Por que mesmo com crescimento econômico a África continua perdendo seus jovens?
Com crescimento de 9% ao ano, a Costa do Marfim é a quarta nacionalidade de imigrantes que chegam por mar à União Europeia
Com um aeroporto reformado, a demolição das favelas e comércios informais que ladeavam as ruas principais e meia cidade sob o rolo compressor, Abidjã, principal polo econômico da Costa do Marfim – e sede, nesta quarta e quinta-feira, da 5ª Cúpula União Europeia-União Africana – navega a velocidade de cruzeiro para recuperar sua glória de antigamente, quando era considerada a grande joia da África Ocidental. Mas o despertar da cidade contrasta com o aumento das pessoas que vivem com menos de um euro (3,85 reais) por dia em todo o país: um milhão de pessoas a mais do que há 10 anos (época em que a Costa do Marfim estava em conflito), segundo dados do Banco Mundial. Esta nação é o reflexo do que acontece, em grande escala, em todo o continente africano.
O perfil de Abidjã, esculpido por uma lagoa, mudou radicalmente desde 2011, quando a guerra civil terminou e o novo Governo de Alassane Ouattara se propôs a relançar a economia olhando para o exterior. Efetivamente, os grandes investidores voltaram à Costa do Marfim, cujo PIB ostenta um chamativo crescimento médio de 9% ao ano desde 2012. Está reeditando sua fama de “milagre econômico”, e alguns já lhe chamam de “tigre africano”. Os grandes capitais externos permitiram construir obras de infraestrutura fundamentais para descongestionar o pulmão econômico do país, maquiar com elegância esta abafadiça e hiperativa metrópole e gerar lucros. Mas a implementação dessa iniciativa pisoteou o imprescindível setor informal, e parte da população que antes sobrevivia graças a ele agora ficou sem emprego, fora do jogo.
Enquanto a classe média enriquece e desfruta do boom em restaurantes e hotéis como o Hotel Ivoire – onde 83 chefes de Estado e de Governo da União Africana e da União Europeia discutem nesta semana os grandes desafios comuns entre as duas regiões –, milhares de marfinenses empreendem a perigosa viagem rumo à Europa. “O dinheiro não circula como antes”, se diz nas ruas de Abidjã. As oportunidades devem ser buscadas lá fora.
Paradoxalmente, o milagre econômico marfinense está expulsando centenas de jovens: é a quarta principal nacionalidade de chegada por mar à União Europeia, segundo as Nações Unidas. Dos quase 170.000 imigrantes que desembarcaram na Europa pelo Mediterrâneo em 2017, 7,9% são marfinenses, segundo dados da organização internacional.
Com um despertar duas vezes mais rápido e uma população jovem e ativa cada vez mais numerosa e desempregada, o caso da Costa do Marfim é o reflexo do que acontece, em grande escala, no continente africano. Com 60% da população abaixo de 25 anos, a África é a região mais jovem do mundo, em contraste com uma Europa cada vez mais velha.
“Precisamos ter a possibilidade de procurar o futuro em nosso país”, defendeu veementemente a presidenta da União da Juventude Pan-Africana, a congolesa Francine Furaha Muyumba, na sessão inaugural da Cúpula de Abidjã, apontando que, para isso, “é preciso apoiar os empreendedores”.
Essa juventude cada vez mais numerosa é o grande potencial, mas também o grande risco para a África e a Europa. A taxa de desemprego de 31% no continente empurra milhares a iniciar a perigosa travessia para o norte, e o problema pode se tornar muito maior. “70% dos empregos atuais estão em risco de desaparecer nos países em desenvolvimento por causa das mudanças no mercado de trabalho, sobretudo devido à automatização do setor industrial”, alerta o Banco Mundial.
Sob o tema “Investir na Juventude para um Desenvolvimento Sustentável”, a Cúpula de Abidjã colocou justamente os jovens no centro da pauta. Os desafios de imigração e segurança, dois pilares das discussões, só terão solução se forem levados em conta os 200 milhões de africanos que hoje têm entre 15 e 24 anos.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- Desarrollo África
- Jovens
- Post-2015 Agenda
- ADI
- Juventude
- Desenvolvimento humano
- Indicadores econômicos
- Indicadores sociales
- Pobreza
- Qualidade vida
- África
- Migração
- Bem-estar social
- ONU
- Demografia
- Política social
- Organizações internacionais
- Europa
- Relações exteriores
- Cultura
- Problemas sociais
- Economia
- Política
- Sociedade
- Meio ambiente