solo, e sim um grupo de foras da lei. Aí está a força da trama. As poucas frases do robô L3, a piloto do Falcon quando a nave é propriedade de Lando, fazem dessa breve personagem uma presença a recordar.

Ausências. Nada sobre a Força, mas alguma coisa se fala do Império e da rebelião. Pela primeira vez não aparecem nem Anakin Skywalker nem nenhum de seus familiares num filme da saga Star Wars.

A música. Um horror. E uma curiosidade: preste atenção na melodia que soa nos anúncios de recrutamento do Império.

Donald Glover. A grande esperança, dado o seu carisma. Estupendo como Lando Calrissian; porém, conta com pouco tempo para desenvolver seu personagem.

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