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Acusado de fraude, Steve Bannon deixa prisão após pagar fiança milionária

Estrategista de Trump e mais três pessoas foram acusados de enganar doadores e de desviar recursos arrecadados por meio do movimento 'We Build the Wall'

Steve Bannon durante entrevista na Itália, em 2018.
Steve Bannon durante entrevista na Itália, em 2018.Alessandro Bianchi (Reuters)
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Demitida por sua indiscrição, ex-assessora de Trump conta sua história na Casa Branca

O ex-conselheiro da Casa Branca Steve Bannon, arquiteto da campanha presidencial de Donald Trump há quatro anos e estrategista-chefe de seu Governo ao chegar à Casa Branca, foi detido nesta quinta-feira, junto com três outras pessoas, acusadas de fraude para doadores de uma campanha. Algumas horas depois, em audiência em uma corte de Nova York, o ex-guru de Trump se declarou inocente, pagou cinco milhões de dólares de fiança e foi liberado.

Os promotores federais alegaram na acusação que Bannon (Norfolk, Virginia, 1953) e os outros investigados “orquestraram um esquema para fraudar centenas de milhares de doadores”, como parte de uma campanha de arrecadação de fundos na Internet chamada We Build The Wall (”nós construímos o muro”), que conseguiu arrecadar mais de 25 milhões de dólares para construir o muro na fronteira com o México prometido por Donald Trump. Os réus, de acordo com a promotora interina de Manhattan, Audrey Strauss, “aproveitaram o interesse [de doadores] em financiar o muro da fronteira para obter milhões de dólares, sob o falso pretexto de que seriam gastos na construção”.

Steve Bannon foi um dos fundadores em 2007 do site de notícias Breitbart News, que ele mesmo definiu como “uma plataforma da direita alternativa”, movimento de extrema direita e nacionalismo branco que ajudou a trazer Donald Trump para a Casa Branca . Ele fazia parte do conselho da Cambridge Analytica, uma obscura empresa envolvida no escândalo de coleta de dados do Facebook para fins eleitorais, que implantou suas técnicas polêmicas na campanha do Brexit no Reino Unido e na campanha republicana de 2016. Naquele ano foi nomeado chefe da campanha de Trump e, quando chegou à Casa Branca, tornou-se estrategista-chefe do Governo. Ele foi demitido em agosto de 2017 e relatou o caos na Casa Branca de Trump no livro Fogo e fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump, de Michael Wolff. Desde então, ele tem apoiado candidatos conservadores que desafiam o establishment republicano nos Estados Unidos e tentou, sem tanto sucesso quanto em casa, organizar um movimento populista de direita na Europa.

Os outros três detidos são Brian Kolfage, um veterano da Força Aérea de 38 anos e da Flórida; o financista Andrew Badolato, 56, também da Flórida, e Timothy Shea, 49, do Colorado.

Os acusados, sustenta a promotora, prometeram aos doadores que seu dinheiro iria inteiramente para a construção do muro planejado para impedir a imigração ilegal do México. Mas a promessa foi falsa, afirma, e os investigados desviaram parte do dinheiro arrecadado. Conforme informou a Promotoria em comunicado à imprensa, Bannon embolsou mais de um milhão de dólares por meio de uma organização sem fins lucrativos que ele controlava, e Kolfage recebeu mais de 350.000 dólares.

“Suas doações terão um impacto direto”, prometia, ainda nesta quinta-feira, o site do We Build The Wall. A campanha se vende como o primeiro muro fronteiriço construído com recursos privados. Diz ter arrecadado ou comprometidos 25 milhões de dólares (140 milhões de reais), já ter 160 quilômetros de muro prontos para serem construídos e contar com 500.000 doadores. O projeto, afirmam, é “100% de construção norte-americana”. A empresa, com sede na Flórida, está isenta do pagamento de impostos federais, como determina uma carta do Departamento do Tesouro compartilhada em seu site. “Só poderemos construir este muro com sua ajuda e suas doações”, diz Kolfage, sentado em uma cadeira de rodas, num vídeo publicado no site. Kolfage perdeu as duas pernas e a mão direita em um ataque com um míssil no Iraque, em setembro de 2004, e foi condecorado depois disso.

O We Build The Wall permite, entre outras coisas, comprar por 100 dólares um tijolo para o muro onde estaria inscrito o nome do doador. “Você não durará para sempre, mas seu tijolo, sim”, afirma um funcionário em um vídeo. “Estou há duas décadas comprometido em tentar conter a imigração ilegal. Trabalhar com o We Build the Wall para levantar o primeiro muro construído de maneira privada foi a coisa mais significativa. Este muro impediu que uma enorme quantidade de imigrantes e drogas penetrassem nos Estados Unidos”, afirma, em outro vídeo no site, Kris Kobach, secretário de Estado do Kansas entre 2011 e 2019.

Os acusados, segundo o Ministério Público, davam o golpe em pessoas com visões afins. Naqueles que estavam dispostos a dedicar seu dinheiro à criação do muro na fronteira, uma obra que, com assessoria de Bannon, foi prometida pelo hoje presidente dos Estados Unidos. “Não só mentiram aos doadores; maquinaram para ocultar sua malversação de recursos criando faturas falsas e contas para lavar doações e ocultar seus delitos, sem mostrar respeito algum pela lei ou a verdade”, afirma o inspetor Philip Bartlett. “Este caso deve servir como advertência para outros estelionatários de que ninguém está acima da lei, nem sequer um veterano de guerra deficiente ou um milionário estrategista político.”

A detenção de Bannon, embora se deva a suas atividades depois da campanha presidencial, representa o segundo golpe nesta semana contra a equipe de pessoas que levou Trump à Casa Branca. Paul Manafort, a quem Bannon substituiu como chefe da campanha de Trump, foi apontado pelo Comitê de Inteligência do Senado, nas mãos dos republicanos, como uma das peças mais importantes na poliédrica operação realizada pela Rússia para interferir nas eleições presidenciais. O consultor político, diz o relatório do Senado, “representou uma grave ameaça de contrainteligência” devido à sua relação com o espião russo Konstantin Kilimnik. Essa relação, alegam os senadores, foi “o laço mais direto entre a campanha de Trump e os serviços de inteligência russos”.

O EL PAÍS solicitou a um porta-voz de Bannon uma manifestação sobre o caso, mas não obteve resposta.

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