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Operação Lava Jato prende ‘homem bomba’ de Cunha e faz buscas na JBS

Grupo empresarial é suspeito de ter pago propina por meio de Lucio Bolonha Funaro, amigo do deputado e parceiro de negócios há mais de uma década

Lucio Bolonha Funaro, em 2010.
Lucio Bolonha Funaro, em 2010.

Os agentes da Polícia Federal iniciaram na manhã desta sexta-feira mais uma fase da Operação Lava Jato e prenderam o empresário e corretor Lucio Bolonha Funaro, amigo e parceiro de negócios do presidente da Câmara afastado Eduardo Cunha, e considerado mais um homem bomba para o deputado do PMDB. A PF também cumpriu um mandado de busca e apreensão na sede do grupo JBS — a maior empresa de alimentos da América Latina e dona da Friboi — assim como na casa de um de seus sócios, o empresário Joesley Batista.

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A operação desta sexta, apelidada Sépsis — que faz referência ao quadro de infecção generalizada, segundo a nota da PF — tem como base a delação premiada do ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, que assumiu o cargo em 2011 após ser indicado Cunha. Há suspeitas de que a JBS tenha pago propina por meio de Funaro, o empresário detido pela PF, para obter recursos do fundo de investimentos do FGTS, liberados através da influência de Cleto. Tanto é assim que a operação de busca desta sexta se concentrou na empresa Eldorado Brasil Celulose, que pertence ao grupo JBS e que se beneficiou de recursos do FGTS.

Cunha e Funaro trabalham em parceria há mais de uma década, após se aproximarem durante o Governo de Rosinha Garotinho no Estado do Rio. A relação de ambos tornou-se pública durante a CPI dos Correios de 2005, quando ficou evidente que Funaro pagava o aluguel mensal de um flat para o deputado naquela época. Desde então, a conexão entre os dois aparece em diversas transações.

Uma delas aconteceu no final de 2007, em um negócio fechado pela estatal Furnas, onde Cunha já possuía poder de influência. A estatal tinha preferência para comprar um lote de ações da Companhia Energética Serra da Carioca II, mas abriu mão do negócio. Oito meses depois, entretanto, pagou 73 milhões a mais que o previsto pelo lote. Detalhe: esta companhia pertence ao grupo Gallway, uma empresa sediada nas Ilhas Virgens que tinha Funaro como representante no Brasil.

Meses depois, em 2008, uma barragem de uma hidrelétrica em Rondônia rompeu e o prejuízo, estimado em 60 milhões de reais, terminou em uma briga judicial entre as empresas envolvidas no negócio: a já mencionada Gallway e o grupo Schahin. O procurador-geral da República Rodrigo Janot considera que Cunha manobrou para obrigar a Schahin a assumir o prejuízo.

Um dos mais recentes negócios entre Funaro e Cunha diz respeito à compra de dois veículos de luxo para a mulher de Cunha, Claudia Cruz, em 2012. Segundo as investigações, dois carros da empresa C3 Produções, que pertence a Claudia, foram pagos por empresas de Funaro. Finalmente, o doleiro também foi citado por Júlio Camargo em sua delação premiada, ao ser acusado de estar envolvido no pagamento de propina a Cunha para que a Petrobras mantivesse o contrato de fornecimento de navios-sonda com a empreiteira asiática Toyo Setal — que se associou à Samsung no negócio.

Os investigadores da Lava Jato acreditam que Funaro é o gestor financeiro do deputado afastado e esperam, dessa vez, que uma possível delação premiada, que supostamente já vem sendo negociada, vai derrubar de vez o parlamentar.

Se a delação se confirma, não será a primeira de Funaro. Ele já esteve perto da prisão na época do julgamento do Mensalão, que atingiu o PT em 2005. O doleiro participava do esquema que pagava mesada para políticos petistas e da base do Governo Lula. O amigo de Cunha era responsável por repassar cerca de três milhões de reais, por meio de uma corretora de sua propriedade (Guaranhuns Empreendimentos), ao líder do Partido Liberal (que mudou de nome para Partido da República), Valdemar da Costa Neto para cobrir as despesas de campanha do partido. Ao revelar e provar essas transações em delação, Funaro acabou sendo absolvido de pena de prisão. Seus crimes, no entanto, foram reconhecidos com tal: lavagem de dinheiro contra o sistema financeiro e a administração pública.

JBS, a "campeã nacional"

Já a JBS, que é suspeita de ter pago propina através de Funaro, foi uma das empresas brasileiras que mais cresceram na última década e hoje é o principal frigorífico da América Latina. Está dentro da estrutura de empresas da J&F Holding, cujo conselho consultivo foi presidido pelo atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, entre 2012 e 2016. O crescimento da empresa, no entanto, não ficou imune a diversos comentários e boatos que circularam — e ainda circulam — entre a população. Considerada uma das companhias "campeãs nacionais", cresceu com o apoio do BNDES e sempre se especulou sobre a quantidade de recursos que recebeu do banco público. Os sócios do grupo empresarial asseguraram em diversas ocasiões não possuir dívidas com a entidade financeira, mas sim que esta, através do BNDESPar, comprou participação acionária.

A proximidade do grupo com o mundo político também sempre foi questionada, já que é o maior financiador de campanhas eleitorais no Brasil. Além disso, um dos boatos mais famosos — e polêmicos — diz respeito à propriedade da companhia, mais especificamente da Friboi. Segundo os comentários que circulam, a empresa de processamento de carne supostamente tem Lulinha, um dos filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como sócio. Tanto o ex-mandatário como a empresa já negaram reiteradas vezes esse boato.

Em uma nota, a JBS assegurou que "não é alvo e não está relacionada com a operação da Polícia Federal" ocorrida na manhã desta sexta. Já a Eldorado Brasil, empresa do grupo, confirmou por meio de uma nota que os agentes cumpriram o mandado de busca e apreensão em sua sede de São Paulo. Disse ainda que "desconhece as razões e o objetivo desta ação" e que "prestou todas informações solicitadas".

O herdeiro da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino, também foi alvo de buscas, segundo a Folha de S. Paulo. A PF, que cumpre 19 mandados de busca e apreensão, não ofereceu mais detalhes sobre a operação, autorizada pelo ministro do STF Teori Zavaski, relator da Lava Jato.

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