Peru enfrenta o desafio de melhorar a infraestrutura como motor econômico
Déficit de infraestrutura de transporte é um dos pontos-chave destacado no Fórum de Inovação Social Hitachi realizado em Lima

O déficit de infraestrutura de transporte e os custos, tanto em tempo como em dinheiro, que representam para a economia e a vida cotidiana deixam o Peru numa posição pior do que a média da Aliança do Pacífico (à qual também pertencem Chile, Colômbia e México). Este é um dos pontos-chave destacado ontem por empresários, especialistas e funcionários públicos no Fórum de Inovação Social Hitachi, realizado na capital peruana, Lima, com a colaboração deste jornal. O evento é um dos 40 do gênero que a multinacional japonesa programou para este ano em todo o mundo.
O atraso em infraestruturas que afeta o país andino tem consequências em áreas tão diversas como o custo logístico do café peruano (que representa 21% dos custos totais), quase o dobro que na Colômbia (entre 9% e 14%). Enquanto que apenas o gasto do transporte do cacau peruano representa 16% do total, em Gana esta mesma cifra é de 12%, como destacou Pedro Luis Rodríguez, economista-chefe do escritório do Banco Mundial no Peru. Na opinião dele, a recuperação da economia peruana desde o ano 2000 e a poupança em ativos líquidos é evidente, mas a atividade de Lima –que tem quase o dobro da população do que a soma das 14 maiores cidades do país– só é comparável à economia de 45% do Peru. “É como se tivéssemos um salão de festas e só usássemos um canto”, afirmou.
“A economia peruana vem crescendo há 86 meses consecutivos, mas em infraestrutura existe muita diferença em relação à média ideal. É por isso que necessitamos de investimentos no desenvolvimento desta, para a segurança e a qualidade de vida da população”, disse o presidente da Hitachi na América do Sul, Kazuhiro Ikebe.
No primeiro painel, intitulado Estratégias para uma sociedade melhor, o arquiteto Álvaro Ugarte, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa e Formação Municipal, ressaltou a dicotomia entre a capital e o resto do país. Apesar da estabilização da economia peruana desde 1999, a pobreza não diminuiu de maneira equitativa: 16% da população de Lima está em situação de pobreza, em comparação com 47% nas áreas rurais. “Isso explica a fraca capacidade do Estado em chegar a todo o território”, disse Ugarte. “Três quartos da população do Peru vive nas cidades e em 2021 se espera que 80% resida em áreas urbanas”, acrescentou.
Através da Ansaldo STS, uma das seis empresas que integram o consórcio que em 2012 obteve a concessão para construir e operar a linha 2 do metrô de Lima, o grupo Hitachi tem presença significativa na capital peruana. A empresa japonesa –a maior do setor eletroeletrônico e a terceira maior manufatureira do Japão depois da Toyota e da Nissan– fornecerá os trens para esse sistema de transporte, cuja implementação acabou sendo retardada. Mas sua presença não é nova. Nos anos setenta, a Hitachi era a marca mais conhecida de rádios transistorizados no país.
O metrô em Lima
Chega quatro décadas depois, com os chamados “negócios de inovação social”. “Acumulamos conhecimento para controlar operações e sistemas de informação para analisar, fazer monitoramento e previsões”, destacou Teruya Susuki, diretor da divisão de inovação social da Hitachi. “O desenvolvimento nos trouxe muitos problemas sociais, como falta de energia e agressões ao meio ambiente, [carência de] água e alimentos, congestionamentos de trânsito, insegurança, pobreza... A chave é equilibrar esses problemas com o crescimento, e acreditamos que isso é viável mediante a inovação social”, acrescentou o executivo.
Susuki mostrou uma ferramenta para ler e interpretar os fluxos de passageiros e veículos em tempo real, que permite determinar as melhores vias na operação dos trens de transporte de massa de alta velocidade. “Ao contrário da manutenção tradicional, a equipe rodante analisa o pátio de manutenção na estação central de avaliação da retroalimentação. Assim, antes que o trem fique parado, providencia manutenção preventiva para que seja garantida a operação segura e contínua do trem”, explicou.
Também se falou da demora na construção da linha 2 do metrô de Lima. “Não é um segredo que está atrasada e que há entraves, mas a cidade precisa dela”, observou Roberto Vitali, executivo da Ansaldo STS e diretor da citada linha do subterrâneo limenho. Por sua vez, o dirigente do Colégio de Arquitetos do Peru, José Enrique Arispe, classificou como urgente “um novo plano para a cidade, para que haja uma concordância entre as políticas de transporte centrais e municipais”.