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Escavações confirmam existência de fossa com vários bebês em convento na Irlanda

Em 2014, uma historiadora havia denunciado que a casa de acolhimento para mães solteiras, administrada por freiras católicas, ocultava até 800 corpos de crianças

Pablo Guimón
O antigo orfanato católico de Tuam, no Condado de Galway, em 2014.
O antigo orfanato católico de Tuam, no Condado de Galway, em 2014.Niall Carson (AP)
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Um antigo centro católico de acolhimento de mães solteiras na localidade de Tuam, na Irlanda,  ocultava uma fossa com “um grande número” de esqueletos de bebês e crianças, segundo confirmou na tarde desta sexta-feira a comissão encarregada pelo Governo em 2014 de investigar as casas de acolhimento administradas por religiosas católicas no século passado. As escavações começaram em outubro no chamado Lar de Mães e Bebês do Bom Socorro, que funcionou entre 1925 e 1961, depois do estudo de uma historiadora que alertou que 800 bebês poderiam estar enterrados em uma fossa sob o antigo centro de acolhimento.

Os investigadores –que se declararam “comovidos” pelo achado”– encontraram uma estrutura subterrânea composta por 20 câmeras. Em pelo menos 17 delas acharam “quantidades significativas de restos humanos”. O exame dos restos mortais revelou que incluem desde fetos de 35 semanas até crianças de três anos de idade, falecidas no período em que as freiras gerenciavam o abrigo.

Os esqueletos foram encontrados no Lar de Mães e Bebês do Bom Socorro, que funcionou entre 1925 e 1961, sob a gestão de freiras 

O estabelecimento era um entre mais de uma dúzia, distribuídos por todo o país e administrados pela Igreja Católica, onde eram recolhidos órfãos e mães solteiras. Estas representavam uma mácula na reputação da Irlanda como uma devota nação católica e um problema para alguns pais poderosos com aventuras extraconjugais. Nessas instituições as mães eram separadas dos filhos, que eram criados pelas freiras dentro da mesma unidade, à espera de que pudessem ser adotados. O Governo calcula que cerca de 35.000 mães solteiras passaram por algum dos centros de acolhimento administrados por ordens de religiosas católicas desde a criação do Estado irlandês, em 1922, até os anos sessenta.

Nos anos 30, 40 e 50 do século passado, a mortalidade dos filhos nascidos fora do casamento chegava a ser cinco vezes maior que a das crianças de pais casados, de acordo com dados oficiais. O achado confirma as suspeitas de que as crianças mortas no centro eram enterradas em valas comuns, sem registro. O arcebispo de Dublin disse em 2014 que “se algo se passou em Tuam, provavelmente terá acontecido também em outros lares de acolhimento de mães e crianças do pais”.

O exame dos restos mortais revelou que incluem desde fetos de 35 semanas até crianças de três anos de idade

A historiadora local Catherine Corless foi quem chamou a atenção sobre o caso de Tuam, com um estudo que descobriu certificados de óbito de quase 800 crianças, mas registro de enterro de somente duas. A investigação de Corless apontava que, como parece indicar a descoberta anunciada hoje, os restos jaziam no espaço ocupado por uma fossa séptica do edifício.

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