_
_
_
_

Anitta, a rainha do pop brasileiro flerta com o sucesso internacional

A cantora de 24 anos, com milhões de fãs no país, grava single em espanhol Estrela encara empreitada nos EUA para cativar fãs estrangeiros

A cantora Anitta.
A cantora Anitta.Instagram

Anitta está em busca de Poderosas. A cantora, de 24 anos, está empenhada em ser, e logo, uma presença global. No último dia 31, ela provou que está determinada a vencer uma espécie de maldição que outras divas pop brasileiras já enfrentaram: a de fracassar na tentativa de brilhar na gringa após causar furor no Brasil. Para isso, ela age em várias frentes, em três línguas, e tudo ao mesmo tempo. Por ora, ela já emplacou o epíteto de "rainha do pop brasileiro" para algumas publicações estrangeiras. Conta com um respaldo de peso. É a mega-agência WVE, a mesma de Rihanna, que cuida da carreira da cantora carioca desde o ano passado. E também uma base poderosa de fãs.

Mais informações
Funk, o ‘bonde’ da revolução sexual feminina
MC Carol: “Meu namorado não é otário. Homem tem que dividir tarefa”
PaguFunk, do ‘pancadão’ feminista às ameaças de morte
Valesca Popozuda: “Sou feminista desde que nasci”
Lambateria: a festa paraense de lambada retrô (e do seu Godofredo)
A luta pelo funk no Senado: a história mais brasileira nunca contada?

No último dia 27 de maio a cantora iniciou a sua blitzkrieg, um 'ataque surpresa' para quem acredita que ela é só uma cantora com data de validade para seu sucesso. Exibindo um microshort amarelo e vermelho, nesse dia subiu diante das câmeras ao lado da rapper australiana Iggy Azalea no The Night Show with Jimmy Fallon, um dos talk shows de maior prestígio da TV norte-americana. Fallon anunciou a cantora e a pronúncia do apresentador gerou um novo apelido, Anira (é assim que se pronuncia Anitta em inglês), que agora é usado pelos fãs para definir sua ascensão a Shakira brasileira.

Poucos dias depois, lançou a música Paradinha, que recebeu 500.000 visualizações em menos de uma hora no Youtube, 8 milhões em 24 horas, e 21 milhões em sete dias, tornando-se o vídeo mais visto do site aqui no Brasil na semana passada. No clipe, Anitta mexe o ventre e os quadris como a cantora colombiana e canta em espanhol um típico reggaeton latino-americano, que desembarca em pleno verão europeu no rastro do sucesso Despacito. Na mesma semana, ela apresentou Sua Cara, uma parceria com a drag queen maranhense Pabllo Villar, que também é sucesso entre o público brasileiro. Anitta e suas novas canções também são campeãs absolutas de buscas no Google e quase sempre trending topic no Twitter – onde tem 4,6 milhões de seguidores e seus comentários são retweetados milhares de vezes. No Facebook tem mais de 13 milhões de seguidores e no Instagram, 20,5 milhões.

Paradinha tem chances de repetir o sucesso que Ai Se Eu Te Pego, de Michel Teló, teve entre o público estrangeiro em 2011. A canção se desinflou com a mesma rapidez que subiu nas paradas de sucesso e Teló voltou a ser uma figura conhecida apenas entre os brasileiros. Mas com Anitta é diferente. Não se trata apenas de vender uma canção, mas também de se mostrar como uma cara fresca, alguém que saiu da zona norte do Rio para o mundo e controla sua própria carreira, para a indústria pop. Não é só canção que importa, mas também, e principalmente, sua história. E ela tem buscado atrelar sua carreira a pessoas que também representam esta renovação, a julgar pelas suas últimas parcerias com a rapper australiana Iggy Azalea, com o maranhense Pabllo Villar e, no ano passado, com o colombiano Maluma.

Anitta na verdade se chama Larissa de Macedo Machado. Nascida em 1993 no bairro de Honório Gurgel, é filha de uma costureira e de um vendedor. Começou a cantar aos sete anos em uma igreja e escolheu seu nome artístico por causa do seriado Presença de Anita – porque, segundo já disse, a personagem encarnada por Mel Lisboa podia ser o que quisesse. Nos seus primórdios já foi MC Anitta, quando ainda cantava funk em bares, chopadas e festas de formatura entre Rio e São Paulo. Sua carreira começou oficialmente em 2010, ao assinar um contrato com a Furacão 2000. Hoje seus fãs levam sua carreira tão a sério que não perdoaram o fato de sua aparição no programa do Jimmy Fallon fosse como coadjuvante de Azalea – algo que inclusive pode ter prejudicado Anitta, já que a cantora australiana apagou as fotos que tinha no Instagram com a brasileira.

São esses mesmos fãs que correm em defesa da cantora sempre que ela é criticada ou quando, por exemplo, suas plásticas – no nariz, nos lábios, nos seios, etc – são alvo de comentários maldosos. Para muitos sua transformação é sinal de futilidade, exageros estéticos, de deformação de sua beleza ou de não aceitação de suas características. Mas para seus fãs, tanto alterações estéticas quanto sua mudança do subúrbio para uma mansão em condomínio fechado são uma conquista, o resultado do esforço de alguém que se formou em um curso técnico de Administração mas que largou tudo, inclusive um emprego em uma grande empresa, para perseguir seu sonho maior. Anitta não é apenas um ícone pop, mas também todo um símbolo de esforço e superação. Ela mesmo alimenta essa percepção, ao sempre destacar qua sua trajetória só foi possível com muito estudo e muito esforço. E ela também já advertiu: "O Brasil é campeão em cirurgias plásticas, todo mundo faz, mas por que só falam das minhas? O dinheiro é meu, quem está pagando sou eu".

Anitta. Lembro do William Waack pingando uma dose de Aguarrás Pinot Noir da Formidabilidade nos lábios carnudos da...

Gepostet von Anderson França am Sonntag, 4. Juni 2017

Um momento emblemático foi quando recebeu – e rebateu – alfinetadas do jornalista William Waack, ao vivo na TV Globo, após sua apresentação com Caetano Veloso e Gilberto Gil na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio. Na ocasião cantou e dançou o samba Isto Aqui O Que É, de Ary Barroso, mostrando toda a sua versatilidade. Os comentários feitos por Waack foram interpretados como uma arrogância elitista contra alguém que ascendeu na vida.

Anitta também faz questão de ter uma relação próxima com seus admiradores. Não são poucos os comentários ou posts nas redes sociais que ela responde. No último dia 26, por exemplo, uma menina publicou no Twitter fotos de dona Beth, uma senhora de São João de Meriti (município da região metropolitana do Rio de Janeiro) que, ao completar 65 anos, fez uma festa de aniversário cujo tema era Anitta. A cantora, ao ver o post, respondeu dizendo que queria conhecê-la. Ela também gosta de fazer graça. No último dia 5, postou no Twitter: “Meu dia dos namorados será complicado. Eu e meu namorado somos muito diferentes. Por exemplo... eu existo e ele não...”. Essa postura de quem não se leva tanto a sério faz seus admiradores delirarem.

Ao mesmo tempo, toda a sua transformação para ícone pop já gera nostalgia em alguns de seus admiradores. "Ela era uma menina do subúrbio de short curto. E aí ela começou a fazer umas músicas que para mim tinham uma pegada de empoderamento. Eu me amarrava nisso, gostava dela quando ainda era chamada de Larissa. Era uma vibe de 'foda-se a porra toda, sou gostosa pra caralho'. Quando ela começou numa lógica mais pop, querendo ser uma Cristina Aguilera, achei que ela tinha traído o funk", relata Paula, uma fã das antigas. "Mas ela fez parcerias importantes e ganhou projeção no mundo. Então admiro muito ela neste sentido. Achava ela mais livre e feminista no começo, agora acho que ela está mais podada pela mídia, pelo sucesso... Mas como uma cantora brasileira, ela quebrou umas barreiras importantes. Hoje eu mais respeito do que gosto", conclui.

Nathalia, outra fã, discorda desse rótulo de feminista, não raro atribuído à cantora em músicas como Menina Má ou Meiga e Abusada, com as quais ela conta que se identificava após um término de namoro. "Para mim ela era apenas uma mulher... livre. Era algo natural ela mostrar a mulher como uma pessoa que faz o que quiser, que dança só para provocar. Era legal, era divertido e era uma forma de colocar a mulher para cima. Não via como uma necessidade de afirmação de um termo político. A Karol Conka é muito mais política do que a Anitta no começo". Seja como for, ficou famosa uma discussão com a cantora Pitty no final de 2014 no programa Altas Horas, da TV Globo, em que ela responsabilizava à mulher por alguns maus comportamentos masculinos. Mas o caso não apenas não abalou sua base de fãs, como ela ainda ganhou o perdão das mais feministas – incluindo a própria Pitty. Hoje ela diz ser a favor da igualdade entre todos. "O que foi feio para um deve ser feio para o outro, e o que for bonito para um deve ser bonito para o outro", chegou a dizer.

Aliás, Anitta tem fama de querer agradar a todos. Em sua festa de 24 anos, em março deste ano, promoveu uma grande festa em sua casa – cujo tema era "Anitta na Selva" – e, para não incomodar seus vizinhos, convidou todos. Para os que não quiseram ir, pagou uma diária em um hotel. Assim, cuidando de sua relação com os fãs, adaptando sua música para formatos internacionais e planejando cada passo de sua carreira, Anitta vai se tornando a principal artista brasileira da nova geração. E sua presença é cada vez mais global. Para o desgosto de William Waack.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_