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Campanha para a presidência da Câmara começa com recorde de candidatos

Base de Temer está rachada, ‘centrão’ tenta se desligar de Cunha e oposição quer surfar em dissenso

Candidatos a presidente da Câmara.
Candidatos a presidente da Câmara.Fotos Publicas

Militantes distribuindo panfletos no salão verde da Câmara dos Deputados. Assessores enviando santinhos virtuais por e-mail. E os próprios candidatos mandando mensagens em grupos de transmissão para telefones celulares. Começou frenética a campanha eleitoral para substituir o demissionário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do cargo de presidente de presidente da Casa legislativa. O pleito, previsto para ocorrer na próxima quarta-feira, deverá ser o mais disputado das últimas legislaturas. Até o início da noite desta segunda-feira, nove deputados haviam registrado suas candidaturas e outros quatro anunciaram que o farão. Nos bastidores, outra meia dúzia ainda avaliava candidatura.

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O número recorde de postulantes ao cargo terá dois efeitos: um racha na base de Michel Temer (PMDB), o presidente interino da República; e uma reduzidíssima margem para passar ao segundo turno. Pelos cálculos de analistas que acompanham o dia a dia da Câmara, é possível que, com menos de 80 votos um candidato passe para a segunda etapa. Ao todo, 512 deputados estão aptos a votar. Cunha não poderá fazê-lo, pois está afastado das funções parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O Palácio do Planalto disse que não iria interferir na disputa, mas se viu obrigado a fazê-lo, por meio do chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e do próprio presidente ao notar que os seus aliados estão se dispersando. Ao menos dez aliados de Temer querem ocupar a cadeira que era Cunha. No fim de semana o presidente em exercício se encontrou com representantes do PSDB e nesta segunda, Lima recebeu representantes do PSD e do PTB.

Notando a possibilidade de implodir a base do peemedebista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estimulou conversas com o DEM, que pretende lançar Rodrigo Maia. A legenda, de direita tradicional conservadora, sempre foi adversária dos petistas. Atualmente, caminha junto com o PSB, o PSDB e o PPS. Isso não garante, contudo, que terão um nome de consenso. Os diálogos entre petistas e democratas não avançaram, por enquanto, e a tendência é que esse apoio seja retirado.

O PT decidiu que não terá candidatos e parte de seus aliados, como o PCdoB, defende que não haja suporte a nenhum deputado que tenha apoiado o impeachment de Dilma Rousseff. “Devemos apoiar alguém que devolva a democracia à Câmara, que tenha sido contra o ‘golpe’ e que não seja da base de apoio ao governo Temer”, afirmou a líder da oposição na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Um nome que chegou a ser especulado como possível apoiado pela antiga base de Rousseff foi o do ex-ministro de Saúde do Governo anterior, Marcelo Castro (PMDB-PI). Neste caso, a dificuldade residiria no fato de ele ser da mesma legenda de Temer.

Renegando as origens

O incômodo do ensaio de apoio do PT ao DEM chegou também ao grupo político centrão, aquele que elegeu Cunha em 2015 e é de extrema importância para o Governo Temer. O favorito na disputa e um dos apoiados pelo Planalto, Rogério Rosso (PSD-DF), tratou de negar a vinculação a Cunha. “Só conheci o Eduardo Cunha nessa legislatura”, afirmou Rosso, um deputado que cumpre seu primeiro mandato completo e já foi governador tampão do Distrito Federal.

Movimentos como o de Rosso têm sido comuns nos últimos dias. Outro representante do mesmo centrão, Beto Mansur (PRB-SP), também fez a mesma negativa. Ambos dizem que nenhum deputado é capaz de influenciar nas decisões dos demais colegas.

Querendo se aproveitar da dificuldade dos governistas para fechar um nome de consenso, legendas de esquerda, como o PSOL, ou deputados que são franco-atiradores, aproveitam para lançar os seus nomes. No primeiro grupo está Luiza Erundina (PSOL-SP), uma deputada com cinco mandatos e que foi prefeita de São Paulo. No segundo, estão parlamentares Carlos Manato (SD-SP), Fausto Pinato (PP-SP), Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO) ou Fábio Ramalho (PMDB-MG).

Pelas regras anunciadas nesta segunda-feira, as candidaturas poderão ser registradas até as 12h de quarta-feira e retiradas até as 13h. A sessão de votação começa às 16h e cada candidato terá até dez minutos para fazer seu discurso pedindo votos. Em havendo segundo turno (caso ninguém atinja os 257 votos dos 512 deputados), será necessário fazer um intervalo de uma hora e os dois concorrentes terão mais dez minutos para discursar. A votação será eletrônica e a expectativa é que o resultado seja conhecido apenas na madrugada de quinta-feira, um dia antes do início do recesso parlamentar, que neste ano será extraoficial, já que o Congresso Nacional ainda não votou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), uma exigência constitucional.

As candidaturas registradas ou anunciadas

Registradas: Carlos Manato (SD-SP), Fausto Pinato (PP-SP), Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), Fábio Ramalho (PMDB-MG), Marcelo Castro (PMDB-PI), Heráclito Fortes (PSB-PI), Francisco Giacobo (PR-PR), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Luiza Erundina.

Anunciadas: Rogério Rosso (PSD-DF), Beto Mansur (PRB-SP), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Evair de Melo (PV-ES).

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