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Casal gay recria foto 25 anos depois “para que jovens vejam que amor duradouro existe”

História de amor de norte-americanos é contada através de fotografias cedidas ao EL PAÍS

Entre estas duas imagens, ambas feitas em diferentes edições da Parada do Orgulho LGBT+ de Washington, se passaram 25 anos da história de amor entre Nick e Kurt. É também a elipse que encerra todas as batalhas que eles foram vencendo ao longo desse período: a impossibilidade de se casarem ou de adotar crianças, a ameaça da Aids e as políticas de Reagan e Clinton que proibiam militares de declarar abertamente sua sexualidade. As fotografias, publicados pelo tuiteiro Tagyourheathen, superaram os 140.000 retuítes em menos de 48 horas.

"É só uma fase".

Amigos e familiares sugeriram que o casal recriasse a fotografia tirada em 1993, como parte da comemoração de seus 25 anos juntos. Nick postou a imagem no Facebook em 11 de junho e, até o momento, ela já foi compartilhada mais de 24.000 vezes. Uma semana depois, @tagyourheathen a postou no Twitter, ironizando com uma das frases que muitos homossexuais já tiveram que escutar ao longo de suas vidas: “É só uma fase”. “Os jovens precisam ver que existe amor duradouro”, conta Nick ao EL PAÍS, através de um e-mail. “Nos últimos dias, recebemos centenas de histórias de pessoas que se sentem identificadas conosco e que nos emocionaram”.

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Kurt e Nick (de 54 e 52 anos, respectivamente) se conheceram em 1992 na manifestação pelos direitos da comunidade LGBT+ da capital norte-americana. “Nós dois tínhamos infâncias parecidas, vínhamos de famílias numerosas, crescemos perto da região dos Grandes Lagos e trabalhávamos na área da saúde”, diz Nick. “Naquela época vivíamos a quase 100 quilômetros de distância, e foi incrível termos nos encontrado”.

O casal não deixou de participar dessa e de outras paradas nestes 25 anos. “Acreditamos que é importante representar a comunidade”, conta. “As manifestações do Orgulho LGBT+ são guarda-chuvas enormes que acolhem uma população muito diversa e permitem nos reunirmos para aprender uns com os outros e aceitar nossas diferenças”.

Sua história (e a da comunidade LGBT+), em fotos

A primeira das imagens foi feita em 1993, no mesmo lugar onde se conheceram um ano antes. Já namoravam. Nick tinha 30 anos e Kurt, 28, e um amigo bateu a foto. “Mais de 1 milhão de pessoas marcharam pelos direitos da comunidade LGBT+ naquele ano”, recorda Nick.

“Eram tempos complicados”, conta. “Acabávamos de sair do Governo de Ronald Reagan, que virava as costas para o problema da Aids, e chegava Bill Clinton, que assinava a lei Don’t ask, don’t tell (“Não pergunte, não diga”). Essa lei proibia que os militares falassem abertamente de sua homossexualidade se quisessem permanecer no Exército, e ficou em vigência de 1994 a 2010, quando foi declarada inconstitucional”.

A segunda fotografia é da edição de 2017 da Marcha de Igualdade pela União e o Orgulho (agora chamada de Orgulho de Washington). Foi tirada pela irmã de Kurt, que acompanhou o casal no evento. “É um ano para comemorar o reconhecimento que o Governo Obama deu a nossa comunidade nos últimos oito anos. Apesar de estarmos cientes de que tudo isso pode mudar com a chegada de Trump”, comenta.

No passado a lei não lhes permitiu adotar crianças, e isso é um sonho que deixaram passar. Mas os dois conseguiram se casar, e em várias ocasiões. A primeira, a mais oficial, foi na realidade um ato simbólico. Ocorreu em 1993 e não contava com confirmação legal.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi legalizado em Massachusetts em maio de 2004. Quatro anos depois, os dois se casaram novamente, nesse Estado. “Obter esse direito teve um grande impacto em nossas vidas. De repente, pudemos ter acesso à sala de um hospital se algo acontecesse com um de nós ou pude me proteger com o seguro do meu marido”, explica Nick.

O terceiro casamento foi na Flórida, o Estado onde vivem juntos desde 1992 e onde as uniões homossexuais foram legalizadas em 2015. “Frequentemente nos perguntam como fizemos para ficar 25 anos juntos”, reconhece Nick. “Não é para menos, porque a sociedade está estruturada para nos separarmos”.

Para Nick, mostrar abertamente a homossexualidade diante da sociedade atualmente tem um passo a mais: as redes sociais. “Quando você pensa que já está fora do armário percebe que ainda falta uma camada para descascar. Nós, por exemplo, demoramos para publicar fotos nas redes sociais demonstrando afeto mútuo, caso alguém ficasse ofendido”.

Suas duas fotografias virais, separadas por 25 anos, “são uma forma de agradecer a todos aqueles que facilitaram o caminho antes de nós”, conta Nick. “As pessoas que protestaram em Stonewall, em 1969, aqueles que enfrentaram a crise da Aids nos anos oitenta e noventa, os que lutaram em um tribunal por seus direitos, cada pessoa que saiu do armário diante dos outros... Queremos agradecer a todos. É importante se envolver, fazer a diferença, dar um passo à frente, apoiar a comunidade e propagar uma mensagem de amor”.

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