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Chile expulsa 138 imigrantes detidos na fronteira com a Bolívia

Governo de Sebastián Piñera busca enviar sinal de tolerância zero às entradas irregulares, em medida que contrasta com a da Colômbia, que anunciou garantia a venezuelanos

Imigrantes venezuelanos e colombianos são deportados com equipamentos de proteção contra a covid-19, no aeroporto de Iquique, Chile, nesta quarta-feira.
Imigrantes venezuelanos e colombianos são deportados com equipamentos de proteção contra a covid-19, no aeroporto de Iquique, Chile, nesta quarta-feira.Alex Diaz (AP)
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O Chile expulsou um total de 138 migrantes nesta quarta-feira em meio à tensão imigratória que se registra no norte do país. Vestidos com equipamentos de proteção contra a covid-19, 86 cidadãos venezuelanos e colombianos foram escoltados até o avião por policiais, enquanto outras 52 pessoas eram deportadas em ônibus para o Peru e a Bolívia no âmbito do chamado Plano Colchane, anunciado na terça-feira e com o qual o Governo de centro-direita de Sebastián Piñera procura enviar um sinal de tolerância zero para a imigração irregular.

Embora venha de longe, a crise se intensificou no dia 1º de fevereiro, após a entrada irregular de milhares de imigrantes na comuna de Colchane, pequena cidade na fronteira com a Bolívia, com apenas 1.700 habitantes, em sua maioria descendentes de aimarás, localizada a quase 2.000 quilômetros de Santiago, e cujo acesso a serviços básicos como eletricidade, água potável e saneamento é inexistente ou disponível por poucas horas. Além disso, a crise se agravou com a morte de duas pessoas —de origem venezuelana e colombiana—, provavelmente causada pelas baixas temperaturas nesta área, situada a 3.600 metros acima do nível do mar e que nesta época do ano registra altas temperaturas durante o dia e termômetros abaixo de zero à noite.

Em declarações ao EL PAÍS, o prefeito local, Javier García Choque, indicou que a cidade vive “um momento de colapso, com 1.800 imigrantes”, o que ultrapassa a população total da região e causou a saturação dos serviços básicos de um município que já carece de infraestrutura (além de água e luz, farmácias e supermercados) para “poder responder às necessidades das pessoas, que têm tido seus direitos humanos violados”, acrescentou.

“Este é um marco, porque é a primeira vez que uma expulsão administrativa em massa é realizada em um único dia. São pessoas que não cometeram crimes graves, que não têm família no Chile, que não são pais nem têm filhos aqui, e o que deve ser feito, como diz a lei, é que sejam expulsos. O que queremos com isto é enviar um sinal bem poderoso de que temos que ordenar o fluxo migratório por nossas fronteiras”, declarou o ministro do Interior, Rodrigo Delgado, que explicou que do total de expulsos apenas 11 tinham processos judiciais pendentes.

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Delgado chegou ao local acompanhado do ministro da Defesa, Baldo Prokurica, e do chanceler Andrés Allamand, que anunciou que “será realizada uma campanha muito intensa de divulgação ao exterior” para informar sobre as medidas que o Governo chileno está adotando. “Em particular, para quem entrar de forma irregular, será a expulsão”, frisou.

Em paralelo, centenas de imigrantes ainda estão estancados em Colchane sem alternativas. É o caso de Jesús Eduardo García, que, segundo fontes municipais, iniciou sua jornada migratória há três anos e meio em Mérida, no noroeste da Venezuela, para se reunir com parentes que residem no Chile. “Como estrangeiros vemos que o Chile é um país de primeiro mundo, desenvolvido, que oferece mais oportunidades quando você consegue se legalizar”, disse à assessoria de imprensa da prefeitura.

Sua jornada, diz ele, foi complexa. Chegou primeiro ao Peru, onde passou quase três anos, e em meio à falta de oportunidades em razão da pandemia do coronavírus, cruzou para a Bolívia, onde contratou um tronquero, como são chamados os caminhões que entram no Chile com imigrantes por meio de passagens não oficiais. Mas quando chegamos a Colchane tudo piorou: “Tem sido um pouco difícil, a comida, o clima, a hospedagem, porque não tínhamos nenhuma proteção.”

Em meio à chegada maciça de imigrantes, o prefeito García Choque pediu ao Governo que recorresse à diplomacia para encontrar uma solução para o problema. Choque qualificou o plano de La Moneda como “uma pirotecnia de comunicação que visa apenas proporcionar uma aparente tranquilidade à população chilena” perante uma crise “cada vez mais descontrolada”.

Enquanto isso, a presidente da Associação dos Venezuelanos no Chile, Patricia Rojas, afirmou que as autoridades não informaram os imigrantes expulsos sobre seus direitos. “Não lhes disseram que poderiam apelar aos tribunais do país para pedir um recurso de proteção ou de amparo. Estamos muito impressionados com a rapidez com que esses atos administrativos foram realizados”, disse ela em entrevista à TVN.

O Governo Piñera se situa no lado oposto da política adotada pela Colômbia, que busca regularizar quase um milhão de imigrantes venezuelanos ilegais que já estão em seu território por meio de um estatuto de proteção temporária válido por 10 anos.

Macarena Rodríguez, presidente do conselho do Serviço Jesuíta para imigrantes, entidade que apoia e assessora as pessoas que chegam ao Chile em busca de melhores oportunidades, disse à Rádio Concierto que “é muito impressionante que esta seja a resposta estatal do Chile, enquanto outros países, como a Colômbia —que recebeu uma quantidade ainda maior de pessoas e que tem problemas internos muito importantes—, foram capazes de olhar para isto com uma lógica de proteção”.

Rodríguez destacou que são pessoas que “não saem de seu país por vontade própria, mas porque as condições são muito duras, complexas, e que até tomam decisões como atravessar o altiplano, o deserto, cruzar todo o continente a pé, arriscando a vida, porque para elas a possibilidade de sobrevivência é maior do que no seu país de origem”.

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