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Capriles afronta Guaidó e defende participação da oposição nas eleições parlamentares da Venezuela

Ex-candidato presidencial diz que estratégia de Guaidó se esgotou e comemora iniciativa do Governo Maduro de convidar a ONU e a UE para serem observadores das eleições

Florantonia Singer
Henrique Capriles, durante um ato em Caracas, em agosto de 2019.
Henrique Capriles, durante um ato em Caracas, em agosto de 2019.Rafael Briceño Sierralta (NurPhoto via Getty Images)

Henrique Capriles Radonski está disposto a participar das eleições parlamentares da Venezuela previstas para 6 de dezembro. Após vários dias fazendo sérias acusações à oposição reunida em torno de Juan Guaidó, que propõe a abstenção, Capriles, que foi duas vezes candidato à presidência contra o chavismo, defendeu a participar no processo eleitoral e convidou os cidadãos a se mobilizarem nesse sentido. Numa live pelas redes sociais, voltou a apontar falhas na liderança de Guaidó, reconhecido como presidente interino por meia centena de países. “A oposição se tornou muito previsível para Maduro”, afirmou. Ele diz que a proposta de participação no pleito legislativo atende a uma lógica realista. “Esgotou-se o que havia [na estratégia de Guaidó], a agenda proposta não deu resultado. É preciso abrir caminho”, salientou Capriles.

O líder fez duras críticas ao “Governo da Internet”, como descreve a interinidade de Guaidó, da qual participam colegas seus do partido Primeiro Justiça, como Julio Borges e Miguel Pizarro, ambos no exílio. Também questionou a falta de transparência e explicações sobre duas das operações mais controvertidas da oposição no último ano: a frustrada insurreição militar de 30 de abril de 2019 e a recente incursão com mercenários da operação Gedeón. “Há uma desconexão maior entre a classe política e o povo na rua. As pessoas não falam mal só do regime, falam mal também de nós, da oposição”, disse.

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31 August 2020, Venezuela, Caracas: Roberto Marrero (C), Office manager of the opposition leader and self-proclaimed interim president Juan Guaido, talks to journalists after his release from the prison of the secret service (Helicoide). Venezuelan President Maduro has pardoned 110 politicians or activists, including leading members of the opposition three months before the controversial parliamentary elections in Venezuela. Photo: Rafael Hernandez/dpa
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31/08/2020
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Foto de archivo del 14 de enero de 2020 de Maduro dando un discurso en la Asamblea Constituyente junto a una imagen de Chávez.
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Capriles vê uma fresta a ser aproveitada nesta eleição legislativa. “Este não é um regime democrático, mas se deixarem uma pequena fenda temos que colocar a mão, para depois colocar o pé”, disse. “Na medida em que as pessoas ficam mais pobres, a única coisa que vai lhes restando é o voto, e o que os políticos precisam fazer é brigar para que existam as condições para exercer esse direito. É o mínimo que podemos fazer.” Comemorou também que o Governo de Nicolás Maduro, através de uma carta do chanceler Jorge Arreaza, convidasse formalmente a União Europeia e a Organização das Nações Unidas para uma missão de observação eleitoral. “Desde 2006 não fazia isto. Tomara que aceitem e dê tempo”, disse. “E isto não é legitimar”, acrescentou. “Ninguém está dizendo que vamos resolver a crise política e social com as eleições, o que eu digo que é se não lutarmos vamos nos arrepender.”

Na carta enviada ao Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, e ao Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, na terça-feira, 1º de setembro, o Governo venezuelano salienta que é “certo” que as “garantias acordadas serão consideradas como parte das medidas de confiança”, em relação às negociações que o chavismo realizou com a oposição liderada por Capriles, na contramão de Guaidó. “A confirmação de sua participação neste processo contribuirá favoravelmente para o clima de entendimento democrático entre os venezuelanos e constituirá um apoio europeu para os meios políticos, pacíficos e negociados que devem prevalecer para a resolução das disputas existentes”, conclui a carta enviada à Borrell. O chefe da diplomacia europeia ainda não tomou uma posição sobre esta questão.

A oposição venezuelana está fraturada em quatro grupos. Há o que reúne 27 organizações que respaldam a abstenção eleitoral, como propõe Guaidó; o dos chamados escorpiões, que representam partidos minoritários que pactuaram com Maduro; o de María Corina Machado, que ficou sozinha na estratégia de uma intervenção estrangeira; e o quarto, agora liderado por Capriles e que nas últimas horas insuflou otimismo em um amplo setor da oposição.

O político não disse se disputará diretamente uma vaga parlamentar pela plataforma A Força da Mudança, que criou em 2012 para captar o voto dos independentes na última luta contra Hugo Chávez, e que não foi cassada judicialmente, como ocorreu com outros partidos e organizações. “Não vamos deixar as pessoas sem opção, que tenham que escolher entre escorpiões ou Maduro, ou entre opositores vestidos por Maduro e Maduro. Vamos apoiar mulheres e homens que quiserem abrir caminho”, disse. “Não vamos dar a Assembleia Nacional de presente para Maduro. Convoco as pessoas a se mobilizarem.”

O Conselho Nacional Eleitoral prorrogou duas vezes o prazo para a inscrição de candidatos a deputados, e o último vence nesta sexta-feira. Também modificou as regras do jogo aumentando o número de cargos a eleger, dando mais peso à representação por lista que à nominal e suprimindo o voto direto dos indígenas. Capriles disse que melhorar as condições é parte da luta que empreenderá, mas insistiu em que a eleição só deve ocorrer se a pandemia permitir.

Capriles negou que a concessão de prisão domiciliar ao deputado Juan Requesens e os indultos a 110 perseguidos e presos políticos sejam parte de uma negociação eleitoral, embora ocorram neste contexto. “Juan não foi liberado a troco de nada, não foi uma troca”, disse. “Acredito na união, abro caminho, sou construtor. E não entendo como pode haver tanta miséria em algumas pessoas para dizerem a alguém que está na prisão que não saia.”

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