O esperado ato de Eduardo Cunha: muitos holofotes, poucos aliados
Declaração ocorre na véspera do Supremo julgar abertura de segundo inquérito contra ele Ele reafirma que não pretende ser delator e repete que não cometeu irregularidades
O deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) criou um clima de suspense em torno das declarações que faria nesta terça-feira. Para obter o maior número de ouvintes para sua entrevista, fez circular por meio de aliados, desde a sexta-feira passada, que poderia anunciar que renunciaria à presidência da Câmara. Mais de 50 jornalistas, de veículos nacionais e estrangeiros, compareceram ao evento no hotel Nacional, em Brasília, ouviram um monólogo inicial de uma hora e vinte e cinco minutos, e a promessa de que nos próximos dias outros pronunciamentos ocorrerão. Mas a aparição acabou sendo anticlímax, com poucos de seus aliados como escudeiros, e sem afirmações bombásticas: ele repetiu que não renunciará ao cargo na Casa para tentar se livrar de seu processo de cassação que irá a plenário e descartou se tornar delator.
Foi todo um reflexo das poucas alternativas de um acuado Cunha, que tentou criar um fato político para amenizar o impacto do julgamento previsto para ocorrer nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal no qual ele pode se tornar réu em um segundo processo por corrupção e envolvimento nos desvios de recursos da Petrobras descobertos pela Operação Lava Jato.
Cunha disse que não fará delação premiada porque diz ser inocente _outros delatores e candidatos a delatores da Operação Lava Jato, como o empresário Marcelo Odebrecht, também bradaram o mesmo antes de buscar acordo com a Justiça. Reclamou que tem tido sua defesa cerceada nos diversos processos judiciais que responde; e que o ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner ofereceu a ele os votos dos três deputados petistas no Conselho de Ética em troca da não abertura do pedido pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Cunha relatou que se encontrou com Wagner três vezes e chamou de fantasiosa a versão dada pelo PT de que ele acatou a abertura de impeachment por conta de uma vingança contra a falta de apoio do partido dentro do Conselho. “Nos três encontros pessoais, ele [Wagner] quis negociar oferecendo os votos do PT no conselho e também a manutenção da minha mulher e minha filha no foro STF. Ou seja, quem estava propondo que o PT votasse comigo era o Governo. Além de soar como chantagem, o episódio envolvendo minha mulher e filha, eu não acreditava que eles tinham essa propalada interferência”, disse.
Em nota, o ex-ministro disse que, “mais uma vez Eduardo Cunha mente para se fazer de vítima”. Alegou que as reuniões, uma delas no Palácio do Jaburu e intermediada pelo então vice-presidente Michel Temer, aconteceram para tratar da relação entre Executivo e Legislativo. “Nunca houve oferecimento de apoio do PT a Cunha. Nem nunca haverá”, defendeu-se o petista.
Com a cassação aprovada pelo Conselho de Ética, Cunha agora depende da Comissão de Constituição e Justiça analisar os recursos que deverá apresentar nesta semana. Após isso, o plenário da Câmara o julga por volta do dia 20 de julho. A expectativa, inclusive de seus aliados políticos, é que ele seja cassado com pelo menos 380 votos, número bem acima dos 257 necessários para se tomar o mandato parlamentar de um deputado.
Transmissão pela Câmara
Na época em que tinha livre trânsito pelos corredores da Câmara, antes de ser afastado pelo STF, o peemedebista costumava falar com a imprensa quase diariamente e comentar praticamente todos os fatos políticos da semana, inclusive de se defender das várias acusações que só crescem contra ele. “Políticos com microfones sempre se empolgam um pouquinho”, disse Cunha pedindo desculpas pelo longo pronunciamento que estava prestes a fazer.
Do lado de fora do hotel, sete manifestantes protestavam contra Cunha e contra Michel Temer, o presidente da República em exercício. Usavam buzinas e gritavam "Fora Cunha, Fora Temer".
A longa entrevista foi acompanhada por funcionários da presidência da Casa e registrada pela TV Câmara, órgão que deveria registrar apenas os atos oficiais da Casa. A emissora ainda liberou a conexão para duas TVs a cabo pudessem fazer a geração da coletiva ao vivo. O fato gerou uma série de reclamações de deputados opositores de Cunha. “É mais um ato que deve ser investigado pelo Ministério Público. A TV Câmara não deve acompanhar atividades de um deputado afastado. Os servidores da TV Câmara foram lá a mando de alguém, é preciso saber de quem”, reclamou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Outra expectativa frustrada no ato de Cunha era de que parte dos apoiadores do peemedebista estariam ao lado dele para mostrar uma eventual força que ainda teria nos bastidores da Câmara. Apenas dois estiveram no hotel, ambos deputados pelo PMDB de Minas Gerais, Mauro Lopes (ex-ministro da Aviação Civil de Dilma Rousseff) e Saraiva Felipe (ex-ministro da Saúde de Luiz Inácio Lula da Silva).
Na entrevista, Cunha se negou a responder se reunia as mínimas condições éticas e morais para continuar presidindo a Casa, alegou que ainda recebe segurança de policiais legislativos porque desde o início do processo do impeachment tem recebido ameaças de morte e reafirmou que sua aceitação desse processo contra Rousseff resultou na série de processos contra ele no Legislativo no Ministério Público Federal.
“Não sou herói nem vilão do processo de impeachment, apenas cumpri com o meu papel de presidente [da Câmara]. Agora a ira do PT e de seus aliados pela perda das suas boquinhas e o inconformismo pela decisão da Câmara está fazendo com que eu pague um preço, que sabia que iria ocorrer. Mas tenho a consciência tranquila de que livrar o Brasil da Dilma e do PT será uma marca que, sem dúvida nenhuma, terei a honra de carregar”, concluiu o peemedebista.
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