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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

A luta das mulheres por direitos básicos

A agressiva cidade de São Paulo é ainda mais hostil com as mulheres. Direito ao transporte público vem junto com o assédio

Mulheres no ato em São Paulo.
Mulheres no ato em São Paulo.Roberto Parizotti/secomCUT

As centenas de milhares de mulheres que saem às ruas de várias cidades do país contra as políticas retrógradas de Eduardo Cunha não só participam de um debate importante que transcende a questão de gênero - oposição ao Congresso mais conservador que já vimos desde a redemocratização - como estão ocupando o espaço político com sua presença, voz e estratégias de luta e resistência. A resistência ao PL 5069 vem às ruas junto a uma onda de mobilização virtual e real de mulheres contra o assédio na ruas, na infância, no transporte público. A luta contra uma política extremamente invasiva de nossos corpos, saúde física e psicológica é mais uma das lutas que nós mulheres travamos cotidianamente, disputando o espaço público e, surpreendentemente por se tratar do ano 2015, o direito a nossos próprios corpos.

Em nossa luta pelo transporte livre e gerido de fato pelas pessoas, nós observamos todos os dias utilizando transporte público de forma humilhante, nos ônibus, trens e metrôs. Somos submetidas a condições degradantes para ir e voltar do trabalho, da escola ou mesmo para circular pela cidade. As mulheres trabalhadoras, em sua maioria negras e moradoras da periferia, sofrem ainda mais: além dos deslocamentos demorados e sufocantes, são constantemente assediadas por homens que se aproveitam da precariedade do transporte público para impor sua lógica machista de tratar mulheres como coisa, como coisa pública. A imensa maioria das mulheres são encoxadas, assediadas e submetidas a inúmeras outras formas de violência diariamente. A superlotação dos trens e ônibus, por sua vez, também cumpre outro papel perverso: é resultado de um sistema de transporte mercadológico, que visa o lucro das empresas, e não o bem estar e o interesse das usuárias e usuários. É essa lógica que mantém seguranças vigiando as catracas, mas que ignoram um estupro dentro das dependências do metrô. Ou que espancam uma garota menor de idade por não pagar a passagem. A cidade que já é agressiva com os de baixo é ainda mais hostil às mulheres.

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Apesar de nós mulheres representarmos em São Paulo mais da metade do total de usuárias e usuários de transporte público, sabemos que ainda hoje somos impedidas de participar da construção e apropriação da cidade, através da restrição de nossa circulação: lugar de mulher não é na rua. Assim, mesmo quando ocupamos espaço no mercado de trabalho, somos duplamente humilhadas no transporte público: através da tarifa e das condições da viagem. Além de ainda recebermos menos que homens, mulheres solteiras que criam os filhos são quase dez vezes mais numerosas que pais que fazem o mesmo. Ou seja, quando a tarifa sobe, são as mulheres que sentem mais nos salários. Além disso, o preço que pagamos corresponde a uma viagem sujeita a assédios de toda a natureza: 48% das usuárias de transporte público já foram vítimas de algum tipo de abuso. Esse sistema reforça e representa a construção cotidiana de nossa sociedade capitalista patriarcal que violenta as mulheres diariamente. A mercantilização do transporte obriga também o corte de gastos e, apesar de lutarmos por uma cidade que respeite a mulher, e não uma que apenas coíba a violência, a possível demissão de cobradoras e cobradores que vem sendo apresentada pela SPTrans pode também colaborar com nossa insegurança, já que elimina uma figura que muitas vezes ajuda a evitar assédios.

A mobilização feminina que acontece nas últimas semanas no entanto demonstra que as mulheres estão dispostas a brigar por seu espaço na cidade e seus corpos. Nos locomover pela cidade com liberdade é parte da mesma autonomia e liberdade que desejamos experimentar em relação às escolhas com nossos corpos. Somam-se as mulheres que se mobilizam em outras lutas que não necessariamente "feministas" mas onde nosso sofrimento bem como nossa força se mostra: as secundaristas que se organizam em escolas públicas contra seu fechamento, as mulheres negras que irão marchar em novembro pelo direito à vida da população negra, as mulheres de Mariana-MG, que lutam por sua terra e manutenção da vida. Somos muitas, estamos juntas, e vamos fazer a revolução.

MPL Mulheres São Paulo faz parte do Movimento Passe Livre, uma frente que trabalha pela tarifa zero para o transporte público

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