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Os atentados irrompem no tenso debate sobre refugiados

Depois dos ataques em Paris, países do Leste se desvinculam da acolhida pactuada da UE

Lucía Abellán
Espera de refugiados para entrar na Sérvia.
Espera de refugiados para entrar na Sérvia.GEORGI LICOVSKI (EFE)

Os atentados terroristas em Paris ameaçam complicar o desafio político mais sensível que a Europa tem em mãos: a acolhida de refugiados. A mera suspeita de que um passaporte sírio encontrado em uma das cenas do crime possa estar relacionado com os terroristas de Paris serviu para espalhar o medo. "Não deveríamos misturar categorias diferentes. O responsável pelos ataques de Paris é um criminoso, não um refugiado nem um solicitante de asilo", alertou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

A polícia francesa encontrou um passaporte sírio perto do corpo de um dos terroristas suicidas. A Grécia confirmou que uma pessoa com esse documento entrou no país pela ilha de Leros em 3 de outubro, e a Sérvia afirma que se registrou em suas fronteiras como solicitante de asilo quatro dias depois. Fontes do serviço de inteligência dos EUA disseram à rede CBS que o passaporte é falso, um problema comum dos documentos de identidade sírios, que são fáceis de falsificar. Embora tudo nessa conexão seja confuso, os dirigentes europeus que já eram reticentes em relação à acolhida de sírios aproveitaram para semear dúvidas sobre o processo. Essas manifestações golpeiam com força um conjunto de solicitantes de asilo que não obtém avanços, em grande parte por falta de compromisso político. Foi anunciada neste domingo a convocação, para sexta-feira em Bruxelas, de uma reunião extraordinária de ministros do Interior para discutir o terrorismo.

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A manifestação mais inquietante vem da Polônia, à qual cabe alojar um dos maiores números de asilados da cota europeia pactuada em setembro (6.182 na primeira leva dos já designados). O novo ministro polonês para a Europa, Konrad Szymanski, afirmou no sábado que seu Governo não podia se comprometer a participar do projeto: "Diante dos trágicos acontecimentos de Paris, não vemos possibilidades políticas de colocá-lo em prática". O novo Executivo polonês, de ideologia eurocética e muito conservadora, endureceu a posição – já relutante – do anterior, de direita moderada, que governou até o fim de outubro.

Reticências

Outros vizinhos do Leste acompanharam o Governo polonês em suas reticências. O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, votou contra a distribuição de asilados e ameaçou até mesmo recorrer ao Tribunal Europeu de Justiça. A descoberta do suposto passaporte sírio em uma das cenas do crime lhe dá agora munição para rejeitar essa distribuição. "Temos dito que há enormes riscos de segurança ligados à migração. Espero que agora algumas pessoas abram os olhos", declarou ele no sábado. "Dezenas de milhares de pessoas cruzam nossas fronteiras, são detidas, enviadas de volta... certamente há entre elas gente frustrada ou com raiva, e isso é um risco em potencial", afirmou, por sua vez, o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov.

Apesar de todas as incertezas, o presidente da Comissão Europeia insistiu neste domingo em que a redistribuição de refugiados dos países mais pressionados para outros com menor número de asilados vai continuar. "Vejo as dificuldades, mas não a necessidade de mudar nosso enfoque geral", disse Juncker no encontro dos líderes do G-20 em Antalya, na Turquia. O dirigente europeu conclamou os líderes dos Estados a "não ceder ante reações primárias".

A Comissão Europeia sabe que o risco de fracasso desse projeto é enorme. Mesmo antes dos atentados de Paris, só tinham sido realizadas 147 transferências de refugiados entre países desde a aprovação da medida, em setembro. Para cumprir o compromisso de distribuir 160.000 em dois anos, deveriam ser transferidos quase 6.700 por mês. Além disso, as dificuldades enfrentadas pela Alemanha, o país ao qual foi destinada a maior cota de acolhidas, e o alarme emitido pela Suécia – que pediu para deixar de ser um dos que mais acolhem e, em vez disso, passar a enviar aos parceiros comunitários alguns dos milhares dos solicitantes de asilo que estão em território sueco – põem em risco esse projeto pioneiro.

As dúvidas sobre a possível entrada de terroristas na Europa camuflados entre os solicitantes de asilo foram levantadas em diferentes círculos políticos europeus. O ministro espanhol do Interior, Jorge Fernández Díaz, foi um dos que as expressaram publicamente. Entretanto, os peritos da Frontex – a agência europeia de supervisão de fronteiras – e outras fontes da União Europeia afirmaram não ter indícios que sustentem essa tese.

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