À beira da queda, Cunha cogita renunciar à presidência da Câmara
Afastado pelo Supremo, deputado do PMDB ainda tenta articular apoio com aliados Estimativa é que mais de 380 parlamentares votem pela sua cassação em julho
“Na Câmara, os companheiros vão até a beira do precipício. Mas não são loucos de pular todos juntos.” A frase, dita por um aliado do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), demonstra que a carreira política do peemedebista está próxima de ser paralisada. Seus adversários contam os dias para a votação da cassação dele no plenário da Casa, o que deve ocorrer em cerca de um mês. Seus aliados o abandonam cada vez mais. Um deles, que lidera um dos 13 partidos do centrão, um grupo intimamente ligado a Cunha, estima que menos de 10% dos parlamentares votariam contra a cassação de Cunha. Outro disse ter certeza que será uma derrota de lavada. “Vai ser pior do que os 7 a 1 que o Brasil levou da Alemanha”.
Na última semana, o EL PAÍS entrevistou representantes de 15 dos 28 partidos com representação na Câmara e nenhum deles afirmou que Cunha se livraria da cassação. O que variou foi o número de votos que haveria para cassá-lo, entre 380 e 460 dos 512 deputados (ele próprio está afastado e por ser o representado não votaria). A quantidade é bem superior ao mínimo necessário para se tirar o mandato de um deputado – 257.
Depois de ter sua cassação aprovada pelo Conselho de Ética da Casa por quebra de decoro parlamentar ao mentir na CPI da Petrobras, Cunha ainda tentará dar sua última cartada nesta semana. Ele consultou os aliados que ainda não o abandonaram para saber se, caso renuncie à presidência da Casa (da qual também está afastado), teria os votos necessários para evitar a perda do mandato. As conversas se iniciaram na última sexta-feira e uma decisão dele deve ser tomada entre terça e quarta-feira. “Ele quer medir o tamanho de sua base. Se achar que não consegue salvar o mandato, fica como está. Se tiver um mínimo de chances de se salvar, ele renuncia e continua deputado”, alertou um correligionário de Cunha.
Atualmente, Cunha é réu pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro sob a acusação de receber 5 milhões de dólares em propinas. Há ainda uma outra denúncia sobre contas dele não declaradas no exterior (crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção), um pedido de prisão por tentativa de obstruir a Justiça e outros dois pedidos de abertura de investigação. A Justiça do Paraná também congelou seus bens como parte de ação civil pública por improbidade administrativa. Todos os casos tramitam no Supremo Tribunal Federal porque o acusado é deputado federal. Caso perca o mandato, seu caso pode ser enviado para a primeira instância e ficaria sob a responsabilidade do juiz Sergio Moro, famoso por condenar boa parte dos envolvidos na Operação Lava Jato.
As conversas com seus aliados também são no sentido de acalmar os ânimos de parte dos parlamentares que estão sendo investigados na mesma operação. Desde que ele começou a perder o poder com o seu afastamento do mandato pelo STF, surgem rumores de que Cunha poderia assinar um termo de delação premiada e passar a ser colaborador da Justiça em troca de redução de uma eventual pena para ele, para sua mulher (a jornalista Cláudia Cruz) e filha dele (a publicitária Daniele Dytz da Cunha Doctorovich), que também são investigadas no escândalo da Petrobras. Nas conversas com os aliados, o deputado tem dito que não pensa em fazer nenhum acordo de colaboração e repete, insistentemente, que isso não passa de ilação.
Com quatro mandatos de deputado federal, Cunha ganhou apoio para se eleger presidência da Câmara após ajudar alguns de seus colegas a obterem doações de campanha, segundo os próprios beneficiados contam nos bastidores do Legislativo. Até sua queda parcial, dizia-se que ele tinha uma bancada com 150 deputados. Na sua eleição para a presidência, em fevereiro do ano passado, teve 267 votos e foi eleito no primeiro turno, vencendo o candidato do Planalto, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o da então oposição, Julio Delgado (PSB-MG).
Parte desses que votaram nele, agora ajudam a empurrá-lo para o abismo político. Um de seus membros da tropa de choque que também pertencia ao Conselho de Ética disse à reportagem que Cunha é uma pedra no sapato do Governo interino de Michel Temer (PMDB) e, por essa razão, sua queda seria necessária para evitar que a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) reassuma o Planalto. “Infelizmente, precisamos tirar o Eduardo Cunha. Assim é nossa política. Espero que ele não guarde rancor”, afirmou esse parlamentar.
Outro sinal da perda de apoio ocorreu nesta segunda-feira. O presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), um outro ex-aliado de Cunha, retirou da Comissão e Constituição e Justiça uma consulta que poderia beneficiar o peemedebista na votação de seu pedido de cassação. Por meio dessa consulta, a tropa de choque queria sugerir uma punição mais branda para o acusado, o que, no atual cenário não deve ocorrer.
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