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A expansão do grande império da marquinha

As empreendedoras das lajes monetizaram o sol, de Belo Horizonte ao Ceará e Goiás. Negócio popular ganhou impulso com o sucesso do clipe 'Vai Malandra', filmado no Rio

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Drica passou os primeiros dias de 2018 olhando para cima, inconformada com a chuvarada que fechou o céu de Belo Horizonte. Lá na laje da sua casa, no ironicamente bairro Céu Azul, 20 quilômetros do centro da capital mineira, sol brilhando é commoditie básica para o negócio que ela vende: marquinhas de biquini perfeitas. Por isso, na falta de uma modelo tostando em cima de uma espreguiçadeira, vai mostrando suas habilidades em um manequim de plástico mesmo. Sem interrupções, leva 10 minutos para desenhar parte de cima e de baixo, mas com o céu nublado está sem pressa. Puxa uma ponta da fita isolante preta, corta um pedaço grande, faz uma alça, depois outra. Aos poucos, vai colando no manequim o biquini com que, diz, trabalha faz uns cinco anos. Muito antes do negócio do bronzeamento com fita isolante ganhar fama.

Nacionalmente, tudo começou em 2016 com a Érika Bronze. A partir de sua laje no Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, onde coloca as mulheres para tomar sol com os agora famosos biquinis de fita isolante, ela virou assunto de um sem número de jornais e revistas. Até que a laje, seus biquinis e ela própria foram parar no clipe Vai Malandra, da Anitta, que foi lançado em dezembro do ano passado e já tem mais de 100 milhões de visualizações. Em Belo Horizonte, na vida da Drica Muniz, contudo, nada disso é novidade. Ela diz que conheceu a técnica da fita tem mais de 10 anos lá em Goiás – “onde a mulherada é mais vaidosa do que em qualquer canto” –, e que, apesar da fama das lajes cariocas, a coisa não começou por lá.

A Érika Bronze, diz a Drica, é só mais uma das centenas de personal bronze – “esse é o nome dessa profissão que eu amo tanto” – que existem espalhadas pelo Brasil. Ela mesma, faz parte de um grupo de WhatsApp em que há mais de 100 profissionais trocando ideias sobre loções, fitas, novas técnicas, cursos e clientela. Tem gente de Sergipe, Ceará, do interior de São Paulo e da capital federal, Brasília. Mas depois do clipe na laje da Érika o movimento melhorou? “Melhorou, claro, mas aí veio a chuva no melhor do verão e a coisa está parada. Eu dependo do sol pra trabalhar”, diz. E você gosta da Anitta? “Tive que aprender a gostar!”, dá risada.

Drica é metódica e vai explicando sua rotina de trabalho, que vai de domingo a domingo, enquanto monta o biquini no manequim. Primeiro ela pede para a cliente mandar uma foto, analisa a tonalidade da pele e define o horário do bronze. “Pele clara tem que chegar às 7h da manhã e só pode ficar 40 minutos no sol, pele morena pode vir a partir das 9h e pode ter até uma hora de exposição”, explica. O bronze nunca pode passar do meio dia, quando o sol fica mais forte. As partes íntimas e sensíveis ela protege com TNT colante e, por cima, coloca fita isolante colorida, porque esquenta menos. A preta, que realça mais o bronze, só vai onde não há perigo de queimadura. As fitas são todas compradas via correio de um distribuidor de Goiás, que já as vende cortadas ao meio, assim, desenhar o biquini fica mais fácil. Em uma manhã já chegou a colocar 25 mulheres na laje.

No corpo das clientes, ela aplica parafina ativadora – “tudo licenciado pela Anvisa”, realça –, e não deixa ninguém tomar sol no rosto, onde coloca protetor solar e protege com uma viseirinha. Antes de tudo, também faz o banho de lua, ou seja, descolore os pelos das clientes. Durante o bronze, tem duas assistentes que regam as clientes para hidratar, igualzinho no clipe da Anitta. Só que na laje da Drica só entra mulher, assim fica todo mundo mais à vontade. Para beber, ela oferece água gelada e recomenda que um dia antes a cliente prepare um suco verde – “a receita é maçã, água de coco e folha de couve, bem melhor para o bronze perfeito do que cenoura ou beterraba”. Depois da sessão tem banho de ducha e tudo sai por 100 reais. Mas isso é na Drica. Hoje, preço e rotina de bronzeamento variam de laje para laje. E elas não param de surgir em todo o Brasil.

Douglas Magno

No grupo de WhatsApp Melhores Bronze Brasil, por exemplo, a Drica troca mensagens com a Fran, a Francisca Gonçalves, que é só uma das muitas personal bronze de Goiás. Ela trabalha em Aparecida de Goiânia, município colado à capital do estado, atende poucas clientes em sua própria casa, também diz que a técnica da fita começou em Goiás, mas não sabe dizer ao certo onde. As duas também falam sobre biquinis e ativadores de parafina com a Nair Ambrosio do Nascimento, que há dois anos trabalha na região de Jaboticabal, no interior de São Paulo. Nair conta que por semana está faturando entre 2.000 e 2.300 reais, mas que depois do clipe da Anitta deixou de reinar absoluta. Em Taquaritinga, município de cerca de 50.000 habitantes próximo a Jaboticabal, por exemplo, ela era a única personal bronze, mas desde Vai Malandra já surgiram 4 concorrentes. “Tudo bem, porque a clientela também não para de crescer”, diz.

Cada uma trabalha ao seu modo, mas é a Nair quem resume bem: falar sobre o Brasil hoje e não citar marquinha de fita, funk e Anitta é impossível. Na laje do interior de São Paulo, ela vê muita mulher casada que vai em busca do bronze perfeito seguindo pedidos dos maridos e diz até que a marquinha é hoje a principal responsável por reatar casamentos. A Drica, por sua vez, que já trabalha até com tatuagens de estrelinha feitas pelo bronze, coloca a obsessão nacional pelo bronzeamento na conta da  sensualidade do povo brasileiro. Seja como for, depois deste verão, se a chuva permitir, as lajes do Brasil, antes reduto exclusivo de churrascões, nunca mais serão as mesmas.

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