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Turquia frustra atentado planejado paralelamente ao de Paris

Governo turco diz que advertiu a França sobre a periculosidade do jihadista do Bataclan

Andrés Mourenza
Uma mulher turca segura um cravo durante uma homenagem às vítimas do atentado de Paris na frente do consulado da França em Istambul.
Uma mulher turca segura um cravo durante uma homenagem às vítimas do atentado de Paris na frente do consulado da França em Istambul.YASIN AKGUL (AFP)

Na semana passada, a Turquia frustrou um ataque do Estado Islâmico supostamente preparado paralelamente ao que na sexta-feira atingiu a capital francesa, disse ao EL PAÍS nesta segunda-feira um representante do governo de Ancara que pediu anonimato. Essa fonte não quis dar detalhes sobre os possíveis objetivos dos jihadistas, disse apenas que a cidade escolhida era Istambul –visitada por mais de 10 milhões de turistas por ano–, embora membros das forças de segurança turcas tenham explicado que seria um ataque “semelhante ao de Paris” e na mesma data.

Na quinta-feira, membros da unidade antiterrorista da polícia turca realizaram uma operação num edifício na cidade de Silivri, nos arredores de Istambul, contra uma célula de supostos membros do Estado Islâmico (EI), os quais, de acordo com a rede de televisão CNN-Türk, estavam sendo seguidos desde que entraram no país, procedentes da Síria. Entre os presos, diz a imprensa turca citando a polícia, estava um homem que foi identificado como Aine Lesley Davis, considerado o braço direito do tristemente famoso carrasco Mohammed Emwazi –mais conhecido como John, o jihadista”–, que no mesmo dia derrubou um drone dos EUA na Síria. Davis e Emwazi também foram carcereiros de vários reféns estrangeiros por parte do EI, entre eles os jornalistas espanhóis Marc Marginedas, Javier Espinosa e Ricard García Vilanova.

Junto com Davis, foram presos outros jihadistas cuja nacionalidade não foi revelada. “Davis é um personagem com responsabilidades-chave dentro do Estado Islâmico, e não estava sozinho. Estava com um grupo. Agora estamos investigando se estavam planejando um ataque em Istambul”, disse um oficial turco citado pela agência Reuters. As autoridades da União Europeia foram informadas sobre o suposto plano de atentado na capital turca e uma fonte da segurança europeia consultada por este jornal deu “cem por cento de credibilidade” à ameaça. O representante do Governo entrevistado pelo EL PAÍS disse que o alerta antiterrorista permanece em nível “elevado” desde julho, quando um suicida ligado ao EI matou 33 pessoas na cidade de Suruç e o grupo armado curdo PKK anunciou a ruptura de sua trégua. O primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu prometeu na segunda-feira que o país “estará seguro” desde que sua formação, o islamista Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), “se mantiver de pé”.

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Advertência à França

Por outro lado, um representante do Governo turco disse à agência de notícias francesa AFP que Ancara havia alertado em duas ocasiões –em dezembro de 2014 e em junho 2015– sobre a periculosidade de Omar Ismail Mostefai, que comandou o massacre da casa de espetáculos Bataclan. “No entanto, não recebemos resposta da França sobre esse assunto”, disse a fonte. Acredita-se que Mostefai tenha chegado à Turquia em 2013, de onde viajou para a Síria, embora não existam registros posteriores de que utilizou o território turco para retornar à França.

Acusadas pelos parceiros ocidentais de fazer vista gorda para o fluxo de jihadistas estrangeiros com destino à Síria, as autoridades turcas reforçaram a vigilância no início deste ano, depois de que Hayat Boumeddiene, a namorada de um dos membros do EI que participaram dos ataques em Paris em janeiro, atravessou a Turquia para procurar refúgio no “Califado”. Desde janeiro, segundo dados oficiais, 4.700 jihadistas estrangeiros suspeitos foram interrogados nos Centros de Análise de Risco montados nos aeroportos e fronteiras turcas, e 1.300 deles foram impedidos de entrar no país. Além disso, cerca de 500 estrangeiros foram deportados da Turquia por suspeitas de terem ligações com algum grupo terrorista. Dentro do país, até 27 de outubro, foram feitas cerca de mil prisões, depois das quais 300 indivíduos foram acusados por suposto pertencimento ao EI. A polícia apreendeu nos últimos meses 30 coletes suicidas prontos para uso, 300 quilos de TNT e 2.700 quilos de produtos químicos para fabricar explosivos, além de uma grande quantidade de armas.

Nas últimas semanas, e à medida que se aproximava a reunião do G-20, que terminou na segunda-feira em Antalya, foram intensificadas as operações contra as células do EI no interior da Turquia, com numerosas prisões. Apenas neste fim de semana, a polícia turca matou quatro supostos militantes do EI em um tiroteio perto da fronteira síria, e na cidade de Gaziantep um jihadista relacionado ao atentado de Ankara, que fez 102 mortos no dia 10 de outubro, se imolou quando agentes da polícia iriam prendê-lo. No apartamento em que vivia, além de grande quantidade de armas, foram encontradas três crianças, que foram colocadas sob a proteção dos serviços sociais, e duas mulheres, que foram presas.

Enquanto isso, nas redes sociais há discussões sobre as imagens captadas por um cidadão turco em Gaziantep, nas quais são vistos vários carros com bandeiras do EI supostamente comemorando o atentado de Paris.

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