Guaidó lança pacto unitário e reafirma ser contra caminho eleitoral de Capriles para enfrentar Maduro
A maioria das forças de oposição concorda em não participar do pleito, chamado de “fraude”, e em convocar uma consulta popular na Venezuela
Juan Guaidó aproveitou o apoio majoritário que ainda mantém entre as forças da oposição na Venezuela e anunciou um pacto para reafirmar sua autoridade e legitimidade diante de outro líder oposicionista, o duas vezes ex-candidato à presidência Henrique Capriles, que defendeu a participação nas eleições parlamentares de 6 de dezembro —as quais, segundo o presidente Nicolás Maduro, serão realizadas nessa data, “seja como for”.
Guaidó busca realinhar os objetivos da presidência interina —uma instância sem poder real internamente, embora reconhecida por cerca de 60 países— e tem se empenhado em promover uma reinterpretação de suas metas, que permita traçar um horizonte para o incerto futuro político.
O setor oposicionista que ele lidera tem tido dificuldades para propor um caminho político concreto, diferente da via eleitoral de Capriles e que permita a saída de Nicolás Maduro do poder em tempos de pandemia de coronavírus. Os organizadores do evento de lançamento do Pacto Unitário afirmam que este é resultado de um amplo processo de consultas com os atores da sociedade civil independente para relançar a estratégia de oposição. O vídeo promocional destacou especialmente o apoio da comunidade internacional e de alguns foros multilaterais a Guaidó.
Transmitido apenas pelas redes sociais e por canais do YouTube, o lançamento do pacto, anunciado em um discurso virtual ao lado dos líderes de 37 partidos políticos presentes —incluindo os maiores e também o Primeiro Justiça, de Capriles—, atende ao apelo de Guaidó, reiterando a decisão de “não participar da fraude do regime e convocar uma consulta popular na Venezuela”.
A equipe de Guaidó publicou uma declaração estabelecendo o compromisso formal de lutar “pela liberdade, democracia e progresso” do país, “realizar eleições presidenciais e parlamentares livres”, “recuperar plenamente a soberania nacional” e “assumir como prioridade a reversão da crise humanitária e o saneamento da economia nacional”.
A exposição de motivos do Pacto Unitário conclama a oposição a “rejeitar a fraude da ditadura, realizar uma campanha para organizar eleições livres, construir uma nova plataforma de unidade e estabelecer as bases para um Governo de emergência nacional”. Propõe ainda “aprofundar a pressão internacional sobre a ditadura e submeter a uma consulta popular decisões fundamentais para alcançar nossa liberdade”.
Guaidó fez um esforço especial em seu discurso para destacar a ideia de unidade nacional entre as forças de oposição diante do que ele considera atitudes aventureiras. Essa foi, de certa forma, sua resposta formal ao anúncio de Capriles em defesa da participação nas eleições, frente ao qual Guaidó, assim como outros líderes opositores, mantiveram discrição. “Chegamos ratificando não apenas a necessidade de enfrentar uma ditadura devido à crise, mas também entendendo que todos somos necessários neste processo”, afirmou.
Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular e uma das vozes fortes da oposição, assinalou que a unidade é o caminho “contra a ditadura”. Ele escreveu segunda-feira no Twitter que o pacto, firmado por 37 partidos políticos e organizações sociais, propõe um caminho unitário para conseguir eleições livres, justas e verificáveis. “Não vamos convalidar nenhum tipo de fraude”, afirmou. No domingo, também no Twitter, ele havia alertado que só se a oposição conseguir se unir é que poderá avançar “para conquistar a liberdade”.
O apelo de Capriles à participação nas eleições parlamentares provocou reações e eventos em direções opostas no debate político venezuelano. Alguns ativistas e personalidades de oposição elogiaram esse passo, assinalando que estaria “movendo o quadro político” diante de um futuro imediato que consideram sem opções.
Mas grande parte dos políticos, jornalistas e intelectuais se sentiu traída e criticou duramente, nas redes sociais, tanto Capriles como um importante líder opositor que decidiu acompanhá-lo, Stalin González. Esses críticos lamentaram, particularmente, a existência de dois discursos oposicionistas excludentes. Por enquanto, apesar do desafio de Capriles, parece que Guaidó mantém do seu lado a maioria dos políticos e dos partidos da oposição venezuelana em relação ao compromisso unitário e à aliança com a comunidade internacional. No entanto, falta ver o desempenho de Capriles e a consistência das iniciativas propostas por Guaidó para saber se não será desencadeado um processo de deserções em favor do primeiro com a aproximação do dia das eleições, como alguns temem e outros esperam.
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