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Rodrigo Maia, o liberal alinhado a Temer que presidirá a Câmara

Parlamentar pelo Rio construiu candidatura para disputar espaço com 'centrão'

Rodrigo Maia, novo presidente da Câmara.
Rodrigo Maia, novo presidente da Câmara.Fabio Rodrigues Pozzebom (Agencia Brasil)
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Contra o aborto, o regime de partilha do pré-sal, a legalização da maconha e o aumento de impostos, o parlamentar pelo Rio, Rodrigo Maia (DEM), era visto nos bastidores como o mais sintonizado com os ideais do presidente interino Michel Temer, ainda que não fosse seu favorito desde o início para o posto. Para o Planalto, a vitória coloca um nome confiável para se ter na cadeira que decide quais projetos vão à votação no Congresso do país.

O filho do ex-prefeito do Rio César Maia chegou a ser cotado para atuar como líder do Governo neste ano, assim que Temer assumiu a presidência. Mas acabou perdendo a posição para André Moura (PSC), um candidato apoiado pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), bastante ligado a Temer. Na eleição para a presidência da Casa, entretanto, o candidato de Cunha, Rogério Rosso (PSD) era um visto como mais instável para o Governo, já que era mais susceptível às pressões do grupo que o apoiou, o chamado centrão, segundo o analista político Antônio Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Os candidatos deste grupo, liderados pelo ex-presidente da Câmara, costumam direcionar seus apoios de acordo com seus próprios interesses e são vistos, muitas vezes, como chantagistas.

Ex-bancário, ele nasceu em Santiago, no Chile, em 1970, quando seu pai estava exilado por conta da ditadura militar. Está em sua quinta legislatura -a primeira foi em 1999. Ex-presidente do antigo PFL, ele foi um dos articuladores da mudança do nome da sigla para DEM com o objetivo de tornar a imagem do partido mais jovem e mais afastado de seu passado de ligação com o conservadorismo e a ditadura. A ideia era deslocar a legenda mais para o centro, mas a polarização da era PT no poder limitaram os planos e o partido vivia, até ser ponta de lança do impeachment, um declínio.

No ano passado, Maia foi relator do projeto que discutiu a reforma política na Câmara e se posicionou contrariamente à proibição de doações de empresas a partidos políticos, medida que acabou aprovada na Casa, mas depois foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo o projeto Atlas Político, ele gastou 2,3 milhões de reais em sua última campanha e seu maior doador foi o Banco BMG, envolvido no escândalo do mensalão, que repassou a ele 550.000 reais. Ele também recebeu 100.000 reais da JBS, envolvida na Operação Lava Jato. Maia não responde a processos judiciais, mas mensagens suas foram encontradas no celular do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que negocia delação na Lava Jato. Nelas, Maia pede doações, que ele disse serem legais. De acordo com a revista Época, a Procuradoria-geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal para abrir investigação contra o novo presidente da Câmara.

Neste ano, o mais novo do clã Maia foi um dos membros mais atuantes da Comissão Especial de Impeachment, quando chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "fascista" e disse que ele governava "acima das leis". Foi dele o voto de número 247 pela admissibilidade da abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o qual dedicou ao pai que, quando prefeito do Rio, foi "atropelado pelo PT". Ironicamente, sua vitória se construiria com ajuda de petistas. Na tribuna, ele citou até o ex-presidente da legenda e condenado no mensalão, José Genoino. Sua oposição ferrenha ao partido pode, portanto, tornar a situação da presidenta afastada ainda mais complicada, caso ela consiga reverter no Senado os votos favoráveis a seu afastamento e retorne à Presidência em setembro.

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