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Coronavírus desencadeia tempestade perfeita na Venezuela

Emergência aprofunda a precariedade de um país atingido por uma crise estrutural. A Human Rights Watch pede “uma resposta humanitária em larga escala liderada pela ONU”

Francesco Manetto
Motoristas fazem fila para abastecer em Caracas.
Motoristas fazem fila para abastecer em Caracas.Matias Delacroix (AP)
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A América Latina diante do Grande Apagão

Na Venezuela desencadeou-se a tempestade perfeita. Com a emergência sanitária do coronavírus, à instabilidade política e à precariedade social acrescentou-se um coquetel de escassez de gasolina, colapso dos serviços, cortes de energia e de água que multiplicam as graves disfunções do país. Desde que Nicolás Maduro sucedeu o ex-presidente Hugo Chávez em 2013, mais de cinco milhões de venezuelanos migraram em busca de oportunidades. Embora nos últimos meses dezenas de milhares de pessoas tenham retornado devido à falta de recursos diante das restrições e quarentenas decretadas por diferentes Governos, o fluxo migratório transbordou para a região e ainda hoje é um de seus principais desafios.

Os dados oficiais da crise da covid-19 colocam a Venezuela entre os países do mundo com menos casos, com pouco mais de 1.000 contágios e uma dezena de mortes, mas por trás desses números existe um sistema sanitário sem capacidade de detecção e a habitual falta de transparência do regime chavista. Diferentes associações, profissionais vinculados à oposição e a Academia de Ciências Físicas, Naturais e Matemáticas questionaram essas informações. Esta última instituição advertiu sobre o atraso do desenvolvimento da doença no país e inclusive os números divulgados pelo Governo refletem um aumento de 40% dos casos na semana passada.

Enquanto isso, milhões de venezuelanos têm de enfrentar uma crise de combustível sem precedentes. A espoliação da empresa estatal de petróleo PDVSA, a deterioração das refinarias e a má gestão levaram Maduro a pedir ajuda ao Irã, um de seus principais aliados internacionais. Teerã enviou cinco navios com 1,5 milhão de litros de combustível. Mas a isso se juntou nos últimos dias a interrupção do abastecimento de água, que se tornou um drama, especialmente nos hospitais. A catástrofe econômica e a hiperinflação completam o panorama de uma crise que é estrutural há anos.

“A crise humanitária na Venezuela e o colapso do sistema de saúde geraram uma situação perigosa que favorece a rápida disseminação do vírus na população em geral, condições de trabalho inseguras para o pessoal de saúde e uma alta taxa de mortalidade entre os pacientes que necessitam de tratamento hospitalar”, diz a doutora Kathleen Page, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins. Segundo sua análise, citada em um relatório da Human Rights Watch (HRW) publicado nesta terça-feira, essas premissas podem “fazer com que mais pessoas tentem sair do país”, saturando assim os sistemas sanitários dos países vizinhos. A ONG pede que os Estados Unidos, a União Europeia e os países membros do Grupo de Lima pressionem as autoridades venezuelanas para que “permitam a entrada na Venezuela de uma resposta humanitária em grande escala liderada pela ONU”.

“Para contribuir com uma resposta eficaz à covid-19 na Venezuela, os Governos preocupados com a situação venezuelana deveriam as financiar as iniciativas humanitárias da ONU para garantir que a ajuda seja distribuída de maneira apolítica”. É a proposta de José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW. “Mas para que a ajuda chegue efetivamente ao povo venezuelano, a responsabilidade máxima recai sobre as autoridades que respondem a Maduro; para tanto é preciso pressioná-las para que garantam o pleno acesso ao Programa Mundial de Alimentos e permitam que os atores humanitários e médicos trabalhem sem medo de represálias”, acrescenta.

A discussão em torno da ajuda humanitária é motivo de conflito entre o Governo e a oposição há anos. Desde a época em que o principal adversário de Maduro era Henrique Capriles, as forças críticas ao chavismo pediram a abertura de um corredor através da fronteira para permitir a entrada de remédios e alimentos. No ano passado, um mês depois que Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino, esse instrumento foi pervertido com a intenção de introduzir caminhões com material sanitário e suplementos nutricionais pela cidade colombiana de Cúcuta. A operação, promovida pelo Governo de Iván Duque e pela Administração de Donald Trump, derivou em uma batalha campal e fracassou. Desde então a situação se precipitou.

Apesar de a emergência vir de longe e estar relacionada essencialmente à gestão do regime, as sanções internacionais, especialmente as impostas por Washington, dificultam agora a cooperação e repercutem na população. A HRW pede que os Estados Unidos determinem regras de jogo muito claras. Por exemplo, “estabelecer claramente que ninguém será penalizado por financiar ou fornecer assistência humanitária à Venezuela neste período de crise de saúde pública e reiterar que a assistência humanitária está isenta de sanções”. Além disso, “estabelecer procedimentos para que as empresas e organizações possam enviar assistência humanitária à Venezuela sem controles excessivamente burocráticos nem atrasos desnecessários” e, por último, “apoiar um robusto esforço humanitário, liderado pela ONU, na Venezuela”.

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