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Hollande e Putin fecham pacto de ação global contra o Estado Islâmico

Kerry defende maior troca de informações, e Hollande quer uma única coalizão militar

Imagem facilitada pelo Ministério de Defesa francês de um avião de combate.Foto: reuters_live | Vídeo: EFE
Carlos Yárnoz

A França e a Rússia, os dois países que nos últimos dias sofreram atentados terroristas, acertaram uma coordenação na luta contra o Estado Islâmico na Síria. Os presidentes dos dois países, François Hollande e Vladimir Putin, conversaram na terça-feira por telefone poucas horas depois que forças militares francesas e russas bombardearam quase ao mesmo tempo o reduto jihadista de Raqqa. Os dois pretendem ampliar essa coordenação a mais países da coalizão, sobretudo os Estados Unidos. Hollande, que também pediu o apoio dos outros países da União Europeia, recebeu na terça-feira no Palácio do Eliseu o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e na próxima semana viajará a Washington e Moscou.

A coordenação militar na frente síria entre a França e a Rússia, que acabará com suas intervenções autônomas no Oriente Médio, também se concretizou em uma mensagem transmitida na terça-feira pelo presidente Putin a comandantes de suas forças armadas. O mandatário russo informou que o porta-aviões Charles de Gaulle, nau capitania da frota francesa, chegará à região nos próximos dias e que os navios russos da área devem “estabelecer contato direto com os franceses e trabalhar com eles”.

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Hollande anunciou após a matança de sexta-feira em Paris a intensificação dos bombardeios aéreos franceses sobre a Síria e é isso que vem acontecendo nas últimas horas. Na noite de segunda para terça-feira, dez caças Mirage e Rafale lançaram um intenso bombardeio sobre Raqqa, o principal reduto jihadista na Síria. Poucas horas depois, a Rússia bombardeou a mesma região, uma coincidência que dificilmente poderia ter acontecido sem uma troca prévia de informação entre a coalizão internacional e Moscou, de acordo com a opinião de especialistas militares.

O Estado-Maior francês afirma que os aviões destruíram um centro de comando e outro de treinamento. A operação contou com 10 aviões que partiram de bases nos Emirados Árabes Unidos e na Jordânia. À 1h30 da madrugada (20h30 em Brasília), os caças lançaram 16 bombas guiadas por laser sobre os alvos. São bombardeios muito intensos, geralmente efetuados por dois ou três aviões. Na noite de sábado para domingo, os caças franceses executaram outro ataque de magnitude similar e também sobre Raqqa.

A França bombardeia a Síria desde setembro. Desde então e até o massacre de sexta-feira, seus caças só haviam realizado dois bombardeios. Após a matança, e em somente três dias, mais dois ocorreram e muito mais intensos. “A França está em guerra”, reafirmou Hollande diante dos parlamentares.

Mas a Rússia também bombardeou Raqqa na manhã de terça-feira, segundo informações do Le Monde citando fontes do Ministério da Defesa. Os russos lançaram mísseis de cruzeiro de seus barcos. A Rússia afirmou desde o começo de suas operações na Síria que ativou com os Estados Unidos os canais adequados para evitar interferências entre as ações militares de Moscou e da coalizão internacional. “Cada um com seus objetivos”, disse um porta-voz francês da Defesa. É até mesmo sintomático que tenha sido Paris, e não Moscou, a primeira a informar sobre o ataque russo.

Hollande viajará na próxima semana para Washington e Moscou para se reunir com Obama e Putin

O duplo bombardeio sobre Raqqa, portanto, seria a primeira operação supostamente coordenada com Moscou. Ou, pelo menos, teria contado com informações prévias das duas partes. Os bombardeios da França foram realizados após os atentados de Paris. E os de Moscou sobre Raqqa, só duas horas antes de a Rússia admitir finalmente que o avião russo derrubado há alguns dias sobre o Sinai sofreu um atentado. Da mesma forma que a França, a Rússia também anunciou que aumentará sua presença na Síria com no mínimo mais 25 aviões.

Dentro dos movimentos para se conseguir uma maior coordenação internacional militar contra o EI, Hollande recebeu na manhã de terça-feira o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. Após a conversa, de quase uma hora, Kerry declarou que Paris e Washington devem aumentar seus esforços e as trocas de informação para coordenar melhor suas ações na Síria. No domingo, Hollande agradeceu ao presidente norte-americano, Barack Obama, a informação de que as forças norte-americanas ajudaram as francesas a realizar o primeiro bombardeio após a matança de Paris.

O encontro com Kerry é o primeiro contato internacional para pôr em prática os planos contra os jihadistas apresentados por Hollande em âmbito internacional. Ele quer formar uma “coalizão única” militar na Síria –incluindo a Rússia– e deseja que o Conselho de Segurança da ONU aprove uma resolução contra os jihadistas. O chefe de Estado francês visitará Washington e Moscou na próxima semana para reunir-se com os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin nos dias 24 e 26 respectivamente, segundo anunciou nesta terça-feira o primeiro ministro Manuel Valls.

Mesmo assim, Hollande encarregou seu Ministro da Defesa, Jean Yves-Le Drian, de realizar aos seus homólogos da União Europeia uma solicitação de ajuda à França como país “atacado”, um passo previsto no Tratado da UE. Le Drian escreveu na mesma terça-feira o pedido aos países europeus. Pede uma “participação militar ampliada” dos Estados membros da UE porque “a França não pode continuar sozinha nos teatros de operações”.

As respostas foram positivas. Pela primeira vez na história, e como está previsto no Tratado de Lisboa, os 28 decidiram por unanimidade socorrer a França e ativar a correspondente cláusula de ajuda mútua do Tratado no caso de ataque a um Estado membro. Agora, cada um deverá definir como o fará. “É um ato político de enorme envergadura”, disse o ministro Le Drian em entrevista coletiva em Bruxelas.

Forças francesas – cerca de 5.000 militares – estão mobilizadas no Sahel e no Oriente Médio. O porta-aviões Charles de Gaulle, a nau capitania da frota, se unirá a elas com os barcos do grupo aeronaval. A França triplicará assim sua capacidade de bombardear a Síria e o Iraque, e dessa missão participam agora 12 aviões com sede na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos (EAU).

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